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Diante da cruz, encontramos sentido para o sofrimento e para a própria morte. Jesus não fugiu da cruz, mas a abraçou para nos salvar. Homilia para missa de corpo presente
Homilia para missa de corpo presente
A celebração da Missa de Corpo Presente é um momento de profunda fé e esperança, no qual a Igreja confia a alma do falecido à misericórdia de Deus. Em meio à dor da despedida, a homilia tem o papel de consolar os enlutados, iluminar a realidade da morte à luz da fé e reafirmar a esperança na ressurreição prometida por Cristo.
A morte, para muitos, pode parecer o fim de tudo, um encerramento definitivo. No entanto, para nós cristãos, ela não é o término, mas uma passagem para a eternidade. Como nos recorda Jesus no Evangelho de João: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11,25). Estas palavras, ditas por Cristo antes de ressuscitar Lázaro, são uma promessa de que a morte não tem a última palavra. Acreditamos que aquele que partiu agora está diante de Deus, e nossa oração por ele se transforma em um ato de amor e intercessão.
A Sagrada Escritura está repleta de ensinamentos sobre a transitoriedade da vida e a certeza da ressurreição. No Livro da Sabedoria, encontramos um belo trecho que nos assegura: “As almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os atingirá” (Sb 3,1). Esta verdade deve ser uma fonte de conforto para todos os que hoje choram a perda de um ente querido. Deus acolhe cada um de nós como um Pai amoroso e fiel, que jamais nos abandona.
Neste momento de despedida, podemos nos perguntar: como vivemos nossa fé? Como nos preparamos para o dia em que também seremos chamados à presença de Deus? A Igreja nos ensina que a morte não deve ser temida, mas encarada com confiança, pois sabemos que Cristo venceu a morte. São Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios, proclama com força: “Onde está, ó morte, a tua vitória?” (1Cor 15,55). O apóstolo nos lembra que, unidos a Cristo, não estamos entregues ao desespero, mas sim à esperança de um novo encontro na eternidade.
A dor da separação é real e legítima. Jesus, ao saber da morte de Lázaro, chorou (Jo 11,35). Isso nos mostra que o sofrimento diante da morte não é sinal de falta de fé, mas de amor. O luto é um processo necessário, no qual devemos confiar em Deus e permitir que Ele nos console. Devemos lembrar que não estamos sozinhos: a Igreja, através de sua oração e sacramentos, nos acompanha e fortalece em tempos difíceis.
Ao recordarmos a vida daquele que partiu, somos convidados a agradecer pelo dom que ele foi para nós. Cada pessoa que passa por nossas vidas deixa marcas, ensina-nos algo, e é importante que valorizemos esses momentos. Se há algo a perdoar, perdoemos; se há algo a agradecer, agradeçamos. A melhor forma de honrar aqueles que amamos é viver com autenticidade e fé, mantendo viva a chama da esperança.
Por isso, a celebração da Missa de Corpo Presente não é apenas um adeus, mas uma súplica a Deus para que receba essa alma em Seu Reino. Como nos ensina a tradição da Igreja, nossa oração pelos falecidos tem um valor imenso, pois expressa nosso amor e confiança na misericórdia divina. O Catecismo da Igreja Católica nos lembra: “Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos falecidos e ofereceu sufrágios em seu favor” (CIC 1032).
Diante da cruz, encontramos sentido para o sofrimento e para a própria morte. Jesus não fugiu da cruz, mas a abraçou para nos salvar. E hoje, diante do altar, unimos nossa dor ao sacrifício de Cristo, pedindo que nosso irmão (ou irmã) seja acolhido(a) na glória eterna.
Que Nossa Senhora, Mãe da Esperança, nos ensine a confiar no amor de Deus e nos sustente neste momento de dor. Que o Espírito Santo console os corações enlutados e fortaleça a fé de cada um de nós. E que possamos seguir nossa caminhada terrena na certeza de que, um dia, nos reuniremos novamente no Reino dos Céus, onde não haverá mais choro, nem dor, mas somente a plenitude da vida em Deus. Amém.