Homilia — Mt 12,14-21 — Missa de sábado, 19/07/25
Homilia — Mt 12,14-21 — Missa de sábado, 19/07/25
Amados irmãos, o Evangelho de hoje revela um momento decisivo no ministério de Jesus: a tensão entre o silêncio e o anúncio, entre o conflito e a missão, entre a rejeição e a esperança. Os fariseus tramam a morte do Senhor. O coração religioso, fechado à misericórdia, já não suporta a liberdade do Reino. Diante disso, Jesus não revida. Ele se retira. Mas essa retirada não significa derrota. Ele recua para continuar curando. Ele sai do alcance da violência, mas não do alcance do povo. O silêncio d’Ele não é fuga — é fidelidade ao projeto do Pai.
Por que o silêncio?
Logo em seguida, o evangelista nos dá uma ordem enigmática: “E ordenou-lhes que não dissessem quem Ele era”. Por que o silêncio? Por que conter o clamor das multidões, se a missão era anunciar o Reino? Porque Jesus revela-se com o tempo da cruz, não com a pressa da fama. O caminho da salvação não segue os ritmos da propaganda, mas da obediência. Ele não se impõe — Ele se oferece. E esse modo discreto, quase escondido, já havia sido anunciado pelos profetas.
Mateus, então, nos conduz ao coração da profecia de Isaías. E ali, encontramos um retrato espiritual de Cristo que rompe com todos os estereótipos de poder.
“Eis o meu servo, que escolhi; meu amado, no qual coloco minha afeição”. Deus não envia um dominador, mas um servo. E não qualquer servo: um amado, um portador do Espírito, um instrumento do direito. Mas esse direito não nasce da força. Ele brota da verdade, da mansidão, da perseverança silenciosa. Cristo não impõe o bem — Ele o encarna. Ele convence não por gritos, mas por presença. Ele transforma sem romper o frágil, sem apagar o que ainda resiste.

“Não quebrará o caniço rachado, nem apagará o pavio que ainda fumega”
Essa frase nos revela uma face comovente do coração de Jesus, uma vez que Ele vê o que ainda resta, e não o que falta, Ele acolhe a centelha, e se curva diante da fragilidade humana com uma delicadeza que salva. Se você se sente rachado, prestes a ceder, se sente como um pavio que quase se apaga, então saiba: é exatamente aí que o Senhor quer tocar.
Cristo não abandona os fracos, mas os sustenta. Ele não rejeita aqueles que vacilam, pelo contrário, os levanta, e tampouco ignora os confusos, os doentes ou os angustiados, antes, caminha ao lado deles até que a justiça prevaleça. Não uma justiça fria e legalista, mas aquela que restaura a dignidade de cada pessoa, que traz de volta a justiça perdida e reconcilia o mundo com Deus.
E tudo isso, Jesus faz sem gritar, pois não levanta a voz nas praças, nem disputa espaço com os violentos. Ele permanece fiel à sua identidade: servo, manso, cheio do Espírito. Ele nos mostra que a autoridade verdadeira não precisa se afirmar — basta que seja vivida.
Em seu nome, as nações depositarão sua esperança
Cristo não veio somente para Israel, mas para todos. A esperança do mundo não repousa em ideologias, em líderes, em estruturas. A esperança do mundo repousa em um Nome: Jesus. Porque só Ele ama até o fim. Só Ele sustenta os fracos e cura com verdade. Somente Ele dá sentido ao sofrimento sem negar a dor.
Amados irmãos, o que fazemos com esse retrato de Cristo? Será que nós O seguimos apenas quando Ele parece forte, quando os sinais são visíveis e os milagres são evidentes? Ou será que estamos dispostos a segui-lo também no silêncio, no retiro, na mansidão que cura em segredo? O Evangelho de hoje nos convida a imitá-lo: ser servos, não senhores; sustentar, não julgar; acender, não apagar.
Que hoje, ao contemplar o Servo do Senhor, nós escolhamos o caminho da esperança fiel, e também que a nossa força venha da mansidão. Mais ainda: que nossa fé abrace o silêncio e a nossa caridade cure sem gritar! Porque em Seu nome — e em nenhum outro — o mundo ainda pode esperar. Amém.