A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Homilia de hoje — Liturgia da Missa de sábado, 10/05/25

Homilia de hoje — Liturgia da Missa de sábado, 10/05/25
Queridos irmãos e irmãs, o Evangelho de hoje nos coloca diante de um momento decisivo no ministério de Jesus. Após ter revelado o mistério da Eucaristia — a entrega de sua carne como verdadeiro alimento — muitos daqueles que o seguiam demonstram desconforto. “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” Com essa frase, inicia-se uma crise. Uma ruptura. Um divisor de águas entre a fé verdadeira e o seguimento superficial.
Logo em seguida, vemos que Jesus não tenta suavizar o ensinamento, mas Ele não recua e tampouco adapta a verdade à medida das conveniências humanas. Pelo contrário, Ele olha para os seus discípulos e os confronta: “Isto vos escandaliza?” A pergunta é retórica, mas profundamente incisiva. Com ela, Jesus nos obriga a confrontar o nosso próprio coração: o quanto aceitamos a fé apenas quando ela nos conforta — e o quanto resistimos quando ela nos exige conversão?
Em seguida, Cristo eleva ainda mais o tom e diz: “E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes?” Ao pronunciar isso, Ele alude à sua ascensão, sim, mas também prepara seus discípulos para a cruz. Para o escândalo maior: um Deus crucificado. Um Messias rejeitado. Um Salvador que se entrega. Essa verdade não agrada ao mundo. E, de fato, nunca agradou. Porque ela desmonta os falsos conceitos de poder, glória e domínio. Mostra que a verdadeira vida passa pela entrega.

Entre vós há alguns que não creem.
Logo após, Jesus revela um princípio espiritual fundamental: “O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada.” Com isso, Ele não despreza o corpo, mas ensina que sem o Espírito, tudo se torna vazio. A fé não pode ser sustentada apenas por sensações, por hábitos ou por tradições exteriores. É preciso deixar-se guiar pelo Espírito Santo. É Ele quem nos abre o entendimento. Quem ilumina as palavras do Evangelho. Quem nos move da superfície para a profundidade.
No entanto, Jesus não se ilude com as aparências. Ele conhece o coração. Por isso, diz com firmeza: “Entre vós há alguns que não creem.” Ainda que estejam fisicamente presentes, espiritualmente já se distanciaram. Essa observação continua atual. Muitos frequentam a Igreja, mas não creem de verdade. Muitos participam dos sacramentos, mas não se entregam de fato. A fé exige mais do que presença: exige adesão interior. Exige decisão.
Além disso, Ele repete um ponto crucial: “Ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai.” A fé é dom. É graça. Não é mérito pessoal. Não nasce do orgulho intelectual, mas da humildade de quem se deixa atrair. Por isso, devemos rezar todos os dias pedindo a Deus o dom de crer. Pedir fé para crer mesmo quando tudo parece escuro. Pedir luz para enxergar mesmo quando os sinais não estão claros.
Escolheram a comodidade.
A partir desse momento, o texto nos conta que “muitos discípulos voltaram e não andavam mais com Ele.” Trata-se de uma das cenas mais tristes dos Evangelhos, afinal, eles viram os milagres, ouviram os ensinamentos e estiveram próximos. Mas não aguentaram a exigência da verdade. Escolheram a comodidade em vez do discipulado pois é o que acontece ainda hoje, quando alguém abandona a fé diante das dificuldades, quando troca a cruz pela conveniência, ou quando rejeita a doutrina porque ela não se encaixa em seus desejos.
Diante dessa debandada, Jesus olha para os Doze. E pergunta com grande liberdade: “Vós também quereis ir embora?” Essa é, talvez, uma das perguntas mais dolorosas e verdadeiras que o Senhor ainda nos faz hoje. Ele não força ninguém a ficar. Ele ama a liberdade. Mas nos convida a decidir com o coração. A fé não se sustenta em medo. Sustenta-se em amor, em confiança, em resposta voluntária.
Nesse momento, Simão Pedro toma a palavra e proclama uma das confissões de fé mais belas da Escritura: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.” Pedro reconhece o essencial. Mesmo que as palavras sejam duras, mesmo que os caminhos sejam estreitos, só em Cristo há vida. Só n’Ele há sentido. Só Ele oferece aquilo que o coração realmente procura. Essa resposta não é apenas bonita — é o fundamento da perseverança.
Portanto, irmãos e irmãs, este Evangelho nos ensina a permanecer. A resistir na fé mesmo quando ela nos confronta. A acolher a Palavra mesmo quando ela nos desafia. A escolher Cristo mesmo quando tudo ao redor nos propõe o contrário.
Na prática, como aplicar isso em nossa vida?
Antes de tudo, cultivando intimidade com a Palavra. Quem conhece Jesus profundamente não se escandaliza com Ele. Ao contrário, se apaixona cada vez mais. Além disso, precisamos nutrir nossa fé com os sacramentos. A comunhão frequente, a confissão sincera, a oração diária — tudo isso fortalece o coração para não desistir no meio do caminho.
Por fim, devemos repetir com Pedro, todos os dias, especialmente nas horas de dúvida: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.” E viver como quem crê nisso de verdade.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.