Homilia diária — São Gregório Magno — Missa de 4ª-feira, 03/09/25
Homilia diária — São Gregório Magno — Missa de 4ª-feira, 03/09/25
Irmãos e irmãs, hoje penso convosco sobre a homilia diária e sobre o exemplo do grande pastor e doutor da Igreja que chamamos São Gregório Magno, cuja vida e ministério nos ensinam que a pregação constante não é simples repetição de palavras, mas coagulação de graça que transforma a comunidade.
Gregório percebeu que a igreja vive ou morre segundo a intensidade com que a Palavra se torna carne nas nossas ações; por isso, ele não tratou a homilia como ornamento litúrgico, mas como instrumento de conversão, cura e formação.
Ao subir o ambão, não leu somente um texto: ele abriu uma porta para que Deus entrasse na casa do povo, para o Evangelho tomar o hábito dos gestos cotidianos.

Quando pensamos na homilia diária, devemos recordar que cada frase do pregador deve ser ponte entre a Escritura e a vida.
São Gregório ensinou, sem sublinhar-se em erudição vazia, que a Palavra se torna eficaz quando o pregador traduz o mistério em veredas possíveis para o homem concreto — o lavrador, a mãe, o comerciante, o jovem. Por isso, o sermão não se reduz a instrução moral; ele ilumina consciências, reforma afetos e reacende o desejo do encontro com Cristo.
A homilia, assim entendida, educa a ver sacramentalmente: faz do pão partilhado e da água da liturgia sinais que introduzem à caridade ativa e ao serviço humilde.

Caminho de restauração
Além disso, devemos recordar o caráter pastoral que Gregório imprimiu à sua pregação: ele conhece as misérias humanas e fala com misericórdia, não para elogiar o pecado, mas para oferecer um caminho de restauração.
O pregador inspirado por sua tradição não assume postura de tribunal que condena, mas de médico que aponta remédio; ele chama ao arrependimento com ternura, porque sabe que só o amor dócil vence a dureza do coração. Assim, a homilia diária transforma-se em cuidado permanente, uma arte de restaurar lar por lar o rosto ferido da Igreja.
Ademais, há uma dimensão litúrgica irreversível: a homilia não compete com a Eucaristia; antes, ela a prepara e prolonga. Gregório nos recorda que as palavras ditas ao povo devem levar ao altar, e que o altar deve devolver coragem para a missão nas ruas.
Quando isso acontece, a missa termina e começa a obra: o Pão recebido pede partilha, a bênção pronunciada pede gesto, a assembleia dispersa torna-se semente plantada na cidade. Portanto, a homilia é sementeira e colheita: sem ela, a celebração corre o risco de permanecer insular; com ela, a Igreja sai feraz.

Como devemos agir?
Praticamente, como devemos agir? Primeiro, pedimos ao Espírito a graça de preparar a homilia com oração e estudo, porque a pregação eficaz nasce da união íntima com Cristo ressuscitado e do conhecimento sério da Palavra.
Em seguida, o pregador toma em conta as feridas locais: a homilia deve responder a perguntas reais — sobre família, trabalho, violência, solidão, e propor gestos cristãos concretos. Finalmente, a comunidade deve acolher o desafio e traduzir o que ouviu em prática: se a homilia fala de perdão, haja reconciliação; se fala de justiça, haja compromisso com os pobres.
Recordemos também a figura do pregador humilde: São Gregório não quis brilhar, quis servir. O discurso perfeito não é aquele que exibe retórica, mas aquele que converte corações e organiza a caridade.

Uma vida mais coerente
Portanto, capacitemos ministros e leigos para a pregação: formação teológica, acompanhamento pastoral e experiência de sacramentalidade são indispensáveis. Ao mesmo tempo, cultivemos o silêncio necessário para ouvir o Espírito, porque a homilia nasce na escuta tanto quanto na exposição.
Por fim, que a homilia diária nos leve a uma vida mais coerente; que as palavras proferidas não parem na ambiência do templo, mas criem novos hábitos. Se a homilia acende a caridade, que nossas ruas percebam já o calor dessa chama. Entretanto, se ela denuncia a injustiça, que nossos gestos públicos a combatam. Ou, ainda, então, se ela consola os tristes, que as nossas visitas levem consolo real. Assim, seguindo o espírito do grande bispo de Roma, faremos da homilia não um fim, mas o início de uma Igreja missionária, paciente e fiel, cuja autoridade brota da coerência com o Evangelho vivido.
Roguemos, portanto, ao Senhor que renove em nós o ardor de ouvir e de anunciar; e peçamos àquela Mãe que guardou a Palavra em seu coração que nos ajude a transformar os sermões em obras, para que, por meio da pregação fiel, a face de Cristo se torne cada vez mais visível nas praças, nas fábricas e nas casas. Amém.

