Homilia diária — Lc 13,22-30 — Missa de domingo, 24/08/25

Homilia diária — Lc 13,22-30 — Missa de domingo, 24/08/25
Irmãos e irmãs, hoje fazemos eco da promessa que transpassa as fronteiras humanas: “Virão do oriente e do ocidente, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus.” Ao pronunciar estas palavras, o Senhor desenha diante de nós a cena do banquete escatológico — não um simples convite social, mas a quinta-essência do desígnio divino: a re-união de toda a criação em torno do Verbo que fez morada entre nós.
Neste banquete, a distância geográfica e a diferença cultural perdem o poder de excluir; ali o critério de seleção não será raça, posição ou riqueza, mas a misericórdia que transforma o coração e a fé que rende obras de amor.
Assim, a imagem dos que vêm “do oriente e do ocidente” denuncia a surpresa constante do Reino. Deus não se prende às nossas expectativas estreitas, mas Ele chama de onde menos esperamos. Recordemos como os antigos mestres nos ensinaram que a esponsalidade divina excede qualquer pauta humana, pois Deus vai além do círculo do visível e atraíra para Si até os que julgávamos distantes.
Portanto, o convite divino nos corrige e nos impõe humildade: não presumamos sobre quem pertence ao banquete; antes, trabalhemos para que ninguém seja privado da mesa por nossa negligência ou preconceito.

A “mesa” do Reino
Além disso, a “mesa” do Reino remete imediatamente à Eucaristia, sacramento antecipador daquela festa definitiva. Quando nos assentamos à mesa do Pão partido, ingressamos numa comunhão que já supera as barreiras: ali experimentamos o sinal de que a unidade prometida se inicia no convívio litúrgico.
Desse modo, a liturgia assume caráter missionário: cada missa nos envia renovados para procurar quais ficaram à margem, para repartir o pão e para denunciar toda estrutura que exclui. Se a comunidade cristã celebra eucaristicamente e depois vive excluindo, ela contradiz o próprio mistério que professou.
Consequentemente, a promessa tem uma dimensão moral urgente. Virão do oriente e do ocidente, mas quem dá lugar à mesa?
A resposta se manifesta em obras: a acolhida ao estrangeiro, o cuidado com o pobre, a atenção aos deserdados, a denúncia das injustiças econômicas e ambientais que impedem o acesso ao necessário. A justiça cristã não é ideologia; é caridade organizada em gestos concretos. Assim, quando abrimos a porta da nossa casa, da nossa comunidade, ou do nosso coração, para o outro, imitamos a lógica do Reino que transforma respeito em acolhimento e encontro em festa.

Limpar a mesa do preconceito
Ademais, a cena escatológica nos convida a um exame de consciência íntimo: não será que muitas vezes nos encantamos com pequenas mesas fechadas, que servem mais ao orgulho do que à partilha? Quantas ocasiões perdemos por medo de sujar a etiqueta, por escrúpulos mesquinhos sobre quem merece companhia?
O Evangelho exige de nós conversão neste ponto: limpar a mesa do preconceito, retirar de nós a gaveta das desculpas, e deixar que o Espírito nos transforme em comunidade capaz de sentar qualquer irmão à nossa direita.
Além disso, o dizer “virão do oriente e do ocidente” também nos impele a pensar globalmente. A fé cristã não triunfa quando se limita a bolhas identitárias. Ela cresce quando atravessa mares, confins e idiomas, e quando se converte ao rosto sofredor do mundo inteiro.
Por isso, a missão evangelizadora que nos foi confiada pressupõe coragem para sair, humildade para aprender outras culturas, e sensibilidade para articular a verdade com a caridade. Um cristianismo fechado em si não prepara mesa; somente conserva migalhas demais para poucos.

Rezemos
Finalmente, irmãos, vivamos esta Palavra com esperança prática. Rezemos para que o Senhor nos dê um coração que saiba convidar, mãos que saibam servir, olhos que saibam ver o rosto divino em cada estrangeiro.
Façamos da nossa comunidade um prólogo do banquete eterno: que nossas celebrações alimentem gestos solidários; que nossas decisões públicas e privadas promovam inclusão; e nossos lares tornem-se mesas onde o alimento material e espiritual circula livremente.
Então, com a confiança dos santos e a paciência dos antigos, aguardaremos o dia em que, reunidos do oriente e do ocidente, conversaremos à mesa do Rei e cantaremos, por fim, a única canção digna: aquela que louva o Amor que chamou a todos. Amém.