LETRA “J” DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA
LETRA “J” DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA
JACULATÓRIA
é uma aspiração doce e fervorosa, repetida ou por palavras ou só mentalmente, para nos recordarmos da presença de Deus, do amor que Lhe devemos, e para nos conservarmos em união com Ele.
JAZIGOS
Nos cemitérios paroquiais, com autorização por escrito do Ordinário, ou do seu delegado, podem os fiéis construir, para si e para os seus, jazigos que, com licença do mesmo Ordinário, podem também alienar (C. 1209), mas as sepulturas dos jazigos devem ser benzidas (S. C. R).
JEJUM
O jejum, como a abstinência, são mortificações impostas pela Igreja aos seus súditos, em cumprimento da lei geral, pela qual todos temos de fazer penitência para nos livrarmos da condenação eterna (Ev. S. Luc. XIII).
A lei do jejum prescreve uma única refeição ao dia, mas não proíbe que se tome algum alimento de manhã e à noite, observando-se, quanto à sua quantidade e qualidade, o costume aprovado dos lugares; nem proíbe comer carne e peixe à refeição principal, quando não é dia de abstinência. Convém não confundir a abstinência com o jejum. (Ver a palavra ABSTINÊNCIA). Pode-se estar isento da obrigação do jejum sem por isso ficar dispensado da obrigação da abstinência (C. 1251).
Estão obrigados à lei do jejum todos os cristãos desde que completaram 21 anos, até ao começo dos 60 (C. 1254). Nos dias de jejum é permitido permutar a hora do jantar com a da consoada (C. 1251).
Durante o dia é permitido beber o que em geral é considerado como simples bebida, e em quantidade indeterminada: água, vinho, café, chá, etc., mas não o leite nem o caldo, que são considerados como alimentos. Uma vez quebrado o jejum, com ou sem culpa, o preceito já não obriga o resto do dia. Pelo contrário, nos dias de abstinência peca-se tantas vezes quantas se come carne sem motivo suficiente que isento do preceito.
A lei do jejum, como a da abstinência, obrigam gravemente, a não ser que haja dispensa ou impossibilidade física ou moral (doença, convalescença, trabalhos pesados, grande pobreza, etc.). Será pecado venial se a quantidade de alimentos, além da permitida, for pouca. Pela lei geral da Igreja (C. 1252) para os que não têm Indulto são dias só de abstinência: todas as sextas-feiras do ano; de abstinência e jejum: quarta-feira de Cinzas, sextas e sábados da Quaresma e das Quatro Têmporas, Vigílias de Pentecostes, Assunção de Nossa Senhora, Todos os Santos e Natal; só de jejum: todos os outros dias da Quaresma.
Pelo Indulto e Bula são dias só de abstinência: sextas-feiras do Advento e das Quatro Têmporas; de abstinência e jejum; sextas-feiras da Quaresma e as 4 vigílias acima mencionadas, podendo — e segundo alguns, devendo — a do Natal ser transferida para o sábado anterior; só de jejum; quartas e sábados da Quaresma.
Para compensar de um certo modo a dispensa ou redução de tantos dias de sacrifício do jejum e da abstinência concedida pelo Indulto a Santa Sé exige o sacrifício de uma esmola proporcionada aos rendimentos de cada um, e que se destina aos Seminários e Igrejas pobres.
No Sábado Santo, ao meio dia, nos dias santos de guarda, fora da Quaresma, e nas vigílias, quando são antecipadas, cessa a lei do jejum e da abstinência.
JEJUM EUCARÍSTICO
Além do jejum ordinário que é penitência, há o jejum eucarístico ou natural que consiste em não comer nem beber nada desde a meia noite até à comunhão. À meia noite pode-se contar indiferentemente segundo a hora solar, legal ou local.
Quebra-se o jejum eucarístico quando alguma coisa digerível, vinda do exterior, se toma a modo de comida ou bebida. Pode-se comungar sem estar em jejum: em perigo de vida para receber o sagrado Viático; para evitar a profanação das sagradas espécies; para evitar em certos casos o escândalo ou a infâmia.
Os doentes que estão há um mês de cama (e de que não se espera com certeza uma rápida convalescença dentro de cinco ou seis dias) podem comungar, segundo o prudente parecer do confessor, uma ou duas vezes por semana, ainda que antes tomem algum alimento líquido ou algum remédio, mesmo sólido.
A Santa Sé também dispensa, em casos particulares, por motivos graves do jejum eucarístico, que foi instituído pela Igreja, para inculcar nos fiéis maior respeito pela sagrada eucaristia.
JESUS CRISTO
é um Personagem histórico. É impossível negar a realidade da sua natureza humana. Mas não é somente homem; é Deus também, como Ele mesmo afirmou e como se demonstra por fatos históricos. Foi em Jesus Cristo que se realizarem as Profecias do Antigo Testamento relativas ao Messias, o Filho de Deus que se faria homem.
O seu nascimento e a sua morte foram acompanhados de prodígios que manifestam ser Ele o Senhor do Universo, dos homens e dos Anjos. A sua vida, e a sua doutrina, e os milagres que fez para provar que era Deus são a prova de que é realmente Deus.
A sua Ressurreição, os seus triunfos após a Ressurreição atraindo tudo a Si, como predissera, assim como a realização das suas profecias acerca da ruína de Jerusalém, da dispersão dos judeus, da pregação do seu Evangelho, da perpetuidade da sua Igreja, confirmam absolutamente a sua palavra, dizendo que era Deus.
É bem fundada a nossa fé afirmando que Jesus Cristo é Deus Filho feito homem.
Nasceu da Virgem Maria, em Belém; viveu na Palestina; morreu numa cruz, no Calvário; vive gloriosamente no Céu, e está sacramentado nos sacrários das nossas igrejas. Adoremos e amemos Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Deus feito homem por amor de nós.
Ouçamos a magnífica descrição que Lacordaire faz do divino Salvador:
«Há um homem a quem o amor guarda o túmulo, um homem cujo sepulcro não é só glorioso, como disse um profeta, mas cujo sepulcro é amado…
Há um Homem cuja recordação é sempre viva no coração de milhões de homens…
Há um Homem, cujos passos são seguidos, por uma porção considerável da humanidade, sem se cansar jamais… Há um Homem morto e enterrado há muito tempo, de que a mais pequena palavra continua a ecoar ainda no meio de nós, e produz mais do que amor, produz virtudes que frutificam no amor.
Há um Homem, há séculos ignominiosamente pregado numa cruz; e esse Homem, milhões de adoradores todos os dias O despregam do trono do seu suplício, ajoelham piedosamente diante d’Ele, prostram-se em vergonha no pó da terra, e aí, por terra, beijam-lhe com indizível amor os pés ensanguentados.
Há um Homem, flagelado, morto e crucificado, que todos os séculos adoram na glória dum amor que nada faz desfalecer, que encontra n’Ele a paz, a honra, a alegria e até o êxtase. Há um Homem perseguido no suplício e no túmulo por um ódio que se não extingue, — o qual, pedindo apóstolos e mártires a toda a posteridade, encontra apóstolos e mártires no seio de todas as gerações.
Há um Homem, enfim, o único que fundou indestrutível reino de amor na terra: esse Homem, sois vós, — é Jesus, vós que me quisestes batizar, ungir e consagrar no vosso amor, e cujo Nome, só de O pronunciar, me abre o mais íntimo das entranhas e me arranca este grilo de fé e amor que a mim mesmo me perturba».
JOGO
é a combinação que os jogadores fazem de entregarem um certo preço, como prêmio, ao que ganhar. É honesto e lícito: como entretenimento ou distração de espírito, com pequenas somas de dinheiro, observando as regras do jogo, e com parceiros iguais. Sem estas condições é ilícito, favorece a ociosidade e a ambição, e causa a ruína de fortunas.
JUBILEU
é uma Indulgência plenária, por meio da qual se pode receber plena remissão da pena temporal devida pelos nossos pecados. O Papa concede um Jubileu para toda a Igreja de 25 em 25 anos (e só ele o pode conceder), indicando na Bula ou documento de concessão as condições a que os fiéis devem satisfazer para lucrarem essa indulgência. Além do Jubileu ordinário de 25 em 25 anos, o Papa pode conceder um Jubileu extraordinário, em qualquer tempo, por motivo de uma causa grave.
JUGO DE CRISTO
é a sua Religião. É ela que nos ensina e leva à prática da mansidão e da humildade. Quem pratica estas virtudes conserva a paz na sua alma e não perturba a paz do próximo. Para quem vive em paz, as cruzes que acompanham a vida são suaves; Deus alivia o seu peso. Foi Jesus que disse: «tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas, porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve» (Ev. S. Mat. XI, 29 30).
JUÍZO FINAL
é o julgamento que Deus fará de todos os homens, no fim do mundo.
Nesse momento cada um pode ver tudo o que está na consciência dos outros, pois diz o Apóstolo: «Virá o Senhor, o qual não só porá às claras o que se acha escondido nas trevas, mas descobrirá os desígnios dos corações» (Ep. I Cor. IV, 5).
A Sagrada Escritura previne-nos de como será feito o julgamento final. Serão todas as gentes congregadas diante de Jesus Cristo, que separará uns dos outros como o pastor separa os cabritos das ovelhas, e assim porá as ovelhas à direita, e os cabritos (os pecadores) à esquerda. Então dirá o Rei aos que hão de estar à sua direita (que são os justos): «Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino (celeste) que vos está preparado desde o princípio do mundo». Então dirá também aos que estão à esquerda: «afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos». E irão estes para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna (Ev. S. Mat. XXV, 32, 34, 41, 46).
Tal é o fim de todo o homem que vem a este mundo, seja ele quem for, queira ou não queira, creia ou não creia.
JUÍZO PARTICULAR
é aquele a que a alma se há de sujeitar imediatamente após a morte, para lhe ser determinado o lugar da sua morada eterna. Assim o ensina São Paulo dizendo: «Está estatuído que o homem morre uma só vez, e que depois se lhe segue o julgamento» (Ep. Hebr. IX, 27), «todos devemos comparecer diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo cada um tiver feito bem ou mal» (Ep. II Cor. V, 10).
O julgamento é mental e momentâneo. A alma ao separar-se do corpo, encontra-se com Deus, que está em toda a parte; vê em si mesma todos os atos da sua vida, que estão todos presentes a Deus; Deus faz-lhe conhecer a sentença que merece, e a alma entra no lugar do seu justo destino: ou no purgatório, ou no céu ou no inferno.
JUÍZO TEMERÁRIO
é a firme convicção, sem razão suficiente, do pecado ou do vício do próximo. É pecado contra a justiça, porque ofende, embora interiormente, a fama do próximo. Jesus Cristo previne-nos contra o juízo temerário, dizendo: «Não queirais julgar segundo as aparências, mas julgai segundo a reta justiça (Ev. S. Jo. VII, 24).
Não devemos julgar os outros sem estarmos, ao menos moralmente, certos de que é justo o nosso juízo.
O juízo temerário procede de alguma destas causas: da maldade do que julga, do ódio, da vingança, ou da experiência da fragilidade humana. Quem não tem autoridade para julgar não se constitua juiz do seu próximo. As dúvidas que se nos apresentam sobre as ações do próximo devem ser julgadas favoravelmente.
JUÍZOS DO MUNDO
são contrários aos juízos do Evangelho, e por isso conduzem ao erro e ao pecado. Não nos podem tornar melhores do que somos, e tornam-nos piores se os seguimos. É dever do cristão desprezar o temor de que o mundo o acuse de espírito fraco, de hipócrita, do que quiser, por praticar rigorosamente a Religião, e deve lembrar-se e recordar aos outros que só lhe importam os juízos de Deus.
JURAMENTO
é a invocação do nome de Deus em testemunho e confirmação daquilo que se diz ou que se promete. A dignidade do juramento é afirmada por São Paulo com estas palavras: «Os homens juram pelo que é maior do que eles, e o juramento é a maior segurança que podem dar para terminar todas as suas contendas (Ep. Hebr. IV, 16).
Mas não é lícito jurar sem verdadeira necessidade, e, quando a houver, só se pode jurar com verdade, com reverência pelo nome de Deus, e em coisa honesta. Quando se faz com juramento a promessa de uma coisa honesta fica-se com a obrigação de cumpri-la.
O juramento feito por violência ou por medo grave, vale, mas pode ser anulado pelo Superior eclesiástico (C. 1317). Em muitos casos as fórmulas de juramento não são um verdadeiro juramento, porque são proferidas levianamente, ou por hábito inveterado e sem reflexão.
JURISDIÇÃO
é o poder de governar. O Papa tem jurisdição em toda a Igreja e sobre todos os membros da Igreja. Exerce a sua jurisdição por meio dos Cardeais, dos Núncios, e de Legados seus. Os Bispos têm jurisdição sobre os fiéis das Dioceses que o Papa lhes confia. Os Párocos só têm jurisdição delegada pelos Bispos, de quem são auxiliares, para a poderem exercer sobre os súditos que os Bispos lhes determinam. Os superiores das Ordens religiosas têm jurisdição sobre súditos das suas respectivas Ordens.
JUSTIÇA
é uma virtude moral, cardeal, que inclina a vontade do homem a dar a outrem o que lhe é devido. Difere da caridade no seguinte: a caridade considera os homens como unidos entre si, devendo auxiliar-se mutuamente; a justiça considera-os como distintos uns dos outros, tendo cada um direitos que os outros não podem violar. São de quatro espécies os bens do homem, que os outros devem respeitar:
a) os bens da vida;
b) os bens da honra, da reputação, da dignidade;
c) o bem da castidade;
d) os bens da fortuna.
O fundamento da justiça é o domínio ou o direito que se tem sobre uma coisa, da qual se pode dispor como própria. Pratica a verdadeira justiça para com Deus aquele que é sempre fiel cumpridor dos Seus Mandamentos, que satisfaz aos próprios propósitos e é grato a Deus pelos benefícios recebidos, e que pratica todas as ações com o fim de glorificar a Deus. Pratica a verdadeira justiça para com o próximo aquele que nunca faz a outrem o que justamente não queria que lhe fizessem a si mesmo, e que faz em favor do próximo aquilo que justamente queria que lhe fizessem a si mesmo.
JUSTIFICAÇÃO
consiste na remissão do pecado mortal pela infusão da graça habitual. É a passagem do estado de pecado mortal ao estado de graça de Deus, de sorte que a alma que recebe a graça santificante ou habitual fica completamente transformada como se fosse uma alma nova.
Assim o indica o Apóstolo São João, dizendo: «Se confessarmos os nossos pecados, fiel é (Deus) e justo para nos perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda a iniquidade» (I Ep. S. Jo. 1′, 9). Purificados de toda a iniquidade, ficamos em estado de entrar no Céu, como ensina o Apóstolo São Paulo, dizendo: «Onde abundou o pecado superabundou a graça, para que assim como o pecado reinou para a morte, assim também reine a graça pela justiça para a vida eterna, por meio de Jesus Cristo Senhor nosso» (Ep. Rom. XX, 31).
O homem justificado não pode julgar-se seguro de não perder a graça que o justificou; pode perdê-la, e perde-a logo que comete um pecado mortal. Jesus nos faz esta prevenção: «Vigiai e orai para não cairdes em tentação» (Ev. S. Mat. XXVI, 41). O que o Apóstolo São Paulo diz por estas palavras: «Aquele que julga estar seguro acautele-se para não cair» (Ep. 1 Cor. X, 12).
Não troquemos a graça de Deus pela vileza dos prazeres sensíveis.