Homilia de hoje — Liturgia da Missa de 4ª-feira, 14/05/25

Homilia de hoje — Liturgia da Missa de 4ª-feira, 14/05/25
Caríssimos irmãos e irmãs, na liturgia de hoje, ouvimos do próprio Cristo uma declaração que não só nos constrange, mas também nos eleva: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi”. Uma frase curta, mas com implicações abissais. Entretanto, ela nos arranca da ilusão meritocrática de que temos controle sobre o mistério da salvação. Ela nos lança — com vigor e ternura — no seio da graça gratuita de Deus, que ama antes que amemos, que chama antes que respondamos, que busca antes que tenhamos consciência de estar perdidos.
Ora, se há algo que Santo Agostinho, nosso pai na fé e doutor da graça, insistiu ao longo de sua vida, foi nisso: a eleição vem de Deus, não da criatura, mas Cristo nos escolhe, não porque viu em nós algo merecedor, mas porque Ele mesmo nos amou desde sempre, desde antes da fundação do mundo. A escolha de Deus precede toda dignidade humana. Não é prêmio, é dom. Não é conquista, é revelação.

Amai-vos uns aos outros
Mas que tipo de escolha é essa? Uma que nos convoca ao discipulado, sim, mas mais do que isso: ao amor. Um amor que não é sentimental, mas sacrificial, que permanece, como o próprio Cristo permanece no amor do Pai, e que exige guardar os mandamentos, como o Filho guardou o do Pai — e o fez até a cruz.
Veja, o mundo nos ensina um amor condicional, negociado, inseguro. Cristo nos mostra o contrário. O seu amor é vertical e incondicional, mas nos chama a uma resposta concreta. Ele diz: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.” E o que Ele manda? “Amai-vos uns aos outros”, mas não do nosso jeito, mas “como Eu vos amei” — ou seja, com um amor que se dá, que se gasta, que se entrega, que morre.
Não é um amor qualquer. É o amor que carrega o peso da cruz e o esplendor da ressurreição e que transforma servos em amigos. E isso, irmãos, é radical. Porque o servo obedece sem saber, e o amigo participa do mistério. Todavia, Cristo nos abriu o coração do Pai, nos revelou a Vontade, a Palavra, o Espírito, e nos elevou da submissão para a intimidade. Ele nos fez participantes do que é eterno.
E por isso Ele diz: “Eu vos designei para irdes e produzirdes fruto.” Aqui, há um imperativo: ir. Não ficar. O amor de Cristo nos inquieta, nos tira da estagnação, nos impele a frutificar. E que fruto é esse? A caridade. Uma caridade que permanece — como Ele permanece. Uma caridade que resiste ao tempo, ao egoísmo, à vaidade.

A verdadeira força do Reino
Queridos, numa sociedade obcecada por “likes” e validações externas, esse amor silencioso e fiel parece frágil. Mas é nele que reside a verdadeira força do Reino. Cristo nos escolheu para amar assim. Escolheu-nos para carregar a alegria d’Ele — e que a nossa alegria seja plena!
Por isso, não duvide: se você ama de verdade, é sinal de que foi escolhido. Se perdoa, foi alcançado. Se serve sem esperar retorno, é porque Ele plantou algo em você. Não fostes vós que o escolhestes. Foi Ele. E, uma vez escolhidos, só nos resta viver como amados — e amar até o fim.
Amém.
