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Jesus nos convida a uma fé verdadeira, sem meias medidas. Ele nos pede coerência no testemunho, coragem para cortar o que nos afasta d’Ele – Homilia diária da liturgia católica — 5ª-feira, 27/02/25
Homilia — 5ª-feira, 27/02/25
O Evangelho de hoje nos apresenta palavras fortes de Jesus, palavras que nos fazem refletir sobre a seriedade da nossa caminhada com Ele. Começa com algo simples, mas profundo: um copo de água dado por amor a Cristo não passa despercebido aos olhos de Deus. Isso nos lembra que nada do que fazemos por amor é insignificante. Pequenos gestos têm valor eterno. Uma palavra de consolo, um sorriso, um ato de bondade – tudo isso tem peso diante do Senhor. Muitas vezes buscamos grandes feitos, mas Jesus nos ensina que a santidade começa no ordinário, no cotidiano, naquilo que parece pequeno.
Mas logo depois, Jesus muda o tom e nos dá um alerta severo: se alguém escandalizar um pequenino na fé, seria melhor que fosse lançado ao mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. Forte, não? Jesus não está brincando aqui. Ele nos alerta sobre a gravidade do mau exemplo.
Nosso testemunho pode levar outros para mais perto de Deus ou afastá-los. Muitas vezes, não são palavras que afastam as pessoas de Cristo, mas atitudes incoerentes. Quantas vezes cristãos vivem de modo que desanima os que estão iniciando na fé? Pais que não rezam e esperam que os filhos sejam religiosos, líderes que falam de Deus mas não vivem a caridade, pessoas que dizem seguir Cristo mas espalham discórdia. Jesus nos adverte: há responsabilidade no nosso testemunho.
E então Ele nos fala do radicalismo contra o pecado. “Se tua mão te leva a pecar, corta-a! Se teu pé te leva a pecar, corta-o! Se teu olho te leva a pecar, arranca-o!” Claro que Jesus não está mandando nos mutilarmos fisicamente. O que Ele está dizendo é que, se há algo em nossa vida que nos arrasta para longe de Deus, precisamos cortá-lo sem hesitação. Talvez seja um vício, uma amizade tóxica, um hábito que nos leva ao pecado, uma forma de pensar que não condiz com o Evangelho.
E aqui está o ponto: muitas vezes, queremos seguir Jesus, mas sem abrir mão daquilo que nos afasta d’Ele. Queremos Deus, mas também queremos segurar aquilo que nos prende ao pecado. E Jesus nos diz: não dá para caminhar para o Reino com pesos amarrados aos pés. Se há algo nos afastando da graça de Deus, precisamos ser radicais e cortar.
Ele então fala do inferno, do fogo que nunca se apaga, do verme que não morre. Essa imagem nos lembra que a separação de Deus não é algo banal. O inferno não é um símbolo, não é uma metáfora sem importância. É a consequência última de uma vida sem Deus, de uma recusa persistente em viver segundo Sua vontade. Jesus nos fala disso não para nos amedrontar, mas para nos despertar. Ele nos chama à seriedade da vida cristã. Nossa caminhada tem um destino, e esse destino depende das escolhas que fazemos hoje. O inferno não é uma vingança de Deus; é a resposta de um coração que escolheu se afastar d’Ele.
E Jesus conclui com uma frase misteriosa: “Todos hão de ser salgados pelo fogo.” O fogo pode ser de condenação, mas também pode ser o fogo da purificação. Todos passaremos por provações, por dificuldades que nos purificam. O fogo pode queimar e destruir, mas também pode refinar e fortalecer. Se buscamos viver para Deus, esse fogo nos aperfeiçoa, nos purifica, nos torna melhores. Mas se vivemos longe d’Ele, esse mesmo fogo pode se tornar um tormento eterno.
E então Ele nos diz: “Coisa boa é o sal.” O sal dá sabor, conserva, dá identidade. Nós, cristãos, somos chamados a ser o sal do mundo, a dar sabor à vida, a sermos diferentes, a preservarmos a verdade do Evangelho. Mas há um risco: se o sal perder seu sabor, com que ele será restaurado? Um cristão sem testemunho, sem coerência, sem ardor por Deus, perde sua essência. Se vivemos como todo mundo, se não fazemos diferença, que tipo de discípulos somos?
Por fim, Ele nos dá uma orientação preciosa: “Tende sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros.” Ter sal em nós mesmos significa ter a essência do Evangelho, viver segundo a verdade de Cristo, ser luz e testemunho para o mundo. Mas essa santidade não deve nos tornar arrogantes ou duros. Ela nos deve levar à paz, à comunhão, ao amor. Não basta ser radical contra o pecado, precisamos ser também instrumentos de reconciliação.
Hoje, Jesus nos convida a uma fé verdadeira, sem meias medidas. Ele nos pede coerência no testemunho, coragem para cortar o que nos afasta d’Ele, consciência da seriedade de nossa escolha e a vivência de uma santidade que não afasta, mas atrai. Que possamos, então, viver com esse “sal”, mantendo o sabor do Evangelho em nossa vida e espalhando o amor de Deus onde estivermos. Amém!