Homilia diária — Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar

Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar

O Evangelho de hoje nos apresenta um encontro profundamente simbólico entre Jesus e um homem surdo, que também tinha dificuldades para falar. Esta passagem, em sua simplicidade, carrega uma profundidade teológica impressionante, que nos faz refletir sobre a cura não apenas física, mas espiritual que Jesus realiza em nós. O surdo e o mudo, aqui, não são apenas personagens isolados. Eles representam, de forma simbólica, cada um de nós, em nossos momentos de silêncio e de incapacidade de ouvir a Deus e aos outros.

Jesus, ao ser abordado, não realiza a cura de imediato. Ele primeiro se afasta da multidão, leva o homem para um lugar isolado. Essa atitude já nos diz muito. Jesus não trata a cura como um espetáculo. Ele nos ensina que a verdadeira cura acontece no encontro pessoal, no momento de intimidade com Deus, longe do alvoroço da multidão. Quantas vezes, em nossas vidas, buscamos esse encontro pessoal? Ou quantas vezes estamos imersos no barulho do mundo e esquecemos de nos retirar para ouvir a voz de Deus?

Aos surdos faz ouvir

A condição de surdez e dificuldade de fala desse homem nos faz pensar sobre como nós, espiritualmente, muitas vezes estamos surdos e mudos. A surdez, aqui, simboliza a incapacidade de ouvir a palavra de Deus. Vivemos em um mundo onde tantas vozes competem por nossa atenção, tantas distrações, tantas opiniões e ruídos que, frequentemente, bloqueiam nossa capacidade de ouvir a verdade de Deus. E a mudez? Quantas vezes somos incapazes de falar sobre o que realmente importa? De proclamar a verdade, de compartilhar o Evangelho com os outros?

Jesus, então, realiza um gesto profundo: Ele coloca os dedos nos ouvidos do homem, toca a língua dele com saliva e, suspirando, olha para o céu e diz: “Efatá!” — “Abre-te!” Este gesto de Jesus está repleto de simbolismo. Ao tocar os ouvidos e a língua, Jesus está nos mostrando que a cura que Ele oferece não é superficial. Ele penetra o mais profundo de nossa condição humana. Ele toca diretamente as áreas de nossa vida que estão fechadas, que estão bloqueadas.

“Efatá” não é apenas uma palavra de cura física. Ela tem um significado espiritual muito mais amplo. “Abre-te!” é um chamado para que cada um de nós abra os ouvidos do coração, para que possamos escutar a voz de Deus de maneira plena. É um chamado para que nossas bocas se abram, não apenas para falar, mas para proclamar a verdade, para anunciar o Reino de Deus. Quantos de nós precisamos ouvir este “Efatá” em nossa vida hoje? Quantos de nós estamos espiritualmente surdos, incapazes de ouvir a voz de Deus, e mudos, incapazes de falar a verdade com coragem?

A incapacidade de se relacionar

A surdez e a mudez, na Bíblia, frequentemente simbolizam a incapacidade de se relacionar plenamente com Deus e com o próximo. Mas Jesus vem para mudar isso. Ele vem para abrir nossos ouvidos e soltar nossas línguas, para que possamos experimentar a plenitude da vida em Deus. E, assim como fez com esse homem, Jesus quer fazer isso em nossas vidas hoje.

O final do Evangelho nos traz uma cena de grande ironia: Jesus pede que não divulguem o milagre, mas quanto mais Ele recomenda silêncio, mais as pessoas falam. Isso nos ensina algo importante. Quando somos verdadeiramente tocados por Jesus, quando Ele abre nossos ouvidos e solta nossas línguas, não conseguimos ficar calados. A alegria da cura, da libertação, é tão grande que não podemos conter. Nós precisamos compartilhar. O que era surdo agora ouve; o que era mudo agora fala. E o que eles dizem? “Ele tem feito bem todas as coisas.”

Rezemos

Esta frase nos remete à criação do mundo, quando Deus viu que tudo o que havia feito era bom. Jesus, ao curar, está restaurando a ordem original da criação. Ele nos devolve àquela condição em que podemos ouvir e falar com Deus, como era no início, no Jardim do Éden. Ele nos devolve nossa capacidade de nos relacionarmos plenamente com Deus e com o próximo.

Portanto, irmãos e irmãs, hoje somos chamados a permitir que Jesus toque nossos ouvidos e nossas bocas. Somos chamados a abrir nosso coração à Sua voz e a proclamar com coragem a verdade do Evangelho. Que o “Efatá!” de Jesus ressoe em nossas vidas e nos faça ouvir e falar com clareza a mensagem de amor e salvação que Ele nos trouxe.

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