Homilia diária — Lc 21,34-36 — Missa de sábado, 29/11/25

Homilia diária — Lc 21,34-36 — Missa de sábado, 29/11/25

Homilia diária — Missa de sábado - Hoje

Homilia diária — Lc 21,34-36Missa de sábado, 29/11/25

Hoje Jesus fala conosco como quem sacode alguém que está quase dormindo. Ele diz: “Ficai atentos a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficar de pé diante do Filho do Homem.” Assim, Ele não quer assustar ninguém, mas acordar todo mundo. Porque, vamos falar a verdade, o maior perigo da vida espiritual não é o grande pecado. O maior perigo é a sonolência da alma.

De fato, a vida corre, o tempo voa, as preocupações gritam. E, aos poucos, o coração acostuma. Acostuma com o errado, com a frieza. Acostuma com um cristianismo morno, quase automático. Por isso Jesus pede vigilância. Ele sabe que o mal não entra na nossa vida com barulho de sirene, mas com passos suaves. Entra pelas distrações, pelos pequenos descuidos, pela fé que vira costume e perde o fogo.

Além disso, quando Ele fala de “escapar de tudo o que deve acontecer”, Jesus aponta para duas realidades ao mesmo tempo. De um lado, Ele fala sobre as provações deste mundo: crises, dores, perseguições, confusão. Do outro lado, Ele se refere ao grande encontro final com Ele, no dia em que a máscara cai, o tempo termina e só a verdade permanece. Assim, Ele nos prepara para o caminho e para a chegada.

Por conseguinte, a ordem “ficai atentos” não é convite para uma vida ansiosa. Jesus não manda ninguém viver em pânico, olhando notícia o dia inteiro, com medo do futuro. Ele pede atenção de quem ama. Quem ama, cuida, vigia e fica acordado. Não por medo da punição, mas por desejo de não perder o encontro.

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Como ter força interior

Agora, repare que Ele também fala de “ter força”. Isso mostra que a vigilância não depende só do nosso esforço humano. O Senhor sabe que nós cansamos, desanimamos, tropeçamos. A força para permanecer de pé diante das tempestades vem da graça. A gente não se aguenta sozinho. A gente se sustenta na oração, na Palavra, na Eucaristia, na confissão, na amizade com Deus.

Assim, a vigilância cristã não significa só “tomar cuidado com o pecado“. Ela significa, antes de tudo, manter o coração voltado para o céu, sem fugir das responsabilidades na terra. Um cristão atento reza, mas também age. Ele olha para Deus, mas não esquece o irmão. Ele espera a vinda de Cristo, mas vive o hoje com responsabilidade e amor.

Além disso, essa palavra de Jesus toca diretamente o nosso modo de viver o dia a dia. Quantas vezes acordamos, corremos, trabalhamos, reclamamos, consumimos, nos distraímos… e não paramos um instante para pensar: “Para onde a minha vida está indo? O que eu estou semeando? Em que eu estou gastando o meu coração?” A falta de reflexão lenta transforma a vida numa sequência de coisas, sem direção.

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Vigilância

Por isso, a vigilância que o Senhor pede inclui exame de consciência. Inclui parar, olhar para dentro e perguntar: “O que me afasta de Deus? O que rouba o meu tempo de oração? Que tipo de conteúdo alimenta minha mente? Que relações enfraquecem minha fé?” Quem não faz essas perguntas caminha no escuro. E quem anda na escuridão tropeça com facilidade.

No entanto, Jesus não fala só de perigo, Ele fala também de promessa. Ele diz que, se ficarmos atentos, teremos força para “ficar de pé diante do Filho do Homem“. Imaginar essa cena já vale uma vida inteira: você, diante de Cristo, de pé, não porque é perfeito, mas porque se deixou erguer por Ele. De pé, não por orgulho, mas por graça. De pé, com o coração limpo, ainda que com cicatrizes, porém curado.

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A vigilância verdadeira

Além disso, essa imagem de “ficar de pé” lembra a ressurreição. O pecado derruba, a graça levanta. O medo paralisa, o Espírito impulsiona. O Reino de Deus não gera gente curvada pelo desespero, mas filhos que caminham com esperança. A vigilância verdadeira não rouba a alegria, ela protege a alegria. Porque quem vive desperto não se engana com as ilusões deste mundo.

A partir disso, a pergunta que fica é bem concreta: como viver essa vigilância no meio da correria? Não precisamos inventar nada mirabolante. Em primeiro lugar, crie momentos reais de silêncio com Deus. Não aquele silêncio cheio de celular na mão. Silêncio de desligar tudo, respirar e dizer: “Senhor, estou aqui.” Poucos minutos diários podem mudar o rumo de um coração.

Em segundo lugar, alimente-se da Palavra. Não dá para ficar atento à voz de Deus se a única voz que entra é a da internet. Leia o Evangelho, nem que seja um trecho pequeno, todos os dias. Deixe uma frase acompanhar o dia. A Palavra funciona como luz de lanterna na noite. Não afasta a noite, mas mostra onde pisar.

Em terceiro lugar, vigie o coração. Quando perceber que o rancor aumenta, que a inveja cresce, que a preguiça domina, não brinque com isso. Leve para a oração, para a confissão, para o conselho de alguém sábio. Combata cedo o que amanhã pode virar prisão. A alma não apodrece de repente; ela estraga aos poucos, quando ninguém presta atenção.

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Rezemos

Por fim, lembre-se de que Jesus não fala essas coisas para condenar você, e sim para salvar você. Ele não é um fiscal de falhas, Ele é um Pastor que chama o rebanho de volta. Quando Ele diz “ficai atentos”, Ele diz também “eu estou com vocês”. Não caminhamos para o encontro com um estranho. Nós vamos ao encontro de Alguém que já nos ama hoje.

Que essa palavra do Senhor cutuque, sim, mas conforte também. Que ela tire o sono da alma preguiçosa, mas traga descanso à alma cansada. E que, no meio de tanta distração, você consiga dizer, de coração aberto: “Jesus, eu quero viver atento. Dá-me força. Não me deixa dormir na fé. Mantém-me de pé, hoje e naquele dia, diante do teu rosto.”. Amém.