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Caminhemos, então, com o coração aberto, sem julgar pelas aparências, prontos para acolher cada nova voz que nos chega. Homilia diária da liturgia católica — 4ª-feira, 05/02/25
Homilia — 4ª-feira, 05/02/25
Caros irmãos, hoje o Evangelho nos faz olhar para a ida de Jesus a Nazaré e para a reação de seus conterrâneos. Observamos uma frase bem marcante: “Um profeta só não é estimado em sua pátria.” Uau! Essas palavras parecem um trovão que rompe o silêncio no coração. Lá está Jesus, na casa onde cresceu, e mesmo assim o povo não consegue reconhecer nele o Filho de Deus.
Para começar, reparem na cena: Ele prega na sinagoga com força e sabedoria, e a multidão fica confusa. Perguntam: “De onde vem tudo isso?” E, ao mesmo tempo, murmuram: “Mas ele não é o carpinteiro, o filho de Maria? As irmãs dele não moram aqui conosco?” Eles parecem presos ao passado, sem enxergar a novidade diante dos olhos. É como se um véu de desconfiança cobrisse a esperança.
No entanto, esse fenômeno não é coisa de outro tempo. Quantas vezes não respeitamos a voz que fala dentro da nossa própria casa, do nosso grupo, da nossa cidade? Às vezes, não damos ouvidos ao conselho de quem cresce ao nosso lado, porque achamos que “ele ou ela é só fulano,” como se nada além fosse possível. Assim como em Nazaré, muitas oportunidades de graça passam despercebidas porque o pré-julgamento nos cega.
Agora, pense no quanto isso se repete na nossa vida cotidiana. Há pessoas próximas a nós, gente que convive conosco há anos, mas cujo potencial subestimamos. Pode ser um amigo, um parente ou até nós mesmos. Sim, também é possível que não valorizemos nossos próprios talentos, dizendo: “Quem sou eu para fazer algo diferente?” Então, fica aquela voz de Jesus ecoando: “Um profeta só não é estimado em sua pátria.” Epa, será que estamos deixando de acolher algo grande de Deus por pura familiaridade?
E olha só a consequência triste que o texto mostra: Jesus não pôde fazer grandes milagres ali. Faltou fé, sobraram barreiras, e o poder transformador de Deus ficou limitado. É como se o solo estivesse duro demais para a semente brotar. Isso nos faz questionar: será que nossa falta de abertura também emperra certas bênçãos na nossa casa, na nossa família, no nosso bairro?
Entretanto, o texto não acaba em tom de derrota. Cristo não se prende ao desânimo. Ele segue adiante, percorrendo povoados e ensinando. É como se nos dissesse: “Mesmo quando não me reconhecem aqui, preciso continuar levando luz aonde há trevas.” Essa atitude nos inspira a não parar na frustração. Se alguém não nos escuta, seguimos em frente, buscamos outro caminho, permanecemos fiéis àquilo que Deus nos confiou.
Então, a lição que fica é muito forte. Precisamos olhar para as pessoas ao nosso redor com olhos de fé, reconhecendo que Deus pode agir através dos nossos irmãos, mesmo nos que parecem simples e comuns. Podemos, hoje, derrubar preconceitos, quebrar muros e enxergar dons escondidos em quem está do nosso lado. Afinal, o carpinteiro de Nazaré não era apenas mais um — Ele é o Salvador.
Por fim, convido você a fazer uma pequena reflexão pessoal: será que estou subestimando alguém ou a mim mesmo? Será que estou desperdiçando a chance de receber algo maravilhoso porque olho apenas para a casca e não para a essência? Abra espaço no seu coração. Permita que a graça de Deus brote no que parece sem valor. Confie: em qualquer canto, pode haver um profeta que fala algo precioso.
Caminhemos, então, com o coração aberto, sem julgar pelas aparências, prontos para acolher cada nova voz que nos chega. Que não façamos como o povo de Nazaré, que se escandalizou e perdeu a oportunidade de receber milagres abundantes. Ao contrário, que possamos reconhecer a presença divina nas pessoas e situações mais comuns. E que cada dia seja uma aventura de fé, cheia de surpresas, pois o “carpinteiro” continua a ensinar e a operar maravilhas entre nós.
Amém! E sigamos confiantes, pois Deus pode se manifestar na pessoa mais inesperada, inclusive na que a gente viu crescer, ou até em nós mesmos, quando abrimos o coração para a força do Espírito.