Que o zelo de Jesus nos consuma, e sua paixão pelo sagrado nos inspire a vivermos uma fé profunda e autêntica – Homilia diária — Evangelho de hoje — Sábado, 09/11/24
Homilia diária — Evangelho de hoje — Sábado, 09/11/24
Estamos diante de uma das passagens mais poderosas e simbólicas dos Evangelhos. Jesus, ao subir a Jerusalém, entra no Templo e encontra algo que o incomoda profundamente. Ele vê ali o que não deveria estar: o sagrado misturado com o profano, a fé com a ganância, a casa de Deus transformada em mercado. E Jesus, em um ato ousado, um ato que parece até abrupto aos olhos de muitos, faz um chicote e expulsa dali os vendedores, os animais, os cambistas. Ele espalha moedas pelo chão e derruba mesas com uma firmeza que raramente vemos em outras passagens.
Esse gesto de Jesus não é apenas uma explosão de raiva; é um gesto profético, um sinal de uma nova ordem, de uma nova visão sobre o que é sagrado. O Templo, que para o povo judeu era a própria morada de Deus, estava sendo desviado do seu propósito. Os rituais e as oferendas tornaram-se comércio, e a espiritualidade se esvaziava, transformada em moeda de troca. O que Jesus faz, meus irmãos, é restituir o verdadeiro sentido do Templo, da Casa do Pai.
Ele nos lembra que o Templo não é um lugar de troca, mas um lugar de encontro. Não é um espaço para barganhar com Deus, mas um espaço de entrega e de louvor. Jesus nos ensina que a Casa de Deus é sagrada, mas nos provoca a entender que a santidade não está nas paredes, nos rituais, ou nos sacrifícios visíveis. A santidade está na intenção, no coração que busca a Deus sem intermediários, sem preço, sem máscaras.
Quando Jesus declara: “Destruí este Templo, e em três dias o levantarei”, ele faz um anúncio profundo e misterioso. Ele não fala de tijolos e pedras; ele fala do Templo vivo, do seu próprio corpo, que seria destruído na cruz e erguido três dias depois na ressurreição. Jesus, o novo Templo, revela uma mudança radical. A morada de Deus não se limita mais ao Templo de Jerusalém. Não está mais em um edifício, mas no próprio Cristo, que, ao ressuscitar, se torna o novo santuário, onde todos nós somos convidados a entrar.
Uma purificação profunda
Esse convite é para cada um de nós. Assim como Jesus fez no Templo de Jerusalém, ele quer entrar em nosso coração e expulsar tudo o que não pertence a Deus. Porque nós também, queridos irmãos e irmãs, somos Templo do Espírito Santo. Nosso coração, nossa mente, nossa vida devem ser morada de Deus. Mas quantas vezes permitimos que outras coisas entrem e ocupem o espaço que é só dele? Quantas vezes deixamos que o orgulho, a vaidade, o egoísmo, e as preocupações do mundo transformem o sagrado em mercado?
Jesus nos convida, com seu exemplo, a uma purificação profunda. Ele quer derrubar as mesas dos cambistas dentro de nós, quer espalhar as moedas das nossas vaidades, quer expulsar do nosso interior tudo o que é pequeno demais para a grandiosidade de Deus. Ele quer, por fim, restaurar o sagrado dentro de cada um de nós.
Mas o que isso significa na prática? Significa, meus irmãos, que nossa vida de fé precisa ser real, precisa ser sincera. A religião não pode ser apenas um ritual, um costume, algo externo. Ela precisa ser a força que move nossa alma, o fundamento do nosso ser. Jesus nos chama a transformar nosso coração em um altar, em um espaço onde Deus verdadeiramente habita e onde nossa vida reflete a glória d’Ele.
O zelo por tua casa me consumirá
Ao lembrar a palavra do salmo: “O zelo por tua casa me consumirá”, vemos que o zelo de Jesus é um amor ardente, um amor que corrige, que transforma, que eleva. Ele nos ama tanto que não quer nos ver pequenos, presos às coisas do mundo, às nossas limitações. Ele nos quer grandes, nos quer santos, nos quer livres para amar e servir a Deus em plenitude.
Por isso, hoje, somos chamados a abrir o nosso coração e permitir que Jesus o purifique, que ele faça nele uma casa digna para o Pai. Que ele expulse tudo o que nos afasta de Deus, tudo o que nos torna superficiais, tudo o que é desordem e divisão. E que, no lugar disso, ele nos ensine a sermos templos vivos, templos de amor, templos de paz, templos de verdadeira fé.
Que o zelo de Jesus nos consuma também. Que sua paixão pelo sagrado nos inspire a vivermos uma fé profunda e autêntica, onde Deus é o centro, e tudo o mais é secundário. Possamos, como ele, construir dentro de nós um espaço de louvor e gratidão, onde o Pai é honrado e o Filho é glorificado em cada um de nossos gestos e palavras. E, assim, caminharemos na certeza de que somos, em Cristo, o novo Templo, a nova morada de Deus. Amém.