Homilia de hoje — Liturgia da Missa de sábado, 07/06/25

Homilia de hoje — Liturgia da Missa de sábado, 07/06/25
Irmãos e irmãs, ao contemplarmos o diálogo silencioso que se desenrola às margens do lago de Tiberíades, notamos Pedro voltado para trás, fixando o olhar naquele “outro discípulo que Jesus amava”.
É como se, ao ver o amigo de peito reclinado junto ao Mestre, surgisse em Pedro uma curiosidade inquietante: “Senhor, e este, o que será dele?” Naquele instante, Jesus volta-se para o pescador arrependido e responde com serenidade que transcende qualquer certeza humana: “Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa?”
É um convite velado a abandonar comparações, a libertar-se do olhar obcecado pelas trajetórias alheias e a mergulhar na única vocação que verdadeiramente importa: “Tu, segue-me.”

Exercer o testemunho
Quando lemos que “então, correu entre os discípulos a notícia de que aquele discípulo não morreria”, percebemos o quanto uma simples palavra de Jesus pode agitar fraternidades inteiras. Mas, no centro desse boato, ele próprio desfaz qualquer equívoco: não prometeu a imortalidade terrestre, mas apontou para uma verdade ainda mais profunda.
O amado discípulo, aquele que repousara sobre o peito do Senhor na última Ceia, não está acima do desígnio divino: sua missão é exercer o testemunho, oferecer à comunidade primitiva um relato fiel não apenas dos sinais maravilhosos, mas sobretudo do amor incondicional que animou cada gesto de Jesus.


O divino e o humano
E aqui chegamos ao coração pulsante deste Evangelho: “Este é o discípulo que dá testemunho dessas coisas e que as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.” Não cabe dúvida: a Igreja primitiva acreditou que, por trás de cada frase, havia a autenticidade de quem segurou a mão do Ressuscitado, de quem ouviu a respiração suave do Verbo encarnado.
Ele, cujo nome não é mencionado — porque seu rosto fala por si — torna-se modelo de quem, marcado pela experiência íntima do Evangelho, opta por se converter em porta-voz de uma verdade tão grande que nenhum livro conseguiria abarcar tudo o que Jesus fez. Essa revelação nos lembra que, se quiséssemos escrever todas as maravilhas do Senhor, o mundo inteiro jamais conteria tamanha literatura, pois cada milagre, cada palavra de perdão, cada olhar de compaixão impregnava simultaneamente o divino e o humano.

Seguir-me
Ao imaginarmos Pedro olhando de soslaio para este discípulo, não há rivalidades cruéis, mas o peso da responsabilidade — a urgência de não se perder em curiosidades vãs, mas de manter o foco no chamado: “Seguir-me.” Jesus, ao responder, não reprova o afeto de Pedro pelo companheiro de caminhada, mas o orienta a não desviar do próprio caminho cristão, a não ser refém das expectativas sociais sobre o destino alheio.
Que lição poderosa para nós: quantas vezes, em nossos ambientes de fé, nos pegamos especulando sobre a vida espiritual do irmão, julgando-o, antecipando destinos, quando, na realidade, nosso único projeto autêntico é corresponder à graça recebida, vocacionados a narrar nas próprias atitudes a beleza do Evangelho.

O convi
E a ênfase final causa assombro e alento: “Jesus fez ainda muitas outras coisas, mas, se fossem escritas todas, penso que não caberiam no mundo os livros que deveriam ser escritos.” Que imensa hospitalidade do mistério! Ele, infinito em sua compaixão, queria que percebêssemos que nossa limitada linguagem é incapaz de abarcar o infinito de sua misericórdia.
Cada aurora, cada vento suave, cada pão partilhado e cada lágrima enxugada poderia tornar-se narrativa viva de Sua presença. O amado discípulo, ao registrar apenas uma parcela, deixa-nos o convite para sermos também escritores de sua graça, testemunhando na própria vida o campo alargado pelo amor que fez o universo ecoar com a ressurreição.

Responder ao chamado
Portanto, meus queridos, deixemos de lado toda ansiedade impura que nos impeça de responder ao chamado supremo: seguir Jesus de todo o coração. Sejamos como o discípulo amado, ciosos de escrever em nossas obras de amor o que as palavras não alcançam, confiantes de que, ao nos deixarmos tocar pelo Cristo vivo, participamos do grande testemunho que, mesmo sem caber em livros, cabe no cântico silencioso de nossos gestos de justiça, de mansidão e de perdão. Amém.