Meditação – As enfermidades do pecado

Meditação – As enfermidades do pecado

 

 

 

 

 

 

As enfermidades do pecado

   Jazia uma multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos, os quais esperavam o movimento da água (Jo 5, 3).

 

 

 

Aqui se descrevem as enfermidades do pecado.

 

   I. Quanto à posição, pois jaziam prostrados, quer dizer, ao rés-do-chão pelos pecados; o que se faz pondo-se totalmente na terra. São Mateus diz que Jesus compadeceu-se delas (das multidões), porque estavam fatigadas e abatidas, como ovelhas sem pastor (Mt 9, 36). Os justos, ao contrário, não jazem, senão que estão de pé, voltados para o celestial. Eles vacilaram e caíram, mas nós (os justos) conservamo-nos de pé e permanecemos firmes (SI 19, 9).

 

   II. Quanto ao número, posto que são muitos. Por isso diz: multidão. E no Eclesiastes se lêem estas palavras: Os perversos dificultosamente se corrigem, e o número dos insensatos é infinito (Ecl 1, 15). E São Mateus acrescenta: Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela (Mt 7, 13).

 

   III. Quanto à disposição ou hábito dos enfermos; aqui se põem quatro coisas nas que incorre o homem pelo pecado:

 

   1° Pelo feito de submeter-se o homem às paixões dos pecados dominantes, torna-se enfermo, e quanto a isso, diz: de enfermos. Pelo que Cícero chama enfermidades da alma às paixões da mesma, como a ira, a concupiscência, etc. Por isso dizia o Profeta: Tem piedade de mim, Senhor, porque sou enfermo (S1 6, 3).

 

   2º Pelo domínio das paixões e sua vitória sobre o homem, cega-se a razão pelo consentimento, e neste sentido deve tomar-se a expressão: de cegos, quer dizer, pelos pecados, segundo aquilo do Livro da Sabedoria: A sua malícia os cegou. (Sb 2, 21), e do Salmo: Caiu fogo do alto, e não viram o sol (SI 57, 9).

 

   3º O homem enfermo e cego se faz inconstante em suas obras e está quase coxo. Por isso se expressa nos Provérbios: A obra do ímpio não subsiste (Pr 11, 18), E se lhes chama coxos segundo se lê no terceiro Livros dos Reis: Até quando claudicareis vós para dois lados? (3Rs 18, 21).

 

   4° Enfermo o homem dessa maneira, cego de entendimento, coxo nas obras, faz-se árido no afeto! porquanto resseca-se em toda a suavidade da devoção que pedia o Profeta dizendo: Como de banha e de gordura será saciada a minha alma (SI 62, 6). A este!!! se lhes chama paralíticos. Deles diz o Salmo: A minha garganta secou-se como barro cozido, e a minha língua pegou-se ao meu paladar, reduziste-me ao pó da morte (Sl 21, 16).

 

   Porém há outros, de tal modo afetados pela enfermidade do pecado, que não esperam o movimento da água, descansando em seus pecados, segundo aquilo da Escritura: Vivendo em grande guerra de ignorância, deram o nome de paz a tão grandes males (Sb 14, 22). Destes se diz: que se alegram por terem feito o mal e se regozijam na perversidade (Pr 2, 14). A razão é que não têm horror do pecado, nem pecam por ignorância ou debilidade, senão que por uma malícia evidente.

 

   Mas estes enfermos, como não pecam por malícia, não descansavam nos pecados, mas antes esperavam com desejo o movimento da água. Por isso acrescenta: esperavam.

 

-In Joan., V

 

 

 

 

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