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O matrimônio cristão não se sustenta apenas na força humana, mas na graça divina. Homilia diária da liturgia católica — 6ª-feira, 28/02/25
Homilia — 6ª-feira, 28/02/25
O Evangelho de hoje nos apresenta um tema delicado, mas essencial para a nossa vida cristã: o matrimônio e sua indissolubilidade. Os fariseus se aproximam de Jesus não para buscar a verdade, mas para testá-Lo, tentando colocá-Lo contra a Lei de Moisés. Perguntam se é permitido ao homem divorciar-se de sua mulher, esperando talvez que Ele contradissesse a tradição. Mas Jesus não cai na armadilha. Em vez de dar uma resposta baseada apenas na lei mosaica, Ele nos leva de volta ao plano original de Deus para o casamento.
“Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento.” Com essa resposta, Jesus revela que o divórcio nunca foi parte do projeto divino. Ele foi permitido devido à dureza de coração do ser humano, à incapacidade de viver plenamente o amor com fidelidade. Mas o que Deus quer para nós vai muito além da lei e das concessões feitas por causa da fraqueza humana. Deus quer restaurar o amor à sua plenitude.
E então Jesus nos recorda a ordem original da criação: “Desde o começo, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne.” Aqui, Ele nos mostra que o matrimônio não é uma convenção social, nem um contrato que pode ser rompido a qualquer momento, mas uma aliança sagrada. No casamento, os dois deixam de ser indivíduos isolados e tornam-se um só. E se são um só, não podem ser separados sem dor, sem consequências.
“Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” Essa frase de Jesus é clara e firme. O matrimônio é uma obra de Deus, e não cabe ao homem dissolvê-lo. Em um mundo onde o casamento muitas vezes é visto como algo descartável, onde os relacionamentos são regidos pela lógica do “enquanto for conveniente”, essa palavra de Jesus nos desafia. Amar não é apenas um sentimento, mas uma decisão, um compromisso. O verdadeiro amor exige fidelidade, renúncia e perseverança.
Os discípulos, impressionados com a radicalidade desse ensinamento, voltam a perguntar sobre o assunto em casa. E Jesus reafirma: “Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira.” Essas palavras podem parecer duras, mas são um chamado à responsabilidade. Jesus não está apenas impondo uma regra, mas revelando o verdadeiro sentido do amor matrimonial. O casamento cristão não é apenas um contrato entre duas pessoas; é um sinal visível do amor de Deus pela humanidade, um reflexo da aliança eterna entre Cristo e a Igreja.
Isso significa que quem enfrenta dificuldades no casamento deve simplesmente suportar o sofrimento? De maneira alguma! O Evangelho não nos chama à resignação passiva diante de relações marcadas pela dor, pela injustiça ou até pela violência. O que Jesus nos ensina é que o amor verdadeiro precisa ser cultivado, restaurado, reconstruído dia após dia. Quando há dificuldades, a solução não está na separação precipitada, mas no esforço mútuo para reavivar a chama do amor.
E para isso, a graça de Deus é indispensável. O matrimônio cristão não se sustenta apenas na força humana, mas na graça divina. Por isso, é fundamental que os casais rezem juntos, busquem a Deus em suas dificuldades, aprendam a perdoar e a dialogar. O mundo prega o amor fácil, que se desfaz ao primeiro sinal de problema. Mas Jesus nos chama a um amor que persiste, que resiste às tempestades e que cresce com o tempo.
E para aqueles que já passaram por uma separação, para aqueles que carregam no coração a dor de um casamento que não deu certo, Jesus não traz condenação, mas esperança. Ele veio para restaurar o que estava quebrado, para curar os corações feridos. Sua misericórdia é maior que qualquer fracasso, e Sua graça pode transformar todas as situações.
Hoje, o Senhor nos convida a redescobrir o valor do matrimônio como um chamado ao amor verdadeiro, ao compromisso, à fidelidade. Que possamos olhar para essa vocação com seriedade e buscar, na graça de Deus, a força para vivê-la plenamente. Que os casais encontrem no Senhor a fonte do amor que nunca se esgota. E que todos nós possamos aprender que o amor, quando vivido segundo o coração de Deus, não é um fardo, mas um caminho para a verdadeira felicidade. Amém!