Homilia diária — João que nos coloca diante de uma decisão crucial, onde o caminho se bifurca e somos forçados a escolher: seguir em frente ou retroceder.

Homilia diária — “A quem iremos, Senhor?”

Hoje nos deparamos com uma passagem do Evangelho de João que nos coloca diante de uma decisão crucial, um daqueles momentos em que o caminho se bifurca e somos forçados a escolher: seguir em frente ou retroceder. Jesus, com Sua voz firme e olhar penetrante, confronta Seus discípulos com uma verdade que não se pode ignorar, uma verdade que pesa, que sacode, que escandaliza.

Muitos dos discípulos que o escutavam começaram a murmurar: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” Não é difícil entender por que disseram isso. Jesus falava de Sua carne como alimento, de Seu sangue como bebida. Ele se apresentava não apenas como um profeta, mas como o próprio alimento que dá a vida eterna. Para muitos, isso era simplesmente demais. E, diante da dureza dessa palavra, muitos recuaram. Voltaram atrás. Não andaram mais com Ele.

Mas Jesus, com uma firmeza desconcertante, não suaviza Sua mensagem. Pelo contrário, Ele a reforça: “O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida.” Ele não estava ali para agradar, mas para revelar. Não para consolar na mediocridade, mas para desafiar ao compromisso total. E quem poderia suportar isso? Quem poderia abraçar essa verdade sem reservas?

Seguiremos ou retrocederemos?

Jesus, sabendo que entre os seus havia aqueles que não criam, e até mesmo aquele que o trairia, olha para os Doze. Seu olhar penetra, pergunta, provoca: “Vós também vos quereis ir embora?” Essa é a pergunta que ressoa ao longo dos séculos, que ecoa em nossos corações hoje. E aí? O que faremos? Seguiremos ou retrocederemos?

Simão Pedro, com a sinceridade de quem já não tem nada a perder, responde com uma simplicidade desarmante: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.” Não era uma resposta ensaiada. Era uma confissão, uma rendição. Pedro sabia que, apesar da dureza da palavra de Jesus, não havia outro caminho que valesse a pena seguir. Não havia outra verdade que desse sentido à vida. Não havia outro lugar onde a alma pudesse encontrar descanso.

Confiar no Espírito Santo

Aqui está o ponto crucial. Quando Jesus nos confronta com Suas palavras, Ele não está nos oferecendo um caminho fácil. Ele está nos chamando para algo maior, algo que transcende o imediato, o confortável, o seguro. Ele nos chama a confiar no Espírito, a deixar de lado a segurança ilusória da carne. As palavras de Jesus são espírito e vida, e é somente através delas que encontramos a plenitude.

A metáfora da carne e do espírito

E é aqui que a metáfora da carne e do espírito ganha toda a sua força. A carne, na sua fragilidade e limitação, não pode nos sustentar. Ela é pó e ao pó retornará. Mas o Espírito, que sopra onde quer, que dá vida onde há morte, que renova o que está velho, esse sim, é o que nos sustenta. As palavras de Jesus, que são espírito e vida, nos convidam a transcender o visível e abraçar o eterno.

Quando Jesus nos pergunta: “Vós também vos quereis ir embora?”, Ele não está apenas questionando nossa presença física. Ele está perguntando se estamos dispostos a aceitar o desafio de viver de acordo com as Suas palavras, mesmo quando são difíceis, mesmo quando nos custam algo. Ele nos chama a ser como Pedro, a reconhecer que, por mais dura que seja a palavra, ela é a única que pode nos dar a vida que realmente importa.

A nossa decisão

Queridos irmãos e irmãs, somos convidados hoje a decidir. Seguir ou retroceder. Confiar ou recuar. Jesus não nos promete facilidade, mas Ele nos promete vida, vida em abundância. E, como Pedro, podemos ter a certeza de que não há outro caminho que nos leve à plenitude. Que possamos, então, responder com toda a sinceridade do nosso coração: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.”

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