Homilia diária — Lc 7,11-17 — Missa de 3ª-feira, 16/09/25

Homilia diária — Lc 7,11-17 — Missa de 3ª-feira, 16/09/25

Homilia diária — Lc 7,11-17 — Missa de 3ª-feira, 16/09/25

Irmãos e irmãs, hoje a Palavra nos leva ao portão de Naim, onde a vida humana e a compaixão divina se encontram em gesto inesperado.

Imaginem a cena: uma cidade pequena, portas que se abrem para o enterro de um jovem, um cortejo que pesa com o silêncio da perda, e no centro, uma mulher viúva cujo rosto traduz a ferida irreparável, porque com a morte daquele filho morria também a esperança, a subsistência e o nome da família. Eis o cenário onde o Senhor chega, não como curioso, mas como Médico que se compadece, e ao ver a dor, sente compaixão.

AMAZON

A primeira lei do Reino

Logo, percebam a ousadia do Senhor: Ele se aproxima do esquife, e toca-o. Naquele gesto, Ele quebra normas que isolavam o doente e o morto, porque a misericórdia jamais teme a impureza social para restituir dignidade humana.

Tocando o que a sociedade já considerava descartável, Cristo nos ensina que o seu amor atravessa barreiras ritualísticas e culturais, e que a primeira lei do Reino é restaurar, não excluir. Assim, a sua mão sobre a mortalha transforma o desprezo em cuidado, e o abandono em presença consoladora.

São Bento Amazon

Jovem, eu te ordeno, levanta-te!

Em seguida, ouçamos a palavra que muda a história: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!” Essa voz não é um mero comando humano, ela revela a autoridade do Verbo que sustenta a criação. Quando Ele fala, a carne responde, o hálito volta, e a vida retorna ao corpo que o luto já havia esperado ver imóvel para sempre.

Este ato é sinal do mistério pascal: em Cristo, a morte já não tem a última palavra, o tempo do luto encontra o princípio da nova aurora, e o que parecia derrota humana transforma-se em obra do poder redentor. Por isso os que testemunharam proclaram que um grande profeta se levantara entre nós, e o medo deu lugar ao louvor a Deus.

Além disso, leiamos esse prodígio segundo a lógica das Escrituras: a viúva representa os excluídos da história, aqueles cujos direitos se reduzem na dor; o jovem simboliza o futuro arrancado; e a ação de Jesus antecipa a vitória definitiva do Reino, onde a vida restaura o que a injustiça e o pecado fragmentaram.

Assim, a narrativa nos aponta que a missão de Cristo assume o rosto dos que sofrem, e que a ressurreição se manifesta já nas periferias da existência humana, onde o amor terapêutico toca feridas e devolve nomes. Os antigos mestres compreendiam que os sinais de Cristo reavivam a esperança antiga de Israel e ampliam-na para todos os povos.

São Miguel Arcanjo Amazon

Respostas práticas

Consequentemente, o milagre exige de nós respostas práticas. Primeiro, aprendamos a não terceirizar a compaixão: se a cidade toda se maravilhou e glorificou a Deus, nós também devemos transformar espanto em ação.

Não nos bastem as palavras de admiração diante de um sinal, mas alimentemos a coragem de tocar as mortalhas humanas: visitar os enlutados, acompanhar famílias em risco, prestar auxílio concreto a quem perdeu o sustento. A caridade cristã precisa de mãos que se aproximem sem cálculo, porque o Evangelho se confirma quando a comunidade repara o que a dor desfez.

Além disso, o gesto de Jesus nos desafia a superar o terror da morte que paralisa. Nós, tantas vezes, vivemos como se a última palavra fosse a ausência, como se a morte retirasse sentido à vida.

Porém, a cena de Naim nos convoca a cultivar esperança operante: rezar com fé pelos mortos, consolar os vivos com presença sacramental, e anunciar sem medo que a ressurreição já opera de modos visíveis e invisíveis. Isso nos convoca a fortalecer a vida sacramental da comunidade: mais confissões, mais eucaristias, mais visita aos doentes, para a graça pascal alcançar os corações feridos.

Amazon

Oremos

Finalmente, deixemo-nos transformar pela compaixão do Senhor. Se Ele, ao ver uma mãe viúva, se comove e intervém, então nenhum luto deve nos ser indiferente. Sejamos a Igreja que se levanta diante do esquife alheio, não para espetáculo, mas para restaurar nome e dignidade.

Que a intercessão da Mãe do Senhor nos torne mansas e operosas, capazes de levar vida onde prevalece a morte. E quando a nossa própria barca for castigada por tempestades, recordemos a voz que ordena e vivifica, e respondamos com fé: Senhor, eu creio, levanta-me para viver para ti e para os irmãos. Amém.