Homilia diária — Por quê Jesus se referiu a “odres” novos e velhos?
Odres novos e velhos
O Evangelho de hoje nos introduz a uma das parábolas mais intrigantes de Jesus. Inicialmente, ao responder aos fariseus e mestres da Lei, que questionavam o comportamento de Seus discípulos, Jesus nos oferece uma reflexão profunda não só sobre renovação e transformação, mas também sobre a natureza do Reino de Deus. Além disso, Ele nos fala de odres, vinho novo e vinho velho, e ao usar essas imagens simples do cotidiano, nos conduz a uma verdade espiritual que não apenas desafia, como também transforma.
O “vinho novo”
Jesus começa dizendo que “ninguém coloca vinho novo em odres velhos”. Vamos parar um pouco e refletir sobre isso. Os odres, naquela época, eram recipientes feitos de couro, usados para armazenar líquidos, principalmente o vinho. Quando o vinho novo era colocado em odres, ele passava por um processo de fermentação, portanto, esse processo exigia que o recipiente fosse flexível, capaz de se expandir à medida que o vinho fermentava. Odres velhos, que já haviam perdido essa elasticidade, não suportariam a pressão do vinho novo, arrebentariam, e o vinho se perderia.O “vinho novo”
Mas o que isso tem a ver com a nossa vida espiritual? O “vinho novo” simboliza a novidade do Reino de Deus, a mensagem revolucionária de Jesus, uma vez que Ele não veio apenas para remendar o que já existia, para colocar novos conceitos em antigas estruturas. Não! Jesus veio para inaugurar algo completamente novo. Sua mensagem, Sua presença, Sua obra de salvação são como vinho novo, que precisa ser acolhido em odres novos — ou seja, em corações e mentes renovados, capazes de se abrir para essa transformação radical.
O “vinho velho”
E os “odres velhos”? Certamente eles representam as antigas formas de pensar, de viver, as estruturas rígidas da Lei que os fariseus e mestres da Lei tanto defendiam. Mas eles estavam tão presos às suas tradições e costumes que não conseguiam reconhecer a novidade que estava diante deles em Jesus. Odres velhos, cheios de rigidez, certamente não têm espaço para a novidade de Cristo. E quantas vezes nós mesmos, em nossa vida, somos como odres velhos? Quantas vezes nos apegamos ao que é familiar, ao que é confortável, resistindo à renovação que o Evangelho nos pede?
Jesus não está dizendo que o “vinho velho” não tem valor. Pelo contrário, Ele reconhece que muitos preferem o vinho velho, que já é conhecido e seguro. “O velho é melhor”, dizem as pessoas que não querem arriscar o novo. E quantas vezes nós também dizemos isso? Quantas vezes nos acomodamos no passado, nas velhas práticas, nas velhas maneiras de pensar, porque o novo nos assusta?
O Reino de Deus não é estático
Mas Jesus nos chama à ousadia. Ele nos desafia a ser odres novos, a estar abertos à fermentação do Espírito Santo, que está sempre nos conduzindo a algo maior e mais profundo, portanto. o Reino de Deus não é estático, não se encaixa em moldes antigos. Ele é vivo, dinâmico, em constante expansão. Ademais, para receber esse Reino, precisamos ser flexíveis, precisamos deixar de lado a rigidez que nos prende às velhas estruturas e abrir espaço para o novo que Deus quer fazer em nós.
Mas, o que isso significa, na prática? Significa que nossa vida de fé não pode ser uma repetição mecânica de rituais. Não podemos apenas nos contentar em “jejuar” ou “rezar” de forma exterior, como faziam os discípulos dos fariseus. Jesus quer mais do que isso. Ele quer uma renovação interior, uma transformação completa de nossos corações e mentes. Ele quer que nos tornemos odres novos, capazes de acolher a novidade de Sua presença e de Seu amor em nossa vida.
Rezemos
Queridos irmãos e irmãs, a parábola dos odres e do vinho novo é um convite à renovação. Certamente Jesus está sempre nos oferecendo vinho novo, sempre nos chamando a uma vida mais plena, mais abundante, mais enraizada no amor de Deus. Mas, para receber esse vinho novo, precisamos deixar de lado as estruturas velhas que já não servem. Precisamos ser flexíveis, abertos, prontos para nos deixar transformar pela graça de Deus.
Que possamos, hoje, nos perguntar: “Sou um odre novo? Estou pronto para receber o vinho novo que Jesus quer me oferecer, ou estou preso às velhas formas de viver e pensar?” Que a resposta seja um coração aberto à novidade, sempre disposto a crescer, a se expandir, a acolher o Reino de Deus em toda a sua plenitude.