Hoje é o Domingo da Divina Misericórdia. Não por acaso. Homilia de hoje – Liturgia da Missa de domingo, 27/04/25

Homilia de hoje – Liturgia da Missa de domingo, 27/04/25
Meus irmãos e irmãs, ao cair da tarde daquele domingo — o primeiro da nova criação — as portas estavam fechadas. O medo reinava. O coração dos discípulos batia no compasso da insegurança. Eles tinham visto a cruz, escutado os gritos, sentido o peso da perda. E agora? Agora restavam sombras, perguntas, um silêncio desconfortável.
Mas é exatamente nesse cenário — de portas trancadas e almas encolhidas — que o Ressuscitado entra. Sem bater. Sem anunciar. Ele se põe no meio. Como quem diz: “Eu ainda sou o centro de vocês.” E ali, no meio da dor, Ele sopra paz. “A paz esteja convosco.” Três vezes. Três sopros de vida para três dias de morte. Três remédios para três feridas: o medo, a dúvida, a culpa.
Ele mostra as mãos. Mostra o lado. Mostra as marcas. Porque o amor verdadeiro deixa cicatriz. A paz d’Ele não vem do esquecimento, mas da redenção. Jesus ressuscita com as chagas. E nelas, o céu beija a terra. As feridas abertas agora são fontes de misericórdia.
E então, Ele sopra. O mesmo sopro do Gênesis, vento que pairava sobre as águas. O mesmo fôlego que transformou barro em homem. Agora, esse sopro transforma o medo em missão: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio.” Ele não nos envia perfeitos. Nos envia tocados. Marcados. Respirando o Espírito.
E aqui entra Tomé. Ah, Tomé… o cético, o teimoso, o tardio. Mas também, o honesto. O transparente. O que diz o que sente. Ele não estava lá. Perdeu o primeiro sopro, o primeiro olhar. E, por isso, carrega a sede da prova. Quer tocar, quer ver. Porque no fundo, quer crer. Quer ter certeza. E quem de nós nunca foi Tomé?
Oito dias depois — o tempo da nova criação — Jesus volta. De novo, portas fechadas. De novo, paz. E agora, com um convite direto: “Tomé, vem cá. Toca. Sente. Não tenhas medo da dúvida, mas não te acomodes nela.” E Tomé se rende. E em seu grito — “Meu Senhor e meu Deus!” — explode a fé da Igreja. Ele não toca. Não precisa mais. O amor já o tocou primeiro.
E Jesus então proclama a bem-aventurança que nos inclui: “Felizes os que creram sem ter visto.” Nós. Eu. Você. Todos que seguem acreditando mesmo quando a fé é um passo no escuro, um salto no silêncio, uma esperança contra toda esperança.
Hoje é o Domingo da Divina Misericórdia. Não por acaso. Porque esse evangelho é todo sobre misericórdia. Misericórdia que entra com as portas fechadas, que mostra as chagas e não acusa. Misericórdia que sopra vida nova. Que abraça até o incrédulo. Que transforma a dor em testemunho.
Meus irmãos, deixemos hoje que o Ressuscitado entre em nossa casa interior. Que atravesse nossos bloqueios e mostre Suas marcas. Que nos sopre de novo o Espírito. E então, como Tomé, deixemos que o coração diga — com fé, com amor, com entrega total —: “Meu Senhor e meu Deus!”. Amém.