Homilia diária — Lc 12,39-48 — Missa de 4ª-feira, 22/10/25
Homilia diária — Lc 12,39-48 — Missa de 4ª-feira, 22/10/25
O Evangelho de hoje é um verdadeiro chamado à vigilância. Jesus nos convida a viver com o coração desperto, como servos que sabem que o Senhor pode chegar a qualquer momento. Ele usa a imagem do ladrão que vem sem aviso, não para assustar, mas para despertar. Porque o perigo maior da vida cristã não é o pecado visível, mas a distração que nos faz esquecer para quem vivemos e por que vivemos.
Jesus diz: “Se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão viria, não deixaria que arrombasse a casa.” É uma comparação forte, e o sentido é claro: quem ama a Deus não pode viver dormindo espiritualmente. A fé não é um sentimento ocasional, mas uma vigilância constante. O Reino não é promessa distante, é realidade que se aproxima a cada dia, em cada decisão, em cada ato de amor ou indiferença.

Ser vigilante
Ser vigilante não significa viver com medo, mas viver com consciência. Significa cuidar do que nos foi confiado, e tudo o que temos, absolutamente tudo, é dom. A vida é dom, a fé é dom, as pessoas que amamos são dom. E, como diz Jesus, “A quem muito foi dado, muito será pedido.” Não como ameaça, mas como apelo à responsabilidade.
Veja: Deus não exige o impossível. Ele só pede coerência entre o que recebemos e o que fazemos com isso. Se Ele te deu amor, quer que ames; se deu sabedoria, quer que a uses para o bem, Finalmente, se te deu tempo, quer que o transformes em serviço. O Senhor não cobra quantidade de talentos, mas fidelidade no uso deles.
No entanto, o Evangelho vai além. Jesus fala dos servos: o fiel e o infiel. O servo fiel vive atento, cumpre o que o Senhor espera mesmo quando ninguém está olhando. Já o infiel se aproveita da ausência do patrão, se acomoda, se serve em vez de servir. E aqui está o perigo de muitos corações, quando a demora de Deus se transforma em desculpa para o desleixo espiritual.
Ainda há tempo?
Quantas vezes adiamos a conversão, dizendo: “Ainda há tempo”? Quantas vezes deixamos de amar, achando que poderemos amar depois? Mas o “depois” pode não chegar. O Reino de Deus não virá somente no fim dos tempos, ele chega a cada instante, no perdão que concedemos, na mão que estendemos, na palavra que silenciamos.
Ser vigilante, portanto, é viver o presente com o coração no eterno. É estar pronto não porque tememos o juízo, mas porque amamos o Senhor. Quem ama quer estar preparado: cuida e vive desperto.
Mas há também aqui uma advertência suave e profunda: quanto mais conhecemos a Deus, mais d’Ele se espera em nós. Então, não basta ouvir o Evangelho, é preciso deixar que ele nos transforme. E tampouco basta conhecer a verdade, é preciso vivê-la. O maior escândalo da fé não vem do erro, mas da incoerência.
Maturidade
Hoje, o Senhor nos chama à maturidade. A fé infantil pede milagres; a fé adulta oferece fidelidade. O servo maduro não se preocupa em saber a hora, mas em estar pronto a qualquer hora. E, no fundo, é isso que Jesus quer de nós: um coração desperto, uma fé viva, uma vida coerente.
Então, irmãos, olhemos para dentro de nós. Como temos administrado os dons que Deus nos confiou? Temos sido servos fiéis, atentos e generosos? Ou temos deixado o cansaço, o medo e a pressa roubarem nossa vigilância?
Peçamos hoje a graça de viver com o coração em alerta e a alma em paz. Que o Espírito Santo nos ensine a transformar o tempo em eternidade e o cotidiano em oferta. Que Ele nos encontre de pé, com as mãos no trabalho e os olhos voltados para o céu.
E quando o Senhor vier, no fim dos tempos ou no silêncio da nossa morte, que Ele possa olhar para nós e dizer: “Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor.”
Amém.