Homilia de hoje — Liturgia da Missa de 3ª-feira, 13/05/25

Homilia: “Eu e o Pai somos um”. Jo 10, 22-30.
Caríssimos irmãos em Cristo, hoje nos reunimos diante de um dos maiores mistérios da fé cristã, enunciado com clareza desconcertante pelo próprio Senhor: “Eu e o Pai somos um”, mas não se trata de metáfora, nem de aproximação retórica. Estas palavras são pedra angular de nossa fé, pois nelas ressoa a unidade consubstancial entre o Pai e o Filho, fundamento da doutrina trinitária que a Igreja professa desde os primeiros séculos.
Jesus não diz que Ele e o Pai estão unidos em intenção, ou que compartilham os mesmos sentimentos — Ele afirma que ambos são um. Na substância, no ser, na ação salvífica. Ora, como nos ensina Santo Agostinho, “o que o Filho é, o é por ter recebido do Pai; mas por ter recebido tudo, nada lhe falta do que é o Pai”. Em outras palavras, tudo o que o Pai é, o Filho também é — exceto o fato de ser Pai. Eis a ousadia do Verbo Encarnado: revelar o íntimo de Deus sem romper o véu da reverência.

Inverno
Mas vejam o cenário. Estamos no inverno. Não é apenas o clima de Jerusalém. É inverno também na alma dos interlocutores. Corações fechados, congelados pela dúvida cínica, pela expectativa humana de um Messias político, por uma fé feita de sinais exteriores. Celebram a Dedicação do Templo, mas recusam o próprio Templo vivo que caminha entre eles. Exigem declarações, mas desprezam as obras.
A resposta de Jesus, então, é luminosa: “As minhas ovelhas escutam a minha voz”. Ele não entra em debate teológico, não oferece provas racionais — Ele aponta para a relação. Escutar é mais do que ouvir, afinal, escutar é acolher com o coração. É reconhecer na voz do Pastor aquele que dá sentido, direção, segurança. A fé não nasce de argumentos; ela floresce no encontro.
E Ele diz mais: “Eu as conheço”. Não como quem classifica ou rotula, mas como quem ama, cuida, zela, chama pelo nome. Conhecer, no hebraico, implica intimidade. E quem é conhecido por Cristo não se perde, porque está guardado em Suas mãos — e as Suas mãos estão unidas às do Pai.

Segurança
Ah, irmãos… quanta segurança há nessa promessa! Em meio às angústias do nosso tempo, às crises de fé, aos barulhos do mundo que tentam silenciar a voz do Pastor, Cristo nos recorda que ninguém — ninguém — pode nos arrebatar de Suas mãos. Nenhuma dor, nenhuma queda, nenhum pecado — desde que permaneçamos ouvindo a Sua voz, caminhando atrás d’Ele, mesmo que tropeçando, mesmo que aos prantos.
E agora entendemos: quando Ele diz “Eu e o Pai somos um”, Ele não faz apenas uma afirmação teológica, mas nos oferece uma âncora existencial, pois quem se deixa pastorear pelo Cristo, encontra no Pai a morada eterna. Quem segue a voz do Verbo Encarnado, caminha para a Vida que não se perde, para a unidade que vence o tempo e a morte.
Portanto, meus irmãos, deixemos de lado o inverno da dúvida e da autossuficiência. Aproximemo-nos do Pastor que conhece nossas fragilidades. Escutemos Sua voz, mesmo que o mundo nos grite o contrário. E sigamos com confiança, pois se estamos em Suas mãos, estamos também nas mãos do Pai. E nada pode nos arrancar desse amor.
Amém.
