De graça recebestes, de graça deveis dar! – Homilia — Mt 10,7-15 — Missa de 5ª-feira, 10/07/25
Homilia — Mt 10,7-15 — Missa de 5ª-feira, 10/07/25

Neste trecho do Evangelho segundo Mateus, Cristo forma o coração do missionário. Ele não envia somente com uma tarefa, mas com um espírito. Não apenas com uma mensagem, mas com uma postura. Toda a força da missão cristã repousa nessa palavra-chave que resume o Evangelho: “De graça.” É de graça que se recebe, é de graça que se deve dar. Eis aqui o princípio mais profundo da evangelização — e o critério mais exigente da autenticidade apostólica.
Logo no início, Jesus dá a ordem: “Anunciai: o Reino dos Céus está próximo.” Este anúncio não é um lembrete piedoso, mas uma declaração profética. Assim, o Reino não é uma promessa vaga nem um ideal ético — é uma realidade que se manifesta com a presença de Cristo. Portanto, anunciar o Reino é tornar presente Aquele que é o próprio Reino encarnado. É carregar Deus onde Ele ainda não é reconhecido.
Por isso, o anúncio vem acompanhado de sinais: curai, ressuscitai, purificai, expulsai. Esses verbos não são somente milagres visíveis. São expressões da ação redentora de Deus que reverte a morte, toca o excluído, liberta o oprimido e restaura o que estava perdido. O Reino se reconhece por seus frutos: onde Ele chega, a morte perde força. Evangelizar não é falar de Deus com palavras, mas com atos concretos de restauração.
Então Jesus declara:
“De graça recebestes, de graça deveis dar.”

Exigência espiritual
Esta frase desarma todo espírito de comércio, todo cálculo de interesse, toda tentação de transformar o dom em posse. O que recebemos — fé, salvação, dignidade, missão — não nos pertence. Não é capital acumulado, mas graça partilhada. Se evangelizamos por obrigação ou buscando benefício, não anunciamos mais Cristo, mas a nós mesmos.
Por isso Ele também diz: “Não leveis ouro, nem prata, nem sacola, nem sandálias.” O despojamento não é estética de pobreza — é exigência espiritual. Quem carrega demais, confia nos próprios meios. Mas quem vai vazio, depende totalmente da providência. O missionário é sustentado não por reservas, mas pela confiança. E mais: o Evangelho só é acreditado quando é oferecido sem preço. Quando é dom puro, sem interesses ocultos.
Em seguida, Jesus ensina a disciplina da hospitalidade. Não se deve mudar de casa em busca de conforto. Não se deve forçar acolhida onde ela não é desejada. A paz que o missionário carrega é real, eficaz, mas não violenta a liberdade. Se há quem a receba, ela repousa. Se não, ela retorna. E quando rejeitados, os discípulos devem seguir adiante, sacudindo a poeira — sem rancor, mas com clareza. O Evangelho é oferta, não imposição. E rejeitá-lo tem consequências.
A lógica do Reino
Por fim, Jesus adverte: “No dia do juízo, Sodoma e Gomorra serão tratadas com menos dureza do que aquela cidade.” Isso não é sede de vingança, mas afirmação da gravidade da recusa. O pecado de Sodoma era contra a moral; o pecado de quem rejeita o Evangelho é contra a luz. Pois, ao recusar a presença dos enviados de Cristo, recusa-se o próprio Cristo.
Amados irmãos, a nós também foi confiada esta missão. Somos, como os discípulos, portadores de um tesouro que não é nosso, mas nos foi confiado para ser partilhado. E só há um modo legítimo de fazê-lo: com gratuidade. A lógica do Reino é oposta à do mundo. Não acumulamos, cobramos e tampouco negociamos. Doamos.
Hoje, perguntemo-nos: estamos anunciando o Reino com espírito de gratuidade? Ou esperamos aplauso, retribuição, prestígio? Evangelizamos com despojamento? Ou ainda contamos com nossos próprios meios e seguranças?
Que o Senhor purifique nossa intenção. Que nos ensine a dar como recebemos: gratuitamente, generosamente, humildemente. Pois só assim nosso anúncio será verdadeiro. E só assim seremos reconhecidos como operários da messe.