Eu sou o pão vivo descido do céu.. Homilia de hoje — Liturgia da Missa de 5ª-feira, 08/05/25

Homilia de hoje — Liturgia da Missa de 5ª-feira, 08/05/25
Eu sou o pão vivo descido do céu.
Amados irmãos e irmãs,
a liturgia de hoje nos conduz novamente ao capítulo sexto do Evangelho de João, onde Jesus se revela como o verdadeiro Pão da Vida, mas, neste trecho específico, Ele vai além da imagem do alimento espiritual. Ele nos introduz a uma dimensão ainda mais elevada: a da atração divina, da revelação do Pai, da promessa da ressurreição e da entrega total do próprio corpo como dom salvífico.
Desde o início, Jesus estabelece um princípio que escapa à lógica humana: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai”, todavia, isso nos revela algo fundamental sobre a fé. A adesão a Cristo não é fruto somente do esforço intelectual, nem de uma escolha isolada da vontade, pois antes de qualquer decisão humana, há uma ação divina. É o Pai quem atrai, é o amor eterno que nos chama, porque é essa atração misteriosa que planta em nossos corações a sede do infinito.
Logo em seguida, Jesus promete: “E eu o ressuscitarei no último dia.” Esta promessa não é simbólica, mas uma afirmação escatológica, que aponta para o destino de todo aquele que se entrega a Ele. Portanto, crer em Cristo não significa somente melhorar a vida presente. É entrar num caminho que culmina na vida eterna, um caminho que não termina no túmulo, mas atravessa a morte com esperança. A fé, então, não é uma filosofia – é uma antecipação da ressurreição.

Não que alguém já tenha visto o Pai
Além disso, Jesus recorda o que está escrito nos Profetas: “Todos serão discípulos de Deus.” Esse trecho, retirado provavelmente de Isaías, confirma que o desejo de Deus é formar filhos instruídos, e não apenas admiradores superficiais. E como essa instrução acontece? Ele mesmo responde: “Todo aquele que escutou o Pai e por ele foi instruído, vem a mim.” Aqui está a chave: quem tem ouvidos para Deus, reconhece a voz do Filho. Quem cultiva o silêncio interior, encontra em Cristo a plenitude da revelação.
Contudo, Jesus faz uma distinção necessária: “Não que alguém já tenha visto o Pai.” Apenas o Filho, que vem de junto do Pai, pode dar testemunho d’Ele. Essa afirmação reforça o ensinamento da Trindade e da encarnação. Só o Verbo feito carne, Jesus Cristo, viu o Pai em sua plenitude. Só Ele pode conduzir-nos ao coração de Deus. Nenhuma filosofia, religião ou mestre terreno tem essa autoridade. É Cristo o único mediador entre Deus e os homens.
Por conseguinte, Ele retoma o centro de sua pregação: “Quem crê, possui a vida eterna.” A fé, aqui, não é apenas um ato pontual. É uma posse contínua para viver já na terra a comunhão com o céu. É participar da vida divina ainda neste mundo. Não se trata de uma promessa futura, mas de uma realidade presente. A vida eterna começa agora, quando o coração se une ao de Cristo.
Buscar o Pão do Céu
Logo depois, Jesus retoma uma imagem essencial: “Eu sou o pão da vida.” E para ampliar a compreensão do povo, Ele os confronta com a própria história: “Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram.” O maná foi provisório. Foi sinal, não plenitude. Foi alimento que sustentava o corpo, mas não alcançava a eternidade. Ao contrário, o pão que agora desce do céu tem poder de vencer a morte. De transformar o que é finito em algo eterno.
E então, como ápice desta revelação, Jesus declara: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente.” Essa não é uma metáfora. Essa é a antecipação da Eucaristia. Aqui Cristo anuncia o dom supremo: sua própria carne entregue pela vida do mundo. A ceia não será um rito vazio. Será comunhão com o próprio Deus. Quem come deste pão, vive de Cristo. E quem vive de Cristo, nunca morrerá.
Cultivar o silêncio
Por isso, meus irmãos, à luz deste Evangelho, somos convidados a renovar nossa fé na presença real de Jesus na Eucaristia. Não é um símbolo nem é um gesto bonito. É a carne de Deus, o Pão que salva, porque é o Corpo que sustenta. Toda missa é encontro com o céu. Todo altar é o Calvário reatualizado. E cada comunhão é uma união profunda com o Amor que se dá até o fim.
Para vivermos isso concretamente, precisamos rever nossa atitude diante do sacrário. Deixar de lado a pressa, a rotina, a distração. Cultivar o silêncio, a reverência, a adoração. Buscar o Pão do Céu como quem busca a vida. E jamais comungar sem preparação, sem confissão, sem consciência do Mistério. Quem se alimenta de Cristo, transforma-se por Ele.
Portanto, se hoje escutas a voz do Pai que te atrai a Jesus, não endureças o coração. Aproxima-te com fé. Alimenta-te com amor. E vive com esperança. Pois o Pão descido do céu já está entre nós. E a promessa é clara: “Quem comer deste pão viverá eternamente.”
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.