Não podemos deixar que o medo de julgamentos ou a acomodação nos impeçam de agir. Liturgia diária — Evangelho de hoje — 6ª-feira, 01/11/24
Liturgia diária — Evangelho de hoje — 6ª-feira, 01/11/24
Irmãos e irmãs, o Evangelho de hoje nos apresenta uma cena familiar, mas carregada de tensão. Jesus está na casa de um dos chefes dos fariseus, num dia de sábado. E ali, no meio da refeição, os olhos estão todos voltados para Ele, cheios de expectativa, buscando um deslize. Não era um convite por hospitalidade; era uma armadilha. Parece até ironia, não? Um encontro que deveria ser de comunhão e partilha se transforma num palco de julgamento velado.
E, no meio desse ambiente tenso, aparece um homem com hidropisia. A hidropisia era uma doença que fazia o corpo inchar de água. Aquele homem carregava em si uma dor que não dava para esconder. Imagina a humilhação e o sofrimento que ele devia sentir, ainda mais num ambiente onde todos o julgavam não só pela doença, mas também pela suspeita de que algo “impuro” estivesse por trás. Mas ali, diante dele, estava Jesus.
E Jesus não se intimida. Ele olha para os mestres da Lei e pergunta diretamente: “A Lei permite curar em dia de sábado, ou não?” Silêncio. O que poderiam dizer? Eles sabiam que, pela letra da Lei, o sábado era sagrado, um dia de descanso absoluto. Mas, ao mesmo tempo, como justificar a crueldade de deixar alguém sofrendo só por causa de um regulamento? A pergunta de Jesus é um espelho incômodo: Vocês acham mesmo que Deus prefere o sofrimento ao amor?
E enquanto o silêncio pesa no ar, Jesus age. Ele toma o homem pela mão, cura-o e o despede. Veja como Ele não só cura, mas também o manda embora, como quem diz: Vá viver! Vá ser livre! Aquele homem não precisava mais carregar seu fardo, e muito menos ficar ali, sob o olhar acusador dos fariseus. Jesus não se limita a um milagre físico; Ele devolve dignidade, devolve vida.
E então, Jesus faz uma pergunta que é como um soco no estômago: “Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tira logo, mesmo em dia de sábado?” A resposta é óbvia. É claro que sim! Nenhum pai deixaria um filho preso num poço só porque era sábado. E eles sabiam disso. Mas, mesmo assim, se calaram. Porque, no fundo, era mais fácil se esconder atrás da Lei do que encarar a verdade: a Lei sem amor é vazia. E o silêncio deles ecoa até hoje. Quantas vezes, por medo de romper com tradições, deixamos de fazer o bem?
Meus irmãos, o Evangelho nos ensina uma verdade simples e profunda: o amor não tem dia nem hora. Jesus nos mostra que não há regulamentação ou norma que possa sobrepor-se à necessidade de amar e cuidar. A Lei é boa quando nos orienta para o amor, mas ela se torna uma prisão quando impede a misericórdia.
E veja como o gesto de Jesus é tão simbólico. Ele pega o homem pela mão. Não era um gesto distante, formal. Era um toque, um encontro. Jesus não cura de longe; Ele se aproxima, toca, faz questão de estar presente na dor do outro. Isso nos lembra que o amor verdadeiro não se pratica à distância. Precisamos nos aproximar dos que sofrem, estender a mão, mesmo quando isso pode nos colocar em situações desconfortáveis.
E essa é a grande lição: o amor é urgente. Se vemos alguém caído num poço, seja um filho, um amigo ou até mesmo um desconhecido, não podemos esperar. O amor não pode esperar até amanhã. Não há “dia certo” para fazer o bem, porque todo dia é tempo de amar. E, se deixarmos para depois, talvez seja tarde demais.
Então, hoje, o Evangelho nos desafia: o que estamos esperando para amar? Quantas vezes nos escondemos atrás de desculpas, atrás de regras ou conveniências, e deixamos de estender a mão a quem precisa? Não podemos deixar que o medo de julgamentos ou a acomodação nos impeçam de agir.
Jesus nos ensina que a verdadeira santidade não está em seguir regras ao pé da letra, mas em ser movido pela compaixão. Se uma regra impede o amor, ela precisa ser questionada. Porque, no final das contas, Deus é amor, e Ele nos chama a viver esse amor todos os dias, sem exceção. Amém.