Homilia diária — Santa Rosa de Lima — Missa de sábado, 23/08/25

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Homilia de hoje – Liturgia da Missa de sábado - homilias.com.br

Homilia diária — Santa Rosa de Lima — Missa de sábado, 23/08/25

Santa Rosa de Lima

Irmãos e irmãs, hoje voltamos o olhar para aquela rosa que floresceu na aridez das ruas de Lima — jovem de rosto simples, coração obstinado pela oração e mãos gastas no serviço aos pobres — e proclamamos Santa Rosa como modelo de santidade encarnada na vida cotidiana. Ela não buscou palácios nem teatros de glória, mas plantou seu jardim espiritual no meio da cidade, mostrando que a santidade nasce quando a contemplação se encontra com a caridade e quando o silêncio interior se traduz em obra para o irmão necessitado.

Desde o primeiro ato de seu sim, Rosa configurou-se ao mistério pascal: aceitou o caminho do despojamento e da cruz não por masoquismo, mas para que a vida de Cristo tivesse mais espaço em seu peito. Por isso sua oração ardente e sua austeridade ascética não foram gesto de fuga do mundo, mas sim missão de purificação do mundo. Ela ofereceu a própria carne como hóstia de amor — um sinal antigo, caro aos ascetas e aos Padres, de que a verdadeira humilhação do eu abre caminho para a plena exaltação da graça.

Assim, irmãos, aprendamos com ela que a oração autêntica transforma as mãos: quando nos recolhemos ante o altar e nos banhamos na Eucaristia, nossas mãos saem para trabalhar a favor dos pobres, dos doentes, das famílias que sofrem. Rosa viveu essa unidade: permanecia longas horas em adoração, e então corria para visitar quem gemia nas periferias. Não há dualismo cristão entre contemplação e serviço; antes, há reciprocidade: a contemplação fecunda o serviço, e o serviço torna verdadeira a contemplação.

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Vocação laical

Além disso, sua vida nos recorda que a vocação laical alcança plenitude quando assume o rosto da entrega gratuita. Santa Rosa foi irmã leiga, terceira dominicana, e com isso iluminou a grande verdade de que o acesso à santidade não exige pilastras de autoridade, mas um coração obediente. A sua carreira espiritual nos ensina que todo batizado, no estado em que se encontra, pode levar o Evangelho ao chão da realidade: no trabalho, na vizinhança, na família, em gestos pequenos que traduzem o rosto do Mestre.

Do mesmo modo, a rosa que dá nome à santa nos apresenta um símbolo teológico: a beleza que não seduz, mas libera; a flor que resiste ao espinho porque nasce do seio de uma terra dolorida. Em Santa Rosa, reconhecemos a fecundidade da pobreza voluntária — não como escusa de injustiça, mas como escolha de partilha. Quando nos despojamos de supérfluos e damos o necessário ao irmão, erguemos uma coroa de ações que se assemelham às pétalas de uma rosa oferecida ao Coração de Cristo.

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Pobreza voluntária

Por isso, no horizonte da nossa América Latina, sua intercessão ressoa de modo particular. Ela nos chama a enfrentar a pobreza estrutural com compaixão organizada, a defender a dignidade dos povos originais e a cultivar uma cultura que una fé e justiça social. Inspirados por seu exemplo, comprometamo-nos não com soluções fáceis, mas com processos de conversão que exigem esforço, oração, estudo e trabalhos comunitários que transformem estruturas injustas em caminhos de fraternidade.

Além disso, Santa Rosa nos ensina a acolher a Dor como lugar de encontro com Deus. Ela assumiu o sofrimento sem perder a mansidão; ofereceu dores interiores para remediar doentes alheios. Assim sendo, não fujamos ao sofrimento inevitável, mas aprendamos a oferecê-lo em espírito de reparação e intercessão; na cruz pequena de cada dia podemos descobrir o ofício santo de interceder pelos que não conhecem o caminho da esperança.

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Fáceis ao sorriso e firmes na renúncia

Finalmente, que sua vida nos impeça de cair na vaidade religiosa. Rosa não buscou aplausos; ela cultivou o anonimato como campo de humildade. Portanto, que a nossa ação pastoral e pessoal não busque destaque, mas eficácia no serviço. Sejamos, tal como ela, fáceis ao sorriso e firmes na renúncia, generosos nas esmolas e constantes na disciplina de oração.

Rogemos, então, àquela que a Igreja coroou Rainha das pequenas obras, que nos alcance do Senhor a graça de viver a fé com austeridade alegre, a contemplação que gera serviço, e a coragem de transformar as periferias do nosso mundo em hortos de esperança. Que Santa Rosa de Lima nos ajude a tornar a nossa América um continente onde a beleza da fé se traduz em justiça, e onde a rosa da caridade perfuma, por fim, toda a terra. Amém.