Jesus, naquela noite, não deu a Nicodemos uma lição. Deu-lhe uma chance. Um convite. Homilia de hoje – Liturgia da Missa de 2ª-feira, 28/04/25

Homilia de hoje – Liturgia da Missa de 2ª-feira, 28/04/25

Meus irmãos e irmãs, à noite, quando tudo parece calar, quando as máscaras caem e o coração, finalmente, se mostra como é — foi nesse momento que Nicodemos procurou Jesus. Não veio com perguntas ruidosas. Veio com sede. Com o olhar de quem busca mais do que respostas. Buscava sentido. Buscava a vida que ainda não tinha vivido.

Jesus o acolheu como acolhe os que vêm no silêncio, sem plateia. E, olhando no fundo dos olhos daquele homem respeitável, com passado definido e futuro incerto, disse: “Nicodemos, é preciso nascer de novo.”

Nascer do alto. Não apenas mudar de ideia, mas mudar de origem. Não só melhorar a conduta, mas transformar o coração. Isso não se aprende nos livros nem se executa com esforço. É dom, graça. É como vento que chega sem pedir licença. Que sopra do jeito que quer. Que derruba, levanta, sacode e purifica.

Nicodemos estranhou. “Nascer de novo?” — pensou. — “Voltar ao ventre?” Ele ainda falava com os pés na terra, enquanto Jesus chamava para voar. Nascer da água e do Espírito não é voltar atrás. É recomeçar do jeito certo. É deixar-se ser recriado. A água que lava por dentro. O Espírito que acende por dentro.

Quantas vezes vivemos como Nicodemos! Conhecemos os mandamentos, defendemos valores, mas nos falta essa nova vida, essa leveza que só o Espírito dá. Carregamos anos e pesos… e nos esquecemos que Deus não quer apenas que sejamos corretos — Ele quer que sejamos livres.

O Espírito não aprisiona. Ele não cobra perfeição, Ele sopra. Faz florescer em nós o que estava adormecido. Nos ajuda a confiar mais no mistério do que no controle. Nascer do Espírito é viver com os pés no chão e o coração no céu. É não entender tudo, mas se deixar levar. É ter a coragem de ser novo todos os dias.

Anselm Grüm diria que a fé não é um sistema fechado. É um espaço aberto, onde o Espírito nos ensina a respirar de novo. A sair dos lugares apertados. A não nos contentarmos com o “sempre foi assim”. A fé não nos encaixota, nos expande. Porque nascer do alto é abrir a alma como uma janela aberta no verão.

Jesus, naquela noite, não deu a Nicodemos uma lição. Deu-lhe uma chance. Um convite. Uma promessa. E hoje Ele faz o mesmo conosco. Ele nos diz: “Deixa o Espírito te renovar. Deixa o vento mexer nas tuas certezas. Não temas nascer de novo. O Reino começa quando você solta os remos e deixa Deus te conduzir.”

Então, respiremos fundo. E deixemos o Espírito soprar. Porque, quando Ele sopra, até o velho coração pode florescer. Amém.