Homilia diária — Lc 7,31-35 — Missa de 4ª-feira, 17/09/25
Homilia diária — Lc 7,31-35 — Missa de 4ª-feira, 17/09/25
Amados irmãos e irmãs, o Evangelho de hoje nos convida a uma profunda reflexão sobre a resistência do coração humano diante da verdade. Jesus, com palavras firmes e, ao mesmo tempo cheias de dor, denuncia a dureza de uma geração que, mesmo tendo diante de si a salvação, se recusa a acolhê-la. Ele diz: “Tocamos flauta para vós e não dançastes; fizemos lamentações e não chorastes!”, uma frase simbólica, mas carregada de realidade.
Com essa comparação, Jesus descreve a reação de muitos que rejeitaram tanto João Batista quanto Ele próprio. João jejuava e vivia no deserto, e diziam estar possuído. Jesus comia com os pecadores, e o chamavam de comilão e beberrão. Ou seja, nenhuma postura agradava. Nenhuma mensagem era aceita. Tanto a austeridade quanto a misericórdia foram rejeitadas. O problema, portanto, não estava na forma da mensagem, mas na disposição de quem ouvia.
Assim, o Senhor nos mostra que, muitas vezes, o ser humano não recusa o mensageiro devido a seu estilo, mas porque o coração não quer se converter. Há quem diga que quer a verdade, mas, na prática, resiste a qualquer palavra que confronte sua vida. Há quem deseje Deus… mas só se Ele couber dentro de suas próprias ideias. E quando isso acontece, torna-se impossível reconhecer os sinais da graça, mesmo quando estão diante dos olhos.

Arrependimento sincero
Além disso, essa crítica de Jesus à geração de sua época ecoa com ainda mais força nos nossos dias. Vivemos tempos em que a sensibilidade espiritual parece adormecida. Deus fala, mas poucos escutam. A Igreja ensina, mas muitos zombam. Os sacramentos estão acessíveis, mas são negligenciados. Tocamos flauta, e não há dança. Lamentamos, e não há lágrimas. Em outras palavras: o céu se inclina para falar conosco, mas muitas vezes respondemos com indiferença.
Por isso, esse Evangelho não deve ser lido como um ataque aos outros, mas como um espelho para cada um de nós. Como tenho respondido à voz de Deus? Tenho dançado com a alegria do Evangelho ou me mantido imóvel na minha zona de conforto? Tenho chorado diante do chamado à conversão ou endurecido o coração?
No final do texto, Jesus afirma: “Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos.” Com isso, Ele declara que, embora muitos rejeitem a mensagem, há os que a acolhem com fé e se tornam testemunhas da verdade. São esses os filhos da sabedoria, os que se deixam guiar pela luz de Deus, mesmo quando ela os confronta. São os que sabem dançar com a alegria da salvação e chorar com o arrependimento sincero.

E como, então, viver esta Palavra?
Primeiramente, precisamos cultivar a escuta interior. Deus continua falando, mas só escuta quem silencia a alma. É preciso desacelerar, desligar as vozes do mundo e abrir os ouvidos do coração.
Em segundo lugar, devemos superar o julgamento superficial. Muitos rejeitaram Jesus e João porque olhavam para as aparências. Nós também, às vezes, rejeitamos uma palavra só porque ela nos incomoda. Mas a verdade, quando incomoda, não é crueldade, é misericórdia em ação.
Por fim, é hora de responder. A vida cristã é uma resposta constante ao chamado divino. Quando Deus toca a flauta, alegremo-nos com gratidão. Quando Ele nos chama ao pranto, choremos com humildade. Mas jamais sejamos indiferentes. Porque a indiferença é o solo onde a fé morre.
Portanto, irmãos e irmãs, que hoje, diante desta Palavra, abramos de verdade o coração. Que aprendamos a dançar com o Evangelho e a chorar com o arrependimento. Que sejamos sensíveis à voz de Deus, e prontos para caminhar conforme a sua melodia.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.