Homilia | “Satanás será destruído” | São Marcos 3, 20-35
Caros irmãos e irmãs,
Hoje nos reunimos para refletir sobre o Evangelho de Marcos, capítulo 3, versículos 20 a 35. Esta passagem nos oferece uma visão rica e profunda da missão de Jesus e dos desafios que Ele enfrentou, bem como os ensinamentos preciosos que podemos extrair para nossas próprias vidas espirituais.
Imaginemos a cena inicial: Jesus e seus discípulos retornam para casa após um período intenso de ministério. Eles são seguidos por uma multidão tão grande que mal têm tempo para comer. Essa imagem nos convida a refletir sobre o magnetismo de Jesus, sua capacidade de atrair pessoas de todas as esferas da vida em busca de cura, orientação e esperança. Em meio a essa multidão, podemos ver a fome espiritual e o desespero das pessoas, buscando em Jesus respostas para suas aflições.
Ele expulsa demônios
No entanto, não são apenas seguidores bem-intencionados que se aglomeram ao redor de Jesus. Entre eles, estão os críticos, os céticos e os opositores. Os mestres da Lei, vindos de Jerusalém, lançam uma acusação grave e insidiosa: dizem que Jesus está possuído por Belzebu e que é pelo príncipe dos demônios que Ele expulsa demônios. Aqui, vemos uma profunda ironia. Jesus, a personificação do bem, é acusado de ser agente do mal. Isso nos faz pensar em como muitas vezes, na história e em nossas vidas pessoais, a verdade é distorcida por aqueles que se sentem ameaçados por ela.
Os perigos da divisão
Jesus, com sua sabedoria divina, responde com uma parábola: “Como é que Satanás pode expulsar a Satanás?” Se um reino se divide contra si mesmo, não pode subsistir. Essa resposta nos ensina sobre a lógica espiritual e a coerência do Reino de Deus. Um reino dividido, uma família dividida, uma pessoa dividida internamente, estão condenados ao fracasso. Jesus nos chama a refletir sobre a importância da unidade – na igreja, na família, em nosso próprio coração. Ele nos alerta sobre os perigos da divisão e da discórdia, que minam a fundação de qualquer comunidade ou indivíduo.
Paz interior
A seguir, Jesus utiliza uma metáfora poderosa: “Ninguém pode entrar na casa de um homem forte para roubar seus bens, sem antes amarrá-lo.” Esta imagem nos mostra a necessidade de sermos espiritualmente fortes e vigilantes. Devemos reconhecer e amarrar as forças malignas que tentam invadir nossas vidas, para que possamos proteger os tesouros que Deus nos deu – nossa fé, nossa paz interior, nossa relação com Ele.
Abertos à ação do Espírito Santo
Chegamos então ao versículo que muitas vezes causa perplexidade: “Mas quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca será perdoado.” Para entender isso, devemos considerar o contexto. Blasfemar contra o Espírito Santo significa rejeitar deliberadamente a obra de Deus em nossas vidas. É fechar-se totalmente à Sua graça, recusando-se a aceitar Seu perdão e amor. Isso não é uma condenação ao desespero, mas um alerta severo para permanecermos abertos à ação do Espírito Santo, permitindo que Ele nos transforme e nos guie.
Não endurecer nossos corações
Jesus também fala sobre o perdão divino de uma maneira que nos consola: “Tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados, como qualquer blasfêmia que tiverem dito.” Esta promessa nos enche de esperança. Deus é infinitamente misericordioso e está sempre disposto a perdoar aqueles que se arrependem. No entanto, devemos ter cuidado para não endurecer nossos corações contra o Espírito Santo, pois isso nos impede de receber o perdão que Deus tão generosamente oferece.
A vontade de Deus
Por fim, vemos a chegada da mãe e dos irmãos de Jesus. Eles o procuram, mas Jesus, ao olhar para aqueles que estavam ao seu redor, diz: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” Esta declaração de Jesus redefine as fronteiras da família. Ele nos convida a entender que, em Seu Reino, a verdadeira família é formada por aqueles que fazem a vontade de Deus. Isso nos chama a um senso de comunidade espiritual, onde somos todos irmãos e irmãs, unidos pela fé e pelo compromisso com a obra de Deus.
O Reino de Deus
Queridos irmãos e irmãs, que este Evangelho nos inspire a buscar a unidade, a sermos vigilantes contra as divisões internas e externas, e a permanecermos abertos à graça do Espírito Santo. Que possamos viver como uma verdadeira família espiritual, fazendo a vontade de Deus em todas as nossas ações. Que sejamos renovados em nossa fé e fortalecidos em nosso compromisso com o Reino de Deus.
Amém.
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