Homilia de hoje — Liturgia da Missa de 5ª-feira, 01/05/25

Homilia de hoje — Missa de 5ª-feira, 01/05/25
No silêncio sagrado desta Palavra, somos conduzidos ao coração mesmo do mistério trinitário. “O Pai ama o Filho e entregou tudo em sua mão.” Não há aqui uma metáfora qualquer. Não é figura de linguagem. Estamos diante da profundidade insondável da relação entre o Pai e o Filho, relação que antecede o tempo, sustenta a criação e revela o fundamento do ser e da salvação.
O amor do Pai pelo Filho não é um afeto passageiro. É uma entrega plena, eterna e absoluta. Em teologia, dizemos que o Filho é gerado eternamente do Pai — Deus de Deus, Luz da Luz. E esse Filho, por amor, entrou na nossa história. Aquele que “vem do alto”, que “está acima de todos”, assumiu nossa carne, não para apenas falar sobre Deus, mas para ser Deus entre nós. Nele, a Palavra do Pai se fez carne e, por isso, Suas palavras não são apenas palavras humanas. São as palavras de Deus, ditas com voz humana.
Deus entregou tudo ao Filho. O tempo, a história, o juízo, a salvação. Não há nada fora de Suas mãos. Isso quer dizer que o Filho é o portador da plenitude do Espírito — “sem medida”, como nos ensina o Evangelho. Ele é o único mediador entre Deus e os homens. Nele, a natureza divina e a natureza humana se unem sem confusão, sem separação. E é nessa união — hipostática, como chamava Santo Tomás — que encontramos o mistério da nossa redenção.
O Pai entregou tudo ao Filho. E o Filho, por sua vez, entrega tudo ao Pai. Não guarda nada para si. Sua missão é tornar visível o amor do Pai. Por isso, Ele se fez servo. Por isso, morreu. E por isso, ressuscitou. Tudo o que Ele recebeu, devolve em obediência amorosa. Como quem diz: “Tudo é Teu, Pai, e tudo o que é Teu é meu.”

humildade e fé
Aqui, irmãos, somos chamados a uma verdade que transforma: acreditar no Filho é participar dessa entrega. Acreditar no Filho não é apenas crer que Ele existiu, mas é confiar que Ele possui tudo. Ele tem em Suas mãos nossas dores, nossos pecados, nossa história. Ele sustenta o universo e, ao mesmo tempo, segura cada uma das nossas lágrimas. Nada escapa do seu domínio, porque tudo foi entregue a Ele pelo Pai.
A grandeza desse amor nos convida à humildade e à fé. A humildade que reconhece nossa dependência. E a fé que se lança confiante em Suas mãos. Porque quem acredita no Filho possui — já agora — a vida eterna. Essa vida não começa depois da morte. Ela começa quando acolhemos, com todo o coração, aquele que o Pai amou e ao qual entregou tudo.
Recusemos, pois, a incredulidade. Não nos deixemos iludir pelas coisas da terra, como diz o texto. O que é da terra passa. Mas aquele que vem do céu permanece para sempre. E Sua Palavra é digna de toda confiança. Porque é Palavra do Pai, dita por Aquele em quem o Pai depositou toda a Sua confiança.
Então, irmãos, acolhamos o Filho. Entreguemos a Ele tudo, como o Pai o entregou. E deixemo-nos transformar pela vida eterna que já pulsa em nós. Amém.