Homilia — Mt 14,1-12 — Missa de sábado, 02/08/25
Homilia — Mt 14,1-12 — Missa de sábado, 02/08/25
Amados irmãos, o Evangelho de hoje nos apresenta um episódio carregado de dor e violência: o martírio de João Batista. Herodes, movido pelo medo de perder seu poder e manipulado por paixões desordenadas, manda prender o profeta, e, devido a um juramento impensado, manda cortar-lhe a cabeça. Uma cena crua, que parece pertencer mais ao mundo da política e da intriga do que ao da fé, no entanto, está aqui no Evangelho, porque também faz parte da história da salvação.

A voz que clamava no deserto
João Batista foi a voz que clamava no deserto, o homem que apontou para o Cordeiro de Deus e preparou os caminhos do Senhor. Mas agora, sua voz é calada. Ou melhor, parece ser calada. Porque, na verdade, a morte de um profeta nunca é o fim da profecia; é a semente que gera novos testemunhos.
O texto termina com uma cena que deve tocar profundamente nosso coração:
“Vieram os discípulos de João, pegaram o corpo e o sepultaram. Depois, foram contar tudo a Jesus.”

Significado teológico
Esta frase é pequena, mas carrega um significado teológico e espiritual imenso.
Primeiro, vemos a dor humana. Os discípulos perdem seu mestre, aquele que os guiou à conversão. Eles o sepultam — um ato de respeito, de amor, de fidelidade até o fim. Todos nós sabemos o que significa perder alguém importante; sabemos o que é carregar um corpo, sepultar um pedaço da nossa história. O Evangelho não esconde a dor. A fé cristã não é anestesia contra a morte, mas encontro com Alguém maior que ela.
Em seguida, vem a frase decisiva: “foram contar tudo a Jesus.” Aqui está o núcleo espiritual deste texto: quando tudo parece ruir, quando as forças faltam, quando a perda é irreparável, o lugar para onde devemos ir é sempre Jesus. Eles não se fecham no desespero, não se deixam vencer pela revolta, não se tornam cínicos. Eles vão até o Senhor, com o coração ferido, e contam tudo.
Este gesto é, na prática, oração. Rezar, no fundo, é isso: ir até Jesus e contar tudo — a alegria, a dor, a confusão, a raiva, a esperança. Muitas vezes, achamos que precisamos chegar diante de Deus “bem resolvidos”, com palavras bonitas. Mas este texto nos ensina: o que Jesus espera é que levemos tudo como está, sem filtros, sem máscaras.

A resposta de Jesus
E qual é a resposta de Jesus? O Evangelho não a registra neste trecho, mas sabemos de toda a história: Jesus tomará para si a missão do Batista, Ele mesmo enfrentará os Herodes de sua época e será também morto. O que isso nos ensina? Que Deus não nos livra sempre do sofrimento, mas sempre entra nele conosco. O nosso Redentor não observa a dor de longe — Ele a assume, Ele a carrega, Ele a transforma.
Catequeticamente, este Evangelho nos lembra três coisas fundamentais:
- O seguimento de Cristo tem um preço. João perdeu a vida por fidelidade à verdade. A fé não é caminho de conforto, mas de coragem.
- A morte dos justos não é derrota. João cumpriu sua missão até o fim. Sua vida e sua morte apontam para Cristo, que vence a própria morte.
- Em toda dor, precisamos correr para Jesus. É n’Ele que a perda encontra sentido e a esperança se renova.

O que fazer?
Portanto, irmãos e irmãs, talvez cada um de nós tenha algo a sepultar hoje: um sonho perdido, uma amizade rompida, um ente querido que partiu, uma esperança ferida. O que fazer? Ir até Jesus e contar tudo. Não apenas um resumo, não apenas o que achamos “espiritual”, mas tudo: nossas lágrimas, nossas perguntas, nossa sede de sentido.
Porque, no fim, a última palavra não é do Herodes que mata. A última palavra é de Cristo, que ressuscita. Amém.