Homilia diária — Exaltação da Santa Cruz — Missa de domingo, 14/09/25

Homilia diária — Exaltação da Santa Cruz — Missa de domingo, 14/09/25

Homilia diária — Exaltação da Santa Cruz — Missa de domingo, 14/09/25

Irmãos e irmãs, hoje a Igreja ergue diante de nós o sinal que nos salvou, a madeira humilhada que se fez trono de glória, e convida-nos a contemplar o mistério paradoxal da Cruz: instrumento de ignomínia transformado em árvore da vida.

Desde as primeiras gerações da fé, os nossos mestres viram na serpente levantada por Moisés a figura do Senhor erguido na cruz, e assim aprendemos que Deus reverte a sentença do pecado fazendo daquilo que parece derrota a própria vitória redentora.

Quando contemplamos a Cruz, contemplamos ao mesmo tempo o peso do nosso pecado e a plenitude da misericórdia que o cobre; contemplamos a justiça que reclama reparação e o amor que assume o pagamento, oferecendo-se por nós até o fim.

Contudo, não reduzamos a Cruz a uma teoria abstrata. Teologicamente, ela revela a economia da encarnação: o Verbo não poupou a carne que assumiu, e nessa carne aceitável ao Pai consumou o sacrifício que reconcilia.

Nas palavras antigas, a Cruz manifesta a eficácia sacrificial do Corpo do Senhor, a recapitulação de toda a humanidade, de sorte que aquilo que Adão perdeu encontra em Cristo novo começo. Por isso a cruz não é contradição, antes é o centro lógico da fé cristã, onde se cruzam justiça e compaixão, juízo e perdão, condenação e restauração.

Os Padres insistem nisso sem rodeios, porque somente num coração purificado cabe a compreensão: a glória de Deus passa por um caminho de humildade extrema.

Além disso, a cruz tem um rosto maternal, porque nela se revela o amor que não calcula custos. Maria esteve junto ao madeiro, pé junto ao madeiro perfurado, e por isso a espiritualidade antiga nos ensina a receber a Cruz como dom que nos conforma ao Coração do Filho.

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Implicações práticas desta solenidade

Aceitar a Cruz não significa buscar sofrimento gratuitamente; significa unir nossos sofrimentos ao sacrifício de Cristo, oferecer as nossas dores como matéria viva para a transformação do mundo, e assim participar ativamente da redenção.

A liturgia faz-nos repetir isso quando canta o Senhor crucificado, e a Eucaristia atualiza esse mistério, porque o mesmo Cristo que sofreu no madeiro se entrega hoje como Pão de Vida para a nossa santificação.

E quais são as implicações práticas desta solenidade para a vida de cada dia? Em primeiro lugar, aprendamos a ler os sinais da provação com olhos de fé. Quando a enfermidade, a perda ou a incompreensão nos atingem, fiquemos com a perplexidade do instante, e tomemos cada cruz pequena como escola de renúncia e de amor.

Em segundo lugar, transformemos atitudes: a livre doçura do perdão, a paciência nas relações, a austeridade voluntária no consumo, tudo isso constitui uma maneira concreta de exaltar a Cruz no cotidiano. Em terceiro lugar, assumamos a responsabilidade social que o mistério implica: a cruz que salvou nos impele a carregar a cruz dos irmãos, a denunciar estruturas que oprimem e a partilhar os bens para que ninguém carregue o peso da vida sozinho.

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Oremos

Por fim, permitamo-nos ser evangelizadores da Cruz no mundo que busca sinais de força e sucesso. Anunciamos um Deus que venceu, não por glória humana, mas por entrega radical.

Então, diante de humilhações ou fracassos, apontemos sempre para aquela madeira levantada, e digamos com convicção que ali reside a última palavra sobre o mal e sobre a morte. Se ouvirmos o convite do Senhor a tomar a nossa cruz e segui-lo, receberemos também a promessa: quem morrer por amor a Cristo encontrará a vida eterna.

Que a Virgem, Mãe do Crucificado, nos obtenha a graça de acolher a Cruz com fé, de amar com mansidão e de testemunhar no mundo que, pelo madeiro exaltado, nos foi dada a verdadeira vida. Amém.