Homilia diária — Dedicação da Basílica do Latrão — Missa de domingo, 09/11/25
Homilia diária — Dedicação da Basílica do Latrão — Missa de domingo, 09/11/25
Hoje a Igreja celebra a Dedicação da Basílica de São João de Latrão, a catedral do Papa, a “mãe e cabeça de todas as igrejas de Roma e do mundo”. Mais do que uma festa para recordar pedras antigas e paredes sagradas, esta solenidade nos convida a olhar para o verdadeiro templo que Deus deseja habitar: o coração humano.
No Evangelho, Jesus entra no Templo de Jerusalém e se depara com um cenário de desrespeito: cambistas, vendedores, barulho, comércio. A casa de oração havia se transformado em um mercado. Então Ele faz um gesto firme, mas profundamente simbólico: expulsa os vendedores e declara com autoridade: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!”

Hipocrisia
Este episódio não retrata a ira de um homem; revela a pureza do amor de Deus. Jesus não destrói o templo, Ele o purifica. O que Ele combate não é o sacrifício, mas a falsidade. O que o indigna não é a oferta, mas a hipocrisia. O zelo que o consome é o amor apaixonado de quem não suporta ver o sagrado reduzido à aparência.
E quando os judeus exigem um sinal, Jesus fala algo misterioso: “Destruí este templo, e em três dias o levantarei.” Eles pensam que Ele se refere ao prédio, mas Ele falava do próprio corpo. A partir desse momento, o templo deixa de ser um edifício e passa a ser uma Pessoa: Cristo é o novo Templo. É nele que Deus e a humanidade se encontram. É nele que o amor habita plenamente.

Por isso, celebrar a Dedicação de uma basílica é, antes de tudo, renovar nossa consciência de que nós somos templos vivos do Espírito Santo. A Igreja de pedra é sinal da Igreja de carne. Cada parede consagrada aponta para o mistério da alma consagrada. Cada altar físico é reflexo do altar interior onde Deus quer oferecer a Sua graça.
Mas como está o nosso templo? Quantas vezes o deixamos cheio de ruídos, de negociações internas, de trocas e interesses. Quantas vezes Deus quer falar, e o coração está ocupado demais com o barulho das próprias vontades. Jesus continua entrando em nossos templos pessoais, derrubando mesas, virando cadeiras, expulsando tudo o que não é amor.

Misericórdia
A purificação de Jesus é um ato de misericórdia. Ele não destrói o que é sagrado, Ele o devolve ao seu sentido original. O templo que Ele quer em nós é um espaço de oração, silêncio e comunhão. Um lugar onde o Espírito Santo possa repousar com liberdade.
Hoje, o Senhor nos pede: deixem-me purificar seus templos. Deixem-me varrer o orgulho, o medo, a indiferença. Deixem-me habitar plenamente no coração de vocês. Porque não há templo mais belo que uma alma em estado de graça.
A Basílica do Latrão permanece como sinal visível da Igreja universal, mas o verdadeiro santuário é aquele que cada um carrega dentro de si. Se o mantivermos limpo, iluminado e acolhedor, Deus fará dele a Sua morada permanente.
Peçamos hoje, com humildade: Senhor, entra no templo do nosso coração, remove o que te ofende, reacende o que te glorifica e faz de nós moradas vivas do Teu amor.
Amém.
