Homilia diária — Lc 6,12-19 — Missa de 3ª-feira, 09/09/25

Homilia diária — Lc 6,12-19 — Missa de 3ª-feira, 09/09/25

Homilia diária — Lc 6,12-19 — Missa de 3ª-feira, 09/09/25

Meus irmãos, meditemos hoje nesse gesto que revela a matriz da missão e o segredo da autoridade evangélica: Jesus passa a noite toda em oração e, depois, escolhe doze dentre os discípulos, aos quais dá o nome de apóstolos.

Ao repousar na escuridão e elevar o rosto ao Pai, o Senhor nos ensina que toda decisão que funda obra de Deus nasce primeiro no silêncio filial. A noite da oração não é fuga do mundo, mas imersão no lugar onde o Espírito fala, purifica intenções e aponta rostos.

Assim, percebamos que a eleição dos Doze não resulta de cálculo humano nem de ambição de grupo; ela brota da escuta prolongada.

Jesus não nomeia sobre a base do mérito exibido, mas sobre a comunhão com o Pai que se mede em solidão de oração. Por isso, sempre que uma comunidade confere autoridade a alguém, seja para presidir, ensinar ou coordenar, deve antes sujeitar-se a essa mesma escola: escolher com oração, confirmar com discernimento, responsabilizar com humildade.

AMAZON

Colégio apostólico

Além disso, o número doze ecoa a história de Israel: doze tribos reunidas em torno da promessa. Ao instituir o colégio apostólico, o Senhor não cria um poder fechado, mas funda uma nova assembleia do Povo de Deus, chamada a ser testemunha universal da aliança.

Essa simbologia nos lembra que a Igreja guarda continuidade com a antiga Aliança que a missão apostólica tem um rosto colegial: não há projeto eclesial sem comunhão entre os que governam e servem.

Contudo, observemos também o contraste entre a “noite” e a “escolha”: no silêncio vespertino, o Mestre prepara o amanhecer da missão. Isto nos ensina que a ação mais eficaz nasce da contemplação; o ato pastoral mais fecundo provém de um coração que se sente pequeno diante de Deus. Portanto, líderes e agentes pastorais, antes de procurarem técnicas e estratégias, cultivem uma vida interior: a criatividade pastoral sem oração tende a produzir organização vazia; a oração fecunda gera gestos que convertem.

E que dizer do nome “apóstolo”? Nomear alguém apóstolo significa confiar-lhe a palavra e o povo, enviar em saída. Jesus configura esses doze não como administradores, mas como mensageiros e sacramentos da presença do Ressuscitado. Por isso, a formação apostólica requer não só competências, mas caráter: coerência, vida sacramental intensa, coragem para denunciar o mal e ternura para curar as feridas. A sucessão apostólica, então, não se limita a transmissão de um cargo; pressupõe transmissão de fidelidade, de oração e de ardor missionário.

São Miguel Arcanjo Amazon

Cheios do Espírito a transformar o mundo

Na vida prática, isso significa que cada comunidade deve cuidar dos critérios de escolha: priorizar a vida de oração, a humildade comprovada, a capacidade de servir e de criar comunhão. Significa também que todo discípulo, ainda sem título, participa da missão: ser apóstolo é também atitude laical de sair ao encontro, anunciar com palavra e gesto, acolher com caridade. Não releguemos a vocação missionária a um grupo restrito; tornemos cada batizado responsável pela pesca de almas, conforme o chamado que Jesus entregou aos primeiros.

Finalmente, daqui extraímos uma aplicação para o hoje: quando enfrentarmos decisões importantes, em família, na paróquia, na vida profissional, imitemos o Senhor: passemos uma noite em oração; busquemos a luz do Pai; procuremos a paz interior que confirma a escolha. Porque só assim evitaremos o julgamento precipitado, a vaidade do poder e o erro que se origina na pressa. E assim como aqueles doze, enviados após a noite de oração, voltaram cheios do Espírito a transformar o mundo, também receberemos forças para ser sinais vivos do Reino.

Que, por intercessão da Virgem que guardava tudo no seu coração, o Senhor nos dê a graça de aprender a escolher na oração e a servir com fidelidade, até que toda a terra conheça o nome de Jesus e a sua mesa se estenda a todos os povos. Amém.