E é aqui que o Evangelho nos confronta: Qual é o nosso Jerusalém? Para onde Deus está nos chamando, mas temos medo de ir? Homilia diária — Evangelho de hoje — 5ª-feira, 31/10/24
Homilia diária — Evangelho de hoje — 5ª-feira, 31/10/24
Irmãos e irmãs, hoje o Evangelho nos coloca diante de uma cena poderosa e cheia de simbolismo. Um encontro tenso, onde Jesus recebe um alerta: “Herodes quer te matar”. Agora, imagine só a situação. Jesus está a caminho de Jerusalém, e, no meio do caminho, aparecem os fariseus, dizendo: “Vai embora! O rei te persegue”. Para muitos, isso seria motivo suficiente para fugir. Quem não pensaria em salvar a própria pele? Mas Jesus… Jesus faz o oposto.
Ele responde com uma serenidade cortante: “Ide dizer a essa raposa…”. Ah, aqui já começamos a ver o tom do nosso Senhor. Ele chama Herodes de “raposa”! Não é um insulto gratuito, mas uma figura carregada de sentido. Uma raposa é astuta, traiçoeira, perigosa, mas também é covarde. Ela se esconde na toca, ataca na surdina. E Jesus, com uma coragem monumental, revela que não teme essa ameaça sorrateira. Ele não está à mercê do medo, nem das armadilhas dos poderosos.
Mas, veja só, ele continua: “Eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã, e no terceiro dia terminarei o meu trabalho.” Percebem a força nessas palavras? Ele está dizendo: Eu sei o que vim fazer, e nada vai me parar. Não há pressa, não há pânico. Jesus tem uma missão e vai cumpri-la no tempo certo. É uma fala que já prenuncia a ressurreição. O “terceiro dia” aqui não é apenas uma medida de tempo — é a promessa de que, mesmo quando tudo parece perdido, o fim da história ainda está nas mãos de Deus.
E mais: Jesus sabe que sua missão tem um destino. “Não convém que um profeta morra fora de Jerusalém.” Ele caminha para Jerusalém como quem sabe que a cruz o espera, mas não recua. Isso nos ensina algo profundo, meus irmãos: o amor verdadeiro caminha até o fim. Não para na primeira dificuldade. Não se desvia ao primeiro sinal de perigo. Jesus vai até Jerusalém, porque sabe que ali é o lugar onde o plano de Deus se realizará, por mais doloroso que seja.
Agora, veja como o tom da fala muda de repente. Jesus olha para Jerusalém e seu coração se enche de tristeza: “Jerusalém, Jerusalém! Tu que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados!” É um lamento profundo. Dá para sentir a dor nas palavras dele, não dá? Ele vê Jerusalém não como uma cidade qualquer, mas como um povo amado que, por tantas vezes, rejeitou o amor que lhe foi oferecido. É como se ele dissesse: Eu tentei! Quantas vezes eu tentei! Mas eles não quiseram ouvir.
A imagem que Jesus usa aqui é linda e cheia de significado: “Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, mas tu não quiseste!” Que imagem poderosa! A galinha não é uma criatura grandiosa, nem forte. Mas o que ela tem, ela oferece — seu abrigo, seu calor, sua proteção. É um amor simples, humilde, mas profundo. Jesus nos compara a pintainhos indefesos, que ele só quer proteger. E ainda assim, muitos escolhem se afastar. Não é irônico? Tanta gente procurando segurança, mas rejeitando a única proteção que realmente importa.
E então vem a sentença final: “Eis que vossa casa ficará abandonada.” Esse abandono é consequência da escolha de rejeitar a presença de Deus. Não porque Deus os abandonou, mas porque eles o afastaram. E isso, meus irmãos, é um alerta para todos nós. Quantas vezes Deus bate à nossa porta e nós fingimos que não ouvimos? Quantas vezes ele estende suas asas para nos proteger, mas nós preferimos andar sozinhos? Essa casa vazia é o retrato do que acontece com o coração que se fecha para Deus. Um coração sem Deus é uma casa abandonada, fria, escura.
Mas Jesus não termina o Evangelho com uma condenação. Ele encerra com uma promessa: “Não me vereis mais, até que chegue o tempo em que vós mesmos direis: ‘Bendito aquele que vem em nome do Senhor’.” É como se ele dissesse: Ainda há esperança. O tempo da graça vai chegar. Um dia, aqueles que hoje o rejeitam reconhecerão o Messias e o acolherão com alegria. Porque, no fundo, irmãos, Deus nunca desiste de nós. Mesmo quando nos afastamos, ele continua esperando o nosso retorno.
E é aqui que o Evangelho nos confronta: Qual é o nosso Jerusalém? Para onde Deus está nos chamando, mas temos medo de ir? Estamos dispostos a seguir até o fim, mesmo sabendo que o caminho pode ser difícil? Estamos prontos para nos abrigar debaixo das asas do Senhor, ou vamos continuar tentando fazer tudo sozinhos?
A resposta de Jesus é clara: Ele caminha. Ele avança. Ele não se detém diante de Herodes, nem diante de Jerusalém, nem mesmo diante da cruz. E ele nos convida a caminhar com ele. Hoje, amanhã e depois de amanhã. Porque a verdadeira coragem é essa: seguir em frente, confiando que, no terceiro dia, o Pai nos espera com a vitória definitiva. Amém.