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Que não deixemos a voz interior se calar por medo de perder elogios ou status. Homilia diária da liturgia católica — 6ª-feira, 07/02/25
Homilia — 6ª-feira, 07/02/25
Queridos irmãos e irmãs, hoje contemplamos um episódio que é ao mesmo tempo chocante e revelador: a morte de João Batista (Mc 6,14-29). Essa passagem parece um drama intenso que nos deixa sem fôlego, pois vemos o desenrolar de intrigas, desejos e fraquezas humanas que acabam levando a um desfecho trágico. Ainda assim, há um profundo ensinamento aqui, que nos desafia a viver com integridade e a buscar a verdade, mesmo quando o mundo grita o contrário.
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Primeiro, vejamos João Batista: um homem que não abre mão de anunciar o que é reto, custe o que custar. Em meio aos poderosos, ele ergue a voz e diz a Herodes que o casamento com Herodíades não estava de acordo com a lei de Deus. A ousadia de João assusta, pois exibe o contraste entre a coragem que brota da fé e o medo que nasce dos compromissos vazios.
Leia mais: Homilia diária da liturgia católica — 6ª-feira, 07/02/25Aliás, notemos a figura de Herodes. Ele respeita João, tem curiosidade por suas palavras e, ao mesmo tempo, se enche de receio. Esse rei se vê preso em um redemoinho de vaidades, promessas feitas diante de convidados importantes, e acaba encurralado pelos próprios juramentos. Que ironia! Ele, que detém poder e riquezas, torna-se refém do orgulho e de decisões apressadas. Não é de se admirar que esse tipo de fraqueza continue rondando o coração humano — quantos de nós, numa ânsia de agradar os outros ou de não perder o prestígio, tomamos escolhas que ferem nossa consciência?
E há ainda Herodíades e sua filha. Em busca de vingança, Herodíades planeja eliminar a voz que expõe suas sombras. O pedido da filha, a dança sedutora e o juramento de Herodes são peças de um triste quebra-cabeça que se encaixam para selar o destino de João. Esse quadro nos faz refletir sobre o poder da influência. Gente, é fácil cair nas tramas de quem manipula por interesse próprio, principalmente quando misturamos orgulho, vaidade e vingança.
Mas João Batista, mesmo encarcerado, permanece firme. É como se ele dissesse: “Não vou calar a verdade.” Sua vida é arrancada, mas sua mensagem fica como semente de fidelidade. E isso nos faz perguntar: e nós, o que fazemos quando nossa fé é posta à prova? Colocamos nossas convicções de lado para não desagradar alguém? Somos capazes de manter o rumo certo, mesmo se nos custar a simpatia de quem manda?
Pode parecer distante esse enredo de palácio, reis e bailes. Mas não se engane. O cenário pode ser outro, mais modesto, porém a lição permanece. Há ocasiões em que sacrificamos princípios, aceitamos verdades retorcidas ou damos um jeitinho para manter certa aparência. Com isso, vamos sufocando o chamado que Deus faz para viver no amor e na justiça. João Batista nos mostra outra via: a de quem se mantém inteiro, ainda que o preço seja alto.
No fim do relato, os discípulos de João recolhem o corpo e lhe dão sepultura digna. Eles honram a memória daquele que não negou a voz de Deus. Então, o Evangelho termina com esse sinal de esperança. Mesmo em meio ao luto e à dor, há uma semente de esperança que floresce. A morte de um profeta jamais apaga a luz que ele deixou — e essa luz sempre aponta para Cristo, a Palavra que vence qualquer escuridão.
Portanto, irmãos e irmãs, que essa passagem nos chame à reflexão sobre a verdade, a honestidade e a coerência entre o que professamos e o que fazemos. Que não deixemos a voz interior se calar por medo de perder elogios ou status. João Batista se mantém firme e se torna um farol que nos direciona para a coragem. Sigamos esse caminho, certos de que a vitória final não pertence ao orgulho humano, mas à verdade que é maior que qualquer ameaça. E que tenhamos a alegria de proclamar a palavra de Deus sem medo e sem disfarces. Amém!