Homilia diária — Lc 5,33-39 — Missa de 6ª-feira, 05/09/25

Homilia diária — Lc 5,33-39 — Missa de 6ª-feira, 05/09/25
Amados irmãos e irmãs, o trecho do Evangelho segundo São Lucas que hoje meditamos nos conduz a uma questão profunda sobre a vivência espiritual: o valor do jejum, a presença do Esposo e a novidade do Reino. Embora breve, esta passagem carrega um conteúdo espiritual vasto e transformador.

O valor da fé
Tudo começa com uma comparação feita pelos fariseus: “Os discípulos de João e também os dos fariseus jejuam frequentemente e fazem orações, mas os teus discípulos comem e bebem.” Essa observação revela, antes de tudo, uma mentalidade ainda presa a práticas exteriores, muitas vezes desprovidas do verdadeiro espírito de conversão. Para eles, o valor da fé estava no rigor das observâncias. Jesus, no entanto, propõe uma nova lógica: a lógica do amor e da presença viva de Deus entre os homens.
Logo em seguida, o Senhor responde com uma imagem nupcial: “Podeis vós fazer jejuar os amigos do noivo enquanto o noivo está com eles?” Essa pergunta é, ao mesmo tempo, uma revelação. Cristo se apresenta como o Noivo, cumprindo a profecia de Oséias, Isaías e tantos outros textos do Antigo Testamento que descrevem Deus como esposo de Israel. Aqui, Jesus não é somente mestre ou profeta: é o Deus feito Esposo. Aquele que vem desposar a humanidade com misericórdia e fidelidade eternas.
Porém, Ele não ignora o sofrimento futuro. Diz claramente: “Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, naqueles dias, eles jejuarão.” Essa afirmação aponta diretamente para a sua paixão e morte. Haverá um tempo de ausência visível. Um tempo de luto. Um tempo em que o jejum se tornará expressão de saudade, de penitência e de desejo ardente de retorno. Portanto, o jejum cristão não é um fim em si, mas uma forma de preparar o coração para a plenitude da presença de Deus.

Duas breves parábolas
A seguir, Jesus conta duas breves parábolas, centrais para a compreensão do Evangelho. A primeira diz: “Ninguém rasga um pedaço de roupa nova para remendar uma roupa velha.” E a segunda acrescenta: “Ninguém põe vinho novo em odres velhos.” Com essas imagens, Ele revela que o Reino de Deus não pode ser encaixado nas estruturas antigas. A lógica do Evangelho rompe com a mentalidade legalista, com o ritualismo vazio, com a fé puramente formal.
Dessa forma, o que Jesus propõe não é um remendo na religião antiga, mas uma nova criação. A fé cristã não é uma atualização do judaísmo. É a realização de todas as promessas em algo totalmente novo. É o vinho novo do Espírito, que precisa de corações renovados, corações dóceis, abertos, disponíveis. A vida com Cristo exige elasticidade interior. Não podemos segui-lo carregando pesos antigos, rancores antigos, estruturas mentais endurecidas.
Além disso, Ele encerra com uma frase provocadora: “Ninguém, depois de beber o vinho velho, deseja o novo, pois diz: o velho é melhor.” Essa conclusão denuncia a resistência humana à mudança. Mesmo quando o novo é melhor, há sempre uma tentação de se apegar ao conhecido, ao costume, à segurança do passado. Quantas vezes nos fechamos à ação do Espírito Santo por medo do novo? Quantas vezes rejeitamos a novidade da graça por comodismo?

Três atitudes concretas
Por isso, irmãos e irmãs, esse Evangelho nos convida a três atitudes concretas:
Primeiro, reconhecer que Jesus é o Esposo da nossa alma. Estar com Ele é alegria, é festa, é plenitude. Mas quando nos afastamos Dele, seja pelo pecado, pela distração ou pela frieza espiritual, é tempo de jejuar, rezar e retornar ao coração.
Segundo, precisamos revisar nossos hábitos religiosos. Estamos vivendo uma fé nova, viva, cheia do Espírito? Ou estamos tentando remendar uma vida velha com práticas religiosas formais? Não basta mudar por fora. É preciso renovar por dentro.
E terceiro, devemos acolher o vinho novo do Evangelho com odres novos: mente aberta, coração livre, disposição para o Espírito. Se resistirmos, perderemos o que Deus quer derramar sobre nós. Mas se acolhermos, experimentaremos a alegria de sermos transformados.

Atentos à voz do Esposo
Portanto, que estejamos atentos à voz do Esposo. Que sejamos prontos para jejuar com sentido. E, sobretudo, que permitamos que o vinho novo da graça renove cada parte de nossa vida.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.