Homilia diária — Ai de vós quando todos vos elogiam!
Olhar para além das aparências e a compreender o Reino de Deus
O Evangelho de hoje nos apresenta uma passagem que desafia a lógica do mundo e subverte os valores que, muitas vezes, guiamos nossa vida. Jesus, com palavras diretas e poderosas, proclama as bem-aventuranças, elevando os pobres, os famintos, os que choram e os perseguidos. Ao mesmo tempo, Ele adverte os ricos, os que estão fartos, os que riem e os que recebem elogios do mundo. Essa inversão de valores nos convida a olhar para além das aparências e a compreender o Reino de Deus com uma profundidade que vai muito além do que os olhos podem ver.
Porque vosso é o Reino de Deus
Jesus, ao dizer “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus!”, não está glorificando a pobreza em si, mas revelando um profundo mistério teológico: os pobres são aqueles que reconhecem sua total dependência de Deus.
A pobreza, aqui, não se refere apenas à falta de bens materiais, mas à consciência de que, sem Deus, nada somos. Os pobres de espírito são aqueles que se esvaziam de si, que não se apoiam em suas posses, poder ou status, mas confiam inteiramente na providência divina. E a esses, Jesus promete: “Vosso é o Reino de Deus.” Não é uma promessa para o futuro; é uma realidade presente. O Reino já pertence a quem se entrega nas mãos de Deus.
Ai de vós, ricos
Agora, vejamos o contraste: “Ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação!” Jesus não condena a riqueza em si, mas a falsa segurança que muitas vezes os bens materiais trazem. Quantas vezes nos iludimos, acreditando que nossas posses, nosso sucesso ou nossa influência podem nos proteger, ou nos dar felicidade duradoura? A verdadeira riqueza, nos lembra Jesus, está em Deus. Quando colocamos nossa confiança nas riquezas deste mundo, arriscamos perder de vista o que realmente importa. Nossa consolação se torna algo passageiro, efêmero.
Porque sereis saciados!
Jesus continua com uma promessa que, aos ouvidos do mundo, parece absurda: “Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis saciados!” A fome, aqui, é mais do que a necessidade física de alimento. Ela simboliza o anseio por justiça, por dignidade, por plenitude de vida.
Aqueles que vivem com essa fome de Deus, essa sede por algo maior, não ficarão desamparados. Deus é fiel e Ele saciará todas as nossas necessidades, no tempo certo. No entanto, Jesus adverte: “Ai de vós que agora tendes fartura, porque passareis fome!” Essa fartura refere-se a uma satisfação superficial, uma vida vivida apenas para o aqui e agora, sem abrir espaço para a sede de Deus. Uma fartura que não leva à vida eterna, mas ao vazio.
Porque havereis de rir!
Jesus também fala aos que choram: “Bem-aventurados vós que agora chorais, porque havereis de rir!” Aqui está o mistério da cruz. No Reino de Deus, o sofrimento e o choro não têm a palavra final. Aqueles que sofrem, aqueles que experimentam a dor, encontram em Cristo a promessa da alegria eterna. O riso que Jesus promete não é um riso momentâneo ou passageiro. É o riso da ressurreição, da vitória sobre a morte, da plenitude da vida em Deus.
Quando os homens vos odiarem
E, finalmente, Jesus nos fala da perseguição: “Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem… por causa do Filho do Homem!” Ser odiado, expulso, insultado e amaldiçoado não é algo que buscamos naturalmente. No entanto, Jesus nos lembra que seguir Seus passos, viver de acordo com o Evangelho, muitas vezes nos colocará em desacordo com o mundo. E, nesses momentos, Ele nos chama a alegrar-nos, porque grande será nossa recompensa no céu. A perseguição por causa de Cristo nos une aos profetas, àqueles que, ao longo da história, sofreram por proclamar a verdade de Deus.
Ai de vós quando todos vos elogiam
Mas Jesus não para aí. Ele também nos adverte: “Ai de vós quando todos vos elogiam!” Quantas vezes buscamos a aprovação dos outros, vivemos para agradar, para receber elogios? Jesus nos alerta que a verdadeira vida em Deus não é medida pelos aplausos do mundo. Os falsos profetas, aqueles que diziam o que as pessoas queriam ouvir, receberam muitos elogios, mas estavam longe da verdade.
Rezemos
Irmãos e irmãs, o que Jesus nos ensina hoje é uma reviravolta completa nos valores deste mundo. Ele nos convida a colocar nossa confiança, não nas riquezas, nos prazeres ou nas opiniões dos outros, mas em Deus. Ele nos lembra que o Reino de Deus pertence àqueles que se entregam inteiramente a Ele, que anseiam por Sua justiça, que choram com os que sofrem e que estão dispostos a enfrentar as dificuldades por causa do Evangelho.
Que possamos, hoje, abraçar essa mensagem com coragem. Que possamos viver, não buscando a glória deste mundo, mas a alegria verdadeira que vem de seguir os passos de Cristo, o Filho do Homem. Pois, afinal, essa é a única recompensa que dura para sempre.