Homilia diária — Lc 10,25-37 — Missa de 2ª-feira, 06/10/25

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Homilia diária — Lc 10,25-37Missa de 2ª-feira, 06/10/25

A pergunta que nasce no Evangelho de hoje é uma das mais antigas e, ao mesmo tempo, das mais urgentes do nosso tempo: “E quem é o meu próximo?” Não é uma dúvida teórica de um doutor da Lei curioso, mas uma pergunta que revela o coração humano tentando limitar o amor.

Afinal, amar é fácil quando é conveniente. Amar quem nos agrada, quem pensa como a gente, quem nos elogia: isso não exige conversão, pois o difícil é amar quem está caído à beira do caminho. O desafio é reconhecer como “próximo” aquele que o mundo já rotulou como “distante”.

Somente… apressados

Jesus responde com uma história simples, mas poderosa. Um homem é assaltado, espancado e deixado quase perecido na estrada, então, passam por ele um sacerdote e um levita, homens religiosos, respeitados, conhecedores da lei. No entanto, ambos desviam o olhar e ambos seguem adiante.

Eles não eram maus. Somente… apressados. Cegos pelo próprio ofício. Presos a uma religião sem compaixão. Tinham os rituais, mas faltava-lhes coração. Tinham a teoria, mas lhes faltava o gesto. E, assim, a fé sem misericórdia tornou-se estéril.

Entretanto, eis que vem um samaritano, um estrangeiro: um homem que, para os judeus, era impuro, herege, indigno. E é ele quem para, quem se aproxima, quem se comove. Então, derrama azeite e vinho sobre as feridas, e põe o homem sobre seu animal, leva-o à hospedaria, paga as despesas e promete voltar.

Veja que beleza há nesse gesto: afinal, o samaritano não pergunta de onde o homem é, nem o que ele fez, nem se merece ajuda. Ele simplesmente ama. E esse amor não se explica, se vive.

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Compaixão se transforma em ação

Aqui está o coração do Evangelho: Jesus não está ensinando boas maneiras, antes, Ele está mostrando o rosto de Deus. Percebemos então que o samaritano é imagem do próprio Cristo: Ele é aquele que nos encontra feridos pela vida, ensanguentados pelos nossos pecados, e se inclina sobre nós. Ele não desvia, nem calcula. Antes, ele nos carrega nos ombros. Paga nossa dívida. Cura nossas feridas com o óleo da misericórdia e o vinho do Seu sangue.

O amor do samaritano não é um sentimento: é algo prático, marcado pela poeira, pelo suor e pelo risco. É um amor que se compromete de verdade. O cristianismo autêntico começa exatamente nesse ponto: quando a compaixão se transforma em ação.

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Quem é o meu próximo hoje?

Perguntemo-nos, então, com sinceridade: quem é o meu próximo hoje? É aquele que ignoro ou o que pensa diferente ou que me feriu? Porventura seria aquele que eu já cansei de perdoar? O que me clama ajuda e eu fingo não ver?

Cristo nos chama a romper os limites do conforto. A derrubar os muros que construímos entre “nós” e “eles”. Porque o próximo não é quem está próximo, é aquele a quem decido me aproximar.

E repare: Jesus termina perguntando ao doutor da Lei: “Quem foi o próximo daquele homem caído?” Veja, Ele inverte a lógica. A pergunta não é mais “Quem é o meu próximo?”, mas “De quem eu decidi ser próximo?”.

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Foste próximo de quem?

O amor cristão não depende da identidade do outro, mas da disposição do meu coração. Amar é iniciativa, não resposta. É escolha, não instinto.

Talvez seja essa a conversão que falta a tantos de nós: trocar a indiferença pela compaixão, a pressa pela presença, o julgamento pelo cuidado. Porque amar o outro é tocar o próprio Cristo.

Então, ao final, só restará uma pergunta diante de Deus: “Foste próximo de quem?”. E, quem sabe, naquele dia, Ele sorrirá e dirá: “Eu estava caído à beira do teu caminho… e tu paraste.”

Amém.