Homilia diária — Santo Inácio de Antioquia — Missa de 6ª-feira, 17/10/25
Homilia diária — Santo Inácio de Antioquia — Missa de 6ª-feira, 17/10/25
Hoje a Igreja se reveste de alegria e reverência ao celebrar Santo Inácio de Antioquia, um bispo, mártir e gigante da fé dos primeiros séculos cristãos. Discípulo direto do apóstolo João, ele viveu com o coração incendiado pelo amor a Cristo e pela fidelidade à Igreja. Não foi somente um homem de palavras, mas alguém que transformou a própria vida em hóstia viva, oferecida com coragem, serenidade e gratidão.
As feras no Coliseu
Inácio viveu num tempo em que seguir Jesus custava caro. A fé não era um título religioso, era um risco. Ser cristão podia significar ser caçado, preso ou morto. E, quando chegou a sua vez de testemunhar, ele não fugiu. Preso e levado para Roma, sabia que o aguardavam as garras das feras no Coliseu. Ainda assim, escreveu cartas às comunidades cristãs, cheias de luz, cheias de paz, cheias de ardor. Dizia: “Sou o trigo de Deus e serei moído pelos dentes das feras para tornar-me pão puro de Cristo.”
Que imagem poderosa! O trigo sendo moído, o sofrimento transformando-se em alimento. Inácio entendeu o mistério da cruz como ninguém. Ele sabia que amar Cristo de verdade significava deixar-se consumir por Ele. Não com tristeza, mas com alegria. Ele não foi para o martírio como quem vai para a morte, mas como quem caminha para o encontro. Para ele, o céu não era recompensa futura, era presença que já começava no amor vivido.
E é aqui que Santo Inácio ainda fala ao nosso tempo. Porque nós também, de formas diferentes, somos chamados a esse mesmo amor total, a essa mesma entrega. Talvez não diante das feras, mas diante das dores de cada dia, das perdas, das injustiças, dos desafios de ser fiel num mundo distraído e apressado.

Trigo de Deus
Inácio não separava Cristo da Igreja. Ele via na unidade e na obediência eclesial a expressão mais concreta do amor a Jesus. Para ele, a comunhão era o antídoto contra a soberba. O bispo de Antioquia compreendia que, sem comunhão, a fé se torna ideia; com comunhão, torna-se corpo. Ele viveu e morreu pela unidade, convencido de que a Igreja é o lugar onde Cristo continua vivo e atuante.
Hoje, ao lembrarmos sua vida, somos convidados a olhar para o nosso próprio testemunho. Temos vivido com essa mesma coerência? Temos alimentado o desejo de ser “trigo de Deus”? Ou ainda buscamos um cristianismo sem cruz, um Evangelho sem entrega, uma fé sem obediência?
O exemplo de Santo Inácio nos provoca a amadurecer. Ele nos ensina que a fé não é apenas sentir Deus, mas pertencer a Ele. É deixar-se moldar pela vontade divina, mesmo quando isso dói. É transformar o sofrimento em oferenda e a fraqueza em ocasião de graça.
E quando as dificuldades chegarem, quando o mundo parecer indiferente à nossa fé, lembremo-nos das palavras que ele escreveu no caminho do martírio: “Meu amor foi crucificado, e já não há em mim fogo algum que ame as coisas materiais.” Que fé limpa! Que coração livre!
Rezemos
Peçamos, então, a Santo Inácio de Antioquia que nos ensine a viver com esse mesmo zelo, essa mesma coragem e essa mesma esperança. Que ele interceda para que a nossa Igreja continue unida, firme e fiel, mesmo em meio às pressões do tempo presente. E que cada um de nós, com humildade e coragem, possa dizer com ele:
“Sou o trigo de Deus; quero ser moído pela vontade do Senhor, para que minha vida se torne pão para o mundo.”
Amém.