Homilia diária — O Filho do Homem é senhor também do sábado
O Filho do Homem é senhor também do sábado
O Evangelho de hoje nos apresenta um dos momentos em que Jesus desafia diretamente a interpretação rigorosa e, muitas vezes, equivocada da Lei por parte dos fariseus. No centro desse debate está a questão do sábado, um dia sagrado para o povo judeu, reservado ao descanso e à adoração. Os discípulos de Jesus, ao arrancarem e comerem espigas de trigo, são imediatamente acusados de violar o sábado. Mas a resposta de Jesus não apenas desafia a rigidez dos fariseus, como também revela uma verdade teológica e simbólica profundamente significativa.
Ao citar o exemplo de Davi, que, em momento de necessidade, comeu os pães sagrados que só os sacerdotes podiam consumir, Jesus faz algo ousado: Ele mostra que a necessidade humana pode superar as interpretações rigorosas da Lei. E, mais do que isso, Ele nos leva a refletir sobre o verdadeiro significado do sábado. O sábado não é apenas um conjunto de regras e proibições; ele foi dado por Deus como um dom para o homem, um tempo de descanso, de comunhão com o Criador, de restauração do corpo e da alma.
Mas é no final de Sua resposta que Jesus revela algo ainda mais profundo. Ele afirma: “O Filho do Homem é senhor também do sábado”. Aqui, Jesus se coloca no centro da questão. Quem é esse Filho do Homem que pode reivindicar ser senhor do sábado, uma das instituições mais sagradas para o povo judeu?
Filho do Homem
O título “Filho do Homem” tem uma simbologia rica e poderosa nas Escrituras. Ele aparece, pela primeira vez, de forma significativa no livro do profeta Daniel, onde o Filho do Homem é descrito como uma figura gloriosa, a quem é dado poder, glória e um reino que nunca terá fim (Daniel 7,13-14). É uma figura messiânica, divina, mas também profundamente humana. Ao usar esse título para Si mesmo, Jesus está reivindicando tanto Sua humanidade quanto Sua divindade. Ele é o Messias, o enviado de Deus, mas também é plenamente humano, aquele que caminha no meio de nós, que conhece nossas dores, nossas necessidades, nossas limitações.
Quando Jesus diz que o Filho do Homem é senhor do sábado, Ele está nos revelando que Ele tem autoridade sobre as próprias instituições sagradas da Lei. Ele não veio para abolir o sábado, mas para dar-lhe o seu verdadeiro sentido. O sábado não é uma prisão, mas uma libertação. E quem melhor para nos ensinar isso do que o próprio Senhor do sábado?
Ele está no centro da história da salvação
Esse título “Filho do Homem” também nos revela algo profundamente teológico: Jesus é aquele que está no centro da história da salvação. Ele é aquele que une o céu e a terra, o divino e o humano, e, por isso, Ele tem a autoridade de reinterpretar a Lei de acordo com o amor e a misericórdia de Deus. A Lei foi dada para a vida, não para a morte. E é isso que Jesus quer nos mostrar.
O Filho do Homem é aquele que nos conduz a uma compreensão mais profunda de Deus. Ele não nos dá uma fé baseada em regras e regulamentos vazios, mas nos chama a viver uma fé que parte do coração, que se preocupa com a necessidade humana, que coloca o amor e a misericórdia acima de qualquer formalismo religioso. Ao declarar-Se “Senhor do sábado”, Jesus nos mostra que o Reino de Deus é um reino de liberdade, onde a vida humana e o bem-estar são mais importantes do que as interpretações rígidas da Lei.
Rezemos
E o que isso significa para nós hoje? Quantas vezes, em nossas vidas, nos deixamos prender por regras, costumes e tradições que, embora bem-intencionadas, podem nos afastar do verdadeiro sentido da fé? Quantas vezes nos esquecemos de que Jesus, o Filho do Homem, veio para nos libertar, para nos mostrar que a essência da vida em Deus é o amor, o cuidado com o próximo, a misericórdia?
Jesus, ao afirmar ser o Senhor do sábado, nos convida a olhar para além das regras e encontrar o coração da fé: uma relação viva e autêntica com Deus, onde a vida, o amor e a misericórdia têm sempre a última palavra.
Portanto, irmãos e irmãs, que possamos, a exemplo de Jesus, viver uma fé que coloca a pessoa humana e sua dignidade no centro. Que possamos enxergar no Filho do Homem não apenas o Mestre que ensina, mas o Senhor que nos liberta e nos convida a uma vida plena e livre em Deus.