Homilia do Cardeal Burke na sua primeira Santa Missa pública

Homilia do Cardeal Burke

Homilia do Cardeal Burke na sua primeira Santa Missa pública

 

 

Homilia do Cardeal Burke na sua primeira Santa Missa pública

 

 

Dezembro 14, 2021

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ámen.

O meu coração está cheio da mais profunda gratidão a Deus Omnipotente que, desde 10 de Agosto último, me conduziu, através de um grande sofrimento que aparentemente teria terminado em morte, a oferecer, hoje, a Santa Missa Pontifical de Nossa Senhora no Sábado do Advento, segundo o mais antigo uso do nosso amado Rito Romano. Ao agradecer a Deus por me ter conservado em vida, agradeço também a Nossa Senhora de Guadalupe, a Virgem Mãe de Deus, e a São José, seu Verdadeiro e Castíssimo Esposo, e a companhia de santos que intercederam tão poderosamente por mim durante o meu tempo de provação. Quando recuperei a consciência depois de passar nove críticos dias num ventilador, fiquei cheio do conhecimento de que Nossa Senhora de Guadalupe me tinha constantemente segurado nos seus braços e mantido unido no coração com o glorioso Coração trespassado do seu Divino Filho, o Sacratíssimo Coração de Jesus.    

Também tomei imediatamente conhecimento dos inúmeros fiéis que rezavam e ofereciam sofrimentos a Nosso Senhor, durante o tempo da minha doença e recuperação, pedindo-Lhe que me curasse e me desse forças. Embora tenha sido abençoado por ter excelentes cuidados médicos, que nunca esquecerei nas minhas gratas orações, foi Deus que respondeu a essas muitas orações e aceitou esses muitos sofrimentos, mantendo-me em vida e ajudando-me a recuperar as minhas forças. Ao agradecer a Deus hoje, ofereço gratas orações por todos os que imploraram a Nosso Senhor em meu nome, invocando a intercessão de Nossa Senhora, de São José e de todos os Santos.         

Ao oferecer a Santa Missa na Igreja do Santuário, apresso-me a expressar a minha mais profunda gratidão ao Padre Paul Check, Director Executivo, e ao pessoal do Santuário por todo o encorajamento e apoio dado a mim e à minha família durante os dias mais críticos da minha doença e recuperação. Também expresso a minha gratidão ao Oratório de Santa Maria em Wausau e, em particular, ao Cónego Aaron Huberfeld, Reitor do Oratório, ao Cónego Heitor Mateus, seu Vigário, e ao pessoal do Oratório por me terem acolhido durante os quase três meses completos da minha reabilitação. Agrada-me muito que o Coro do Oratório de Santa Maria ofereça a Sagrada Música para a Missa Pontifical de hoje e que tantos fiéis do Oratório estejam presentes.      

Estou profundamente grato ao Instituto de Cristo Rei e Sumo Sacerdote, do qual os Cónegos Huberfeld e Mateus são membros e do qual o meu secretário pessoal, o Cónego Stephen Michael Sharpe, é membro, pela assistência mais fiel e generosa que me foi prestada de tantas formas. Monsenhor Gilles Wach, Prior Geral do Instituto, e Monsenhor Michael Schmitz, seu Vigário-Geral, não se pouparam a nada para me prestarem a assistência do Instituto. Agradeço também à Madre Maria Regina, minha antiga secretária e agora Superiora das Filhas da Obra de Maria, por tudo o que as suas Irmãs e ela tão generosa e competentemente fizeram para me ajudar. Que Deus recompense abundantemente todos os que me ajudaram e continuam a ajudar-me, para que eu possa regressar plenamente ao serviço activo de Nosso Senhor e do Seu Corpo Místico, a Igreja.

Claramente, se Nosso Senhor me tem mantido em vida, Ele deseja que eu seja cada vez mais fiel, generoso e puro no trabalho junto a Ele para a salvação das almas. De uma forma particular, para além das minhas responsabilidades como Bispo e membro do Sagrado Colégio dos Cardeais, quero concentrar o meu serviço a Nosso Senhor e ao Seu Corpo Místico, a Igreja, aqui no Santuário, ajudando o Santuário a ser um farol da verdade e do amor de Deus, num Mundo assolado por tantas mentiras e tantas acções odiosas. Com a ajuda de Nossa Senhora de Guadalupe e do seu santo mensageiro, São Juan Diego, quero ajudar os peregrinos do Santuário a terem o encontro mais pleno possível com Nosso Senhor, um encontro que os sustentará quando regressarem às suas casas, trabalho e outras actividades. De uma forma especial, dedicar-me-ei à realização da Casa de Retiro a ser construída ao lado da Igreja, para que os peregrinos possam passar aqui regularmente vários dias com Nosso Senhor, especialmente nos momentos mais importantes ou críticos das suas vidas.     

Após a Missa Pontifical, estarei presente na Cripta da Igreja do Santuário para vos saudar. Agradar-me-á cumprimentar e agradecer pessoalmente ao maior número possível de vós. A todos os que estão presentes para a Santa Missa ou que se juntam a nós através dos meios de comunicação, saibam que permanecerão sempre nas minhas orações de agradecimento. Por favor, continuem a rezar por mim. 

O Tempo do Advento e, de modo particular, a Missa Votiva de Nossa Senhora no Sábado do Advento, orientam-nos para a nossa necessidade fundamental de um relacionamento profundo e duradouro com Deus. Sem Deus, somos, de facto, como um solo ressequido que não tem vida e não pode fomentar a vida. Ao mesmo tempo, o Advento e a Missa Votiva de hoje testemunham a presença de Deus connosco na Igreja como o incomparável e duradouro fruto da Encarnação Redentora de Deus Filho para a nossa salvação. No Introito da Santa Missa de hoje, rezámos: «Ó céus, derramai dessas alturas o vosso orvalho: e que as nuvens chovam o Justo! Abra-se a terra e floresça o Salvador! Abençoastes, Senhor, a vossa terra: e livrastes Jacob do cativeiro.»[1] Dom Prosper Guéranger, no seu comentário sobre o Tempo do Advento, reza: «Vinde, ó Jesus, vinde depressa, e dai-nos dessa água, que brota do Vosso Sagrado Coração. (…) Esta água é a Vossa graça; que chova sobre as nossas almas ressequidas e elas também florescerão; que sacie a nossa sede e nós correremos no caminho dos Vossos preceitos e exemplos. (…) Não, não haverá mais mãos fracas, nem joelhos débeis, nem corações fracos; pois sabemos que é no amor que Vós vindes até nós. Só há uma coisa que nos entristece: a nossa preparação não está completa. Temos ainda alguns laços a quebrar; ajudai-nos a fazê-lo, ó Salvador da Humanidade!»[2]         

Ele exorta-nos: «Peçamos, juntamente com a Igreja, o orvalho que dará nova vida aos nossos corações e a chuva que os fará frutificar»[3].         

Com que frequência sentimos falta de propósito e direcção nas nossas vidas? Quantas vezes as nossas vidas podem parecer-se com a terra seca e ressequida que tem estado sem orvalho ou chuva? É então que devemos levantar os nossos olhos para contemplar Nosso Senhor connosco na Igreja, sobretudo na Sagrada Eucaristia, e contemplar como Ele nos salvou pela Sua Encarnação Redentora e como continua a derramar nos nossos corações, do Seu glorioso Coração trespassado, a graça que torna as nossas vidas frutuosas, o que nos torna uma bênção para o nosso próximo. 

É a Mãe de Deus que nos ajuda a ver e a procurar no seu Divino Filho a graça que transforma uma vida que se tornou como um deserto numa vida que dá vida e fomenta a vida para os outros. Quando o Rei Acaz se recusou a recorrer a Nosso Senhor num tempo de morte e destruição iminente nas mãos de potências estrangeiras, Nosso Senhor, através do Profeta Isaías, prometeu: «Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o seu nome será Emanuel»[4]. A promessa de Nosso Senhor foi cumprida definitivamente quando o Arcanjo Gabriel anunciou à Virgem Maria: «Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim»[5].        

A nossa Mãe Santíssima, vaso escolhido em que Deus Filho tomou a nossa natureza humana, unindo-a à sua natureza divina, para nos salvar do pecado e para nos salvar para a vida eterna, está, no seu maternal amor por nós, constantemente a atrair-nos para erguer os olhos e ver a salvação que Nosso Senhor está a operar no nosso meio.          

Hoje em dia, tantos dão lugar ao desânimo ou até abandonam Nosso Senhor na Igreja, procurando-O noutro lugar. A tentação para desanimar ou até mesmo para abandonar Nosso Senhor é compreensível de um ponto de vista puramente humano. Se tudo o que somos e temos é unicamente desta terra, então não temos motivos para ter esperança. Mas a nossa Mãe Santíssima faz-nos olhar para cima, para que não vejamos apenas o mundo terreno e passageiro à nossa volta e não vejamos o nosso destino eterno. Com a sua ajuda, não só aceitamos mas até abraçamos com alegria o sofrimento do tempo presente, porque nos permite participar nos sofrimentos de Cristo em prol da nossa salvação e da salvação do Mundo.   

Com São Paulo, rejubilamos por completar nos nossos corpos o sofrimento de Cristo por causa da vida eterna, por causa do «mistério: Cristo entre vós, a esperança da glória»[6]. A nossa única preocupação deve ser a de dar mais completamente o nosso coração ao Sagrado Coração de Jesus, que nós, como indivíduos e nas nossas casas, vivamos em Cristo. Recordemos diariamente as palavras de São Paulo, que nos escreveu como seus «filhos», descrevendo-se a si próprio «com dores de parto, até que Cristo se forme entre vós»[7]: «Aspirai às coisas do Alto e não às coisas da terra. Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, a vossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória»[8].

Que a observância do Sagrado Tempo do Advento e da Missa Votiva de Nossa Senhora no Advento de hoje nos traga a graça de conhecer sempre quem somos em Cristo e de viver em Cristo, com os olhos fixos no destino da nossa peregrinação terrena: a vida eterna com Deus – Pai, Filho e Espírito Santo –, na companhia dos anjos, na Comunhão dos Santos.           

A beleza da Sagrada Liturgia de hoje é uma antecipação da beleza eterna dos «novos céus e uma nova terra onde habite a justiça»[9], que Nosso Senhor estabelecerá definitivamente na Sua vinda final e que é o destino da nossa peregrinação terrena. Convidando-nos a entrar na Sagrada Liturgia com todo o nosso coração, a nossa Mãe Santíssima ensina-nos a considerar toda a vida sob o aspecto da eternidade, a olhar para tudo nesta terra no contexto do Mistério da Fé, no qual participamos mais perfeitamente através da Santa Missa até participarmos para sempre «no banquete das núpcias do Cordeiro»[10].         

Unindo os nossos corações com o Imaculado Coração de Maria, levemo-los ao glorioso Coração trespassado de Jesus. Ele está sempre pronto a receber os nossos corações, a curá-los na Sua imensurável e incessante misericórdia, e a inflamá-los com o Seu amor puro e altruísta. Que Cristo, por intercessão da Sua Virgem Mãe, derrame sobre os nossos corações o Orvalho e a Chuva da Sua graça, que os torna novos, que os torna frutuosos para o nosso próximo e para o nosso Mundo.    

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ámen.

Raymond Leo Cardeal Burke

[1] “Rorate, caeli, desuper, et nubes pluant iustum: aperiatur terra, et germinet Salvatorem. Ps. 84,2 Benedixisti, Domine, terram tuam: avertisti captivitatem Iacob.” Missale Romanum, Missa de Sancta Maria in Sabbato, I, Tempore Adventus, Antiphona ad Introitum.

[2] “O Sauveur ! venez vite nous donner de cette Eau dont votre Cœur est la source, … Cette Eau est votre Grâce ; qu’elle arrose notre aridité, et nous fleurirons aussi ; qu’elle désaltère notre soif, et nous courrons la voie de vos préceptes et de vos exemples, … Non, désormais nos bras ne sont plus abattus ; nos genoux ne tremblent plus ; nous savons que c’est dans l’amour que vous venez. Une seule chose nous attriste : c’est de voir que notre préparation n’est pas parfaite. Nous avons encore des liens à rompre ; aidez-nous, ô Sauveur des hommes !” Prosper Guéranger, L’Année liturgique, L’Avent, 21ème éd. (Tours: Maison Alfred Mame et Fils, 1926), p. 250. [Guéranger].

[3] “[D]emandons, avec la sainte Église, la rosée qui rafraîchira notre cœur, la pluie qui le rendra fécond.” Guéranger, p. 251.

[4] Is 7, 14.

[5] Lc 1, 31-33.

[6] Cl 1, 27.

[7] Gl 4, 19.

[8] Cl 3, 2-4.

[9] 2 Pe 3, 13; cf. Ap 21, 1-8.

[10] Ap 19, 9.

 

FONTE: Dies Irae

 

 

LITURGIA DA MISSA DE HOJE

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HOMILIA EM VÍDEO - LITURGIA CATÓLICA - www.liturgiacatolica.com

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ORAÇÃO EUCARÍSTICA I A XI

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Como Editor do site Homilias, minha paixão é compartilhar reflexões inspiradoras e edificantes com a nossa comunidade. O meu objetivo é proporcionar conteúdo de qualidade que possa nutrir sua fé, fortalecer sua conexão com Jesus Cristo e oferecer perspectivas enriquecedoras para enfrentar os desafios do dia a dia. Acredito no poder transformador das palavras do Evangelho e na capacidade das homilias de tocar corações e transformar vidas! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!