Homilia diária da liturgia católica — 3ª-feira, 31/12/24

Homilia diária 3ª feira

Deus nos amou tanto que fez-se carne e habitou entre nós. o que significa para nós hoje que “a Palavra se fez carne”? Homilia diária da liturgia católica — 3ª-feira, 31/12/24

Homilia — 3ª-feira, 31/12/24

Queridos irmãos e irmãs, o Evangelho de João, especialmente o prólogo que ouvimos hoje, nos leva a contemplar o coração do mistério cristão. Com palavras que soam como uma melodia eterna, João nos apresenta uma verdade que mudou o curso da história: “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós.”

Aqui está a essência do Natal, o centro da nossa fé, o maior mistério do universo: o Deus infinito, criador de tudo, entrou na nossa história, tomou nossa carne e viveu entre nós. É algo tão grandioso que só podemos nos aproximar com reverência, gratidão e um profundo senso de admiração.

No início do Evangelho, João nos leva de volta ao princípio de tudo: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus.” Esta Palavra – o “Logos” – não é apenas som ou comunicação. É a própria essência divina, o princípio criador que deu forma ao universo. Quando Deus disse “haja luz”, a Palavra estava lá, trazendo à existência tudo o que existe.

Mas esta Palavra, irmãos, não ficou distante. Ela não se limitou a moldar as estrelas e os mares. Não ficou escondida nos céus, inacessível ao nosso toque. Não, essa Palavra eterna decidiu entrar na nossa realidade limitada e confusa. E é isso que João proclama com tanto poder: “A Palavra se fez carne.”

O mistério da encarnação


Aqui está o escândalo e a beleza do cristianismo. A Palavra se fez carne. Não se fez apenas aparência ou sombra. Não veio como um anjo ou uma ideia. Fez-se carne: frágil, vulnerável, sujeita à dor, ao frio, à fome, à rejeição.

Quando João diz “carne”, ele nos lembra da totalidade da nossa condição humana. Deus não assumiu apenas o que é belo em nós. Ele tomou a nossa fraqueza, as nossas dores, a nossa fragilidade. Ele entrou na bagunça da nossa história para nos resgatar de dentro dela. Ele não ficou observando de longe, mas veio nos encontrar onde estávamos.

É como um rei que não apenas envia ajuda para um povo sofrido, mas deixa seu trono, tira suas vestes reais e vive entre os mais pobres, dividindo suas dores, suas lutas, suas esperanças. Este é o nosso Deus: o Deus que se faz um de nós.

João continua: “E habitou entre nós.” A palavra usada aqui, no original grego, traz a ideia de “armar a tenda”. Deus armou a Sua tenda no meio de nós. Esta imagem nos leva de volta ao Antigo Testamento, ao tempo em que a arca da aliança ficava em uma tenda, no meio do povo de Israel. Deus estava presente, mas ainda era inacessível, separado.

Mas agora, em Jesus, não há mais separação. Ele não apenas armou Sua tenda; Ele se tornou a tenda. Ele se tornou o lugar onde encontramos Deus, não em um templo feito por mãos humanas, mas no corpo de um homem, no toque de sua mão, no som de sua voz.

Cheios de Graça


João testemunha: “E vimos a sua glória, a glória que recebe do Pai como Filho unigênito, cheio de graça e de verdade.” Que glória é essa? Não é a glória que o mundo espera, feita de poder e exibição. É a glória do amor que se entrega, da verdade que liberta, da graça que salva.

Quando olhamos para o presépio, vemos essa glória. Não em palácios, mas em uma manjedoura. Não cercada por reis, mas por pastores. É uma glória que transforma, que enche o nosso vazio, que ilumina as nossas trevas.

Irmãos e irmãs, o que significa para nós hoje que “a Palavra se fez carne”? Significa que Deus está conosco, não de maneira teórica ou distante, mas real e próxima. Ele entrou na nossa história para transformar nossas vidas. Não há dor, não há pecado, não há escuridão que Ele não possa alcançar. Ele conhece a nossa condição porque viveu nela.

E mais, este mistério nos chama a algo maior: a sermos também, como Jesus, reflexos da Palavra encarnada. Somos chamados a levar Deus aos outros, a sermos a presença d’Ele no mundo. Quando amamos, perdoamos, cuidamos, tornamo-nos também “tendas” onde Deus pode habitar.

Queridos irmãos, o prólogo de João não é apenas poesia; é uma declaração de amor. Deus nos amou tanto que fez-se carne e habitou entre nós. Hoje, Ele continua habitando: em cada missa, em cada Eucaristia, em cada gesto de amor.

Que possamos abrir nosso coração a este mistério. Que a Palavra se faça carne também em nossa vida, e que, como João, possamos proclamar com alegria: “Vimos a sua glória, cheia de graça e de verdade.” Amém!