Homilia diária — Virgem Maria Rainha — Missa de 6ª-feira, 22/08/25

Homilia diária — Virgem Maria Rainha — Missa de 6ª-feira, 22/08/25

Bem-aventurada Virgem Maria Rainha
Bem aventurada Virgem Maria Rainha

Homilia diária — Virgem Maria Rainha — Missa de 6ª-feira, 22/08/25

Irmãos e irmãs em Cristo, elevemos o coração para contemplar aquela que a Igreja proclama bem-aventurada e rainha: a Virgem Maria. Ao fazê-lo, não imaginemos um trono distante ou um esplendor vazio; antes, percebamos que a sua realeza brota do mesmo coração do Reino, é realeza servidora, nascida do Fiat que abriu os céus.

Por isso, quando chamamos Maria de Rainha, afirmamos sobretudo que ela ocupa um lugar singelo e eminente na economia da salvação: mãe do Rei, modelo perfeito de discípula, e intérprete materna da compaixão divina dirigida a nós.

Primeiro, consideremos a raiz dessa realeza. Maria não se torna rainha por conquista humana, mas por maternidade divina: ela trouxe ao mundo o Senhor da glória. No contexto bíblico, a mãe do rei ocupa lugar singular na corte de Israel; a figura da “mãe do rei” não governa em si, mas participa intimamente da realeza, intercedendo pela vida do povo.

Analogamente, Maria, Mãe do Senhor, participa da realeza de Cristo e recebe dEle a missão de acompanhar a Igreja. Assim, a iconografia que a mostra coroada não é capricho poético, mas síntese teológica: a maternidade divina confere-lhe autoridade que serve ao povo, uma autoridade sempre ao serviço da misericórdia.

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A mulher do Apocalipse

Além disso, a Escritura e a tradição convergem num símbolo que ilumina a sua condição: a mulher do Apocalipse, vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas. Neste simbolismo se entrelaçam a obra salvífica de Israel e a continuação da presença de Deus no mundo por meio daquela que acolheu a Palavra.

A Virgem ocupa, portanto, o lugar onde o projeto de Deus se realiza: não usurpando o trono do Filho, mas sendo, por graça, centro de comunhão onde o Reino se faz próximo. Em outras palavras, Maria reina porque permite que o reinado de Cristo se torne realidade no tempo e no coração humano.

Ademais, convém sublinhar a natureza da sua honra: a Igreja distingue com precisão a veneração de Maria, que é hiperdulia, do culto absoluto reservado a Deus. Essa nuance teológica protege a primazia do Filho e, ao mesmo tempo, reconhece a singularidade da Mãe no plano redentor.

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Grande humildade

Maria não compete com Cristo; ela encaminha para Ele. Portanto, honrá-la significa colocar-nos mais plenamente diante do Mistério que ela carrega: o Verbo encarnado. Quando nos aproximamos de sua imagem, não cessamos de olhar para o rosto do seu Filho; por isso, a devoção mariana verdadeira sempre cresce na conformação filial a Cristo.

E o que isto implica para a vida espiritual concreta? Em primeiro lugar, implica imitar a sua humildade ativa. Maria foi perfeita recepção, mas essa receptividade sempre se traduziu em ação: saiu velozmente ao encontro de Isabel, permaneceu junto da cruz, e não silenciou diante das grandes decisões do povo de Deus.

Assim, a realeza mariana nos chama a uma grande humildade operante: reconhecer que tudo o que possuímos é dom, e usar esses dons em serviço aos irmãos. A rainha que foi serva nos ensina que a verdadeira majestade cristã se revela no dom de si.

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Consagração mariana

Em segundo lugar, implica confiar na sua intercessão materna. Ao entregarmos a ela as nossas fraquezas e os nossos anseios, não procuramos atalhos, mas acolhemos uma ponte segura que nos leva a Cristo.

A prática da consagração mariana, recomendada pela piedade antiga e confirmada pela experiência de tantos santos, não nos afasta da liberdade cristã; antes, oferece-nos um guia fiel que nos ajuda a perseverar. Entregar-nos à Mãe significa aprender a deixar-nos moldar pelo Espírito, tal como ela foi moldada desde o primeiro instante.

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A coroa que o cristão apresenta

Em terceiro lugar, a realeza de Maria convoca-nos a uma liturgia de vida: a oração cotidiana, a participação fiel na Eucaristia, e o cuidado pelos pobres tornam-se coroações simples, porém eternas, de uma existência orientada para o Senhor.

Cada gesto de caridade, cada palavra de consolação, cada renúncia oferecida por amor transforma-se em gesto régio quando toma como medida o amor pascal do Filho. Assim, o serviço aos necessitados é, de fato, a coroa que o cristão apresenta juntamente com a Rainha aos pés de Cristo.

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Assunção e Coroação

Finalmente, deixemo-nos tocar pela certeza escatológica que a honra de Maria expressa: se ela já participa, por antecipação, da glória do seu Filho, então a nossa esperança encontra nela um sinal seguro de que o plano de Deus se cumprirá plenamente.

A sua Assunção e Coroação litúrgica proclamam que a vitória da carne redimida é possível; por isso, a devoção a Maria alimenta não um escapismo, mas uma confiança ativa — que nos impele a transformar o presente com as armas da oração, da justiça e da caridade.

Portanto, irmãos, ao proclamarmos a Virgem Maria Rainha, não celebremos um trono distante, mas um coração materno que nos conduz ao trono do Rei. Que a sua humildade nos molde, que a sua intercessão nos acompanhe, e que a sua realeza nos enfrente com o desafio de viver o Evangelho com severa ternura.

Assim, rendendo-lhe a devida hiperdulia, proclamaremos com obras e palavras: que toda honra e louvor voltem sempre ao Filho, fonte de toda realeza e misericórdia. Ave Maria, cheia de graça; e fazei que, seguindo o exemplo da Rainha, nos tornemos servos fiéis do Senhor. Amém.