Homilia diária — Lc 6,1-5 — Missa de sábado, 06/09/25
Homilia diária — Lc 6,1-5 — Missa de sábado, 06/09/25
Amados irmãos e irmãs, hoje o Evangelho nos leva a uma cena simples, porém carregada de tensão espiritual e revelação profunda. Vemos Jesus e seus discípulos caminhando em um dia de sábado, quando, movidos pela fome, começam a colher espigas e a comê-las. Esse gesto, aparentemente banal, logo se torna motivo de acusação por parte dos fariseus: “Por que fazeis o que não é permitido em dia de sábado?”

Espírito da Verdade
Nesse momento, estamos diante de um conflito de costumes. E mais: estamos diante de um choque entre a letra da Lei e o Espírito da Verdade. Os fariseus, apegados à interpretação rigorosa da Lei de Moisés, viam o sábado como um absoluto intocável. Qualquer atividade que lembrasse trabalho era proibida. Para eles, a observância exterior era sinal de santidade. No entanto, Jesus revela que a santidade verdadeira não está na rigidez, mas na misericórdia. Não está no cumprimento frio da norma, mas na escuta viva da vontade de Deus.
Logo em seguida, Jesus responde com sabedoria, citando um episódio da vida do rei Davi. Ele lembra que, em tempos de necessidade, Davi entrou na casa de Deus e comeu os pães sagrados, pães que, segundo a Lei, somente os sacerdotes podiam comer. Com isso, Jesus justifica seus discípulos e aponta algo maior: a vida humana está acima do formalismo religioso. Deus não criou o homem para o sábado, mas o sábado para o homem. O que Ele deseja é o bem, a vida, o amor.
Portanto, essa passagem nos ensina que as leis de Deus não foram dadas para nos oprimir, mas para nos libertar. O sábado, assim como todos os mandamentos, tem como finalidade nos aproximar do Senhor. Contudo, quando a observância se torna um peso, quando o rito se sobrepõe à caridade, perdemos o sentido da fé. E é por isso que Jesus confronta a mentalidade legalista dos fariseus, não para abolir a Lei, mas para purificá-la em sua raiz.

Autoridade divina
Além disso, no final do texto, Jesus faz uma afirmação poderosa: “O Filho do Homem é Senhor também do sábado.” Aqui, Ele reivindica uma autoridade divina. Ele não está apenas reinterpretando a Lei: Ele é o Legislador. É o Senhor do tempo, da história, da religião e da vida. Ao declarar isso, Jesus nos convida a colocá-Lo acima de tudo: acima dos costumes, das tradições humanas, dos julgamentos apressados. Ele é a medida da verdade.

A fé cristã
Mas como aplicar tudo isso na vida?
Primeiramente, devemos rever nossa relação com a fé. Estamos vivendo por amor ou somente por medo de errar? Nosso coração vibra com a Palavra ou limita-se a cumprir regras frias, sem vida? A fé cristã não é um sistema de proibições. É um caminho de liberdade interior que nos leva a amar mais e melhor.
Em segundo lugar, devemos cuidar para não cair na tentação do julgamento. Os fariseus estavam mais preocupados em fiscalizar do que em compreender. Em apontar erros do que em acolher. Nós também, às vezes, nos tornamos “fiscais de piedade alheia”, sem perceber que Jesus olha para o coração. Ele vê o que ninguém vê. Ele conhece a intenção por trás do gesto.
Por fim, é necessário recordar que Jesus continua sendo o Senhor do sábado. Ele é Senhor dos nossos ritmos, dos nossos dias, das nossas escolhas. Quando colocamos a rigidez acima do amor, estamos tirando Jesus do centro. Quando usamos a religião para ferir, estamos negando o Evangelho. A verdadeira obediência não é escravidão, mas entrega. Não é orgulho, mas humildade.

Tu és o Senhor
Portanto, irmãos e irmãs, que esta Palavra nos liberte de toda religiosidade endurecida. Que nos ensine a viver o mandamento do amor com maturidade e zelo. Que saibamos respeitar o sábado, ou seja, o tempo de Deus, e não com proibições, mas com presença, silêncio, adoração e comunhão.
E, acima de tudo, que possamos proclamar com o coração em paz: “Sim, Senhor… Tu és o Senhor também do meu tempo. Reina em mim, até nos meus silêncios e nas minhas escolhas mais simples.”
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.