Homilia diária da liturgia católica — Domingo, 29/12/24

Ele é o lugar onde encontramos Deus. Não precisamos mais viajar longas distâncias – Homilia diária da liturgia católica — Domingo, 29/12/24

Homilia — Domingo, 29/12/24

Queridos irmãos, o Evangelho de hoje nos leva a um momento único e cheio de simbolismo na vida de Jesus: Sua ida ao Templo aos doze anos. É uma cena que nos faz parar e refletir. É simples à primeira vista, mas como um diamante, brilha com muitas facetas quando olhamos mais de perto.

Imagine a cena: uma caravana animada, as vozes de centenas de pessoas misturadas com o som dos passos na estrada. Maria e José, como bons judeus, levam Jesus a Jerusalém para a festa da Páscoa. Era uma viagem de fé, de comunhão com o povo, de encontro com Deus. Até aqui, tudo parecia normal. Mas, ah, Deus sempre surpreende, não é mesmo?

A festa termina, a caravana começa a voltar, e então vem o susto. Jesus não está lá. Imaginem o coração de Maria e José. Aquele aperto no peito, a mente confusa, o medo crescendo como um rio que transborda. Eles voltam a Jerusalém, procurando por Ele. Três dias! Três dias, irmãos! Não é coincidência. Já ouvimos falar de três dias antes, não? Três dias no ventre da terra, três dias até a ressurreição. Aqui está o prenúncio. Algo grande está por vir.

E onde encontram Jesus? No Templo. Não no mercado, não brincando nas ruas. Mas no coração do sagrado, sentado entre os mestres, ouvindo e perguntando. É aqui que começamos a entender o mistério.

O Templo


O Templo era o lugar onde o céu e a terra se encontravam. Era onde o povo de Israel ia para se encontrar com Deus. E agora, o próprio Deus encarnado está lá. Vejam a ironia divina: os mestres, com toda sua sabedoria, estão diante daquele que é a própria Sabedoria, e não percebem. Jesus, com apenas doze anos, ensina que a verdadeira comunhão com Deus não depende de idade ou status, mas de um coração aberto ao mistério.

E quando Maria pergunta: “Filho, por que fizeste isso?”, Ele responde com algo que parece enigmático, mas é profundamente revelador: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?

Essa frase é uma chave. Jesus nos ensina que nossa vida precisa ter um centro, e esse centro é Deus. Muitas vezes, como Maria e José, nós perdemos Jesus. Não porque Ele nos abandona, mas porque nos distraímos com tantas coisas. Nossa caravana da vida é barulhenta, cheia de ocupações, e Jesus fica para trás. Mas Ele sempre nos espera. E onde? No Templo, no coração, na oração, naquilo que é essencial.

E vejam, Ele não estava apenas no Templo físico. Ele era o próprio Templo. Ele é o lugar onde encontramos Deus. Não precisamos mais viajar longas distâncias; basta olhar para Ele, segui-Lo, ouvi-Lo.

A obediência


Depois disso, Jesus desce com Maria e José e lhes é obediente. Que contraste, não é? O Deus do universo, obediente a um casal simples de Nazaré. Aqui está o mistério da encarnação: Ele, que sustenta o cosmos, se faz pequeno, humilde, submisso. Não é isso que nos falta muitas vezes? A humildade de obedecer, de confiar, de escutar quem Deus coloca em nosso caminho?

E o Evangelho termina com uma frase que parece discreta, mas é grandiosa: “Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens.” Ele, o Filho de Deus, se submete ao processo humano de crescer, aprender, amadurecer. Isso nos lembra que a santidade também é um caminho, um passo de cada vez.

E agora, irmãos, a pergunta é: onde está Jesus em nossa vida? Perdemos o foco? Estamos procurando por Ele nos lugares errados? Ele nos chama ao Templo, ao coração, à oração, à simplicidade de reconhecê-Lo no cotidiano. Ele nos ensina que o mistério de Deus não é algo distante, mas está ao nosso alcance, se tivermos olhos para ver.

E que possamos, como Maria, guardar tudo isso em nosso coração. Porque o verdadeiro encontro com Deus não é só para entender, mas para viver. Amém!