
Homilia de hoje – Liturgia da Missa de 2ª-feira, 24/03/25
Homilia de hoje – 2ª-feira, 24/03/25
O Evangelho de hoje nos traz uma cena tensa, desconcertante, mas profundamente reveladora. Jesus, ao visitar sua cidade natal, Nazaré, entra na sinagoga e proclama palavras que, ao invés de provocar admiração ou gratidão, despertam fúria e rejeição. Por quê? Porque Ele ousa lembrar àqueles que se consideravam os escolhidos que Deus, em sua liberdade soberana, age como quer, com quem quer e onde quer.
Jesus cita dois exemplos do Antigo Testamento que soam como bofetadas no orgulho religioso do povo de Nazaré. No tempo de Elias, havia muitas viúvas em Israel, mas o profeta foi enviado à viúva de Sarepta, uma estrangeira. E no tempo de Eliseu, havia muitos leprosos entre os israelitas, mas quem foi curado foi Naamã, o sírio. O que Jesus quer dizer com isso? Que Deus não se limita às fronteiras do costume, do sangue ou da religião. Ele ultrapassa barreiras. Ele surpreende. Ele escolhe os corações abertos, mesmo que estejam fora da tradição.
Essas palavras, que deveriam ter causado alegria e abertura, provocam fúria. Os que estavam na sinagoga se sentem atacados. Como assim Deus favorece os de fora? Como assim Ele passa por cima dos “nossos”? É aqui que o orgulho religioso se revela. E esse orgulho é perigoso, porque faz o ser humano se fechar à graça.
Jesus, naquele momento, revela que o verdadeiro inimigo da fé não é a dúvida, mas a rigidez. Não é a fraqueza, mas a arrogância de achar que já se sabe tudo sobre Deus. E é por isso que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria. Porque o profeta, quando fala, mexe onde ninguém quer tocar. Ele denuncia as zonas de conforto. Ele quebra as falsas seguranças. Ele confronta.
E como reagimos quando somos confrontados? Rejeitamos, expulsamos, matamos? Ou ouvimos com humildade? O povo de Nazaré tentou matar Jesus. Queriam jogá-lo do monte. O mesmo Jesus que cresceu ali, que conheciam desde menino, agora lhes parecia insuportável. Porque a verdade, quando incomoda, pode gerar raiva em quem não quer mudar.
Mas Jesus não se detém. Ele passa pelo meio deles e continua seu caminho. Essa imagem é forte. Cristo nunca força ninguém a aceitá-lo. Ele se oferece. Ele propõe. Mas se é rejeitado, Ele segue em frente. E esse é o maior risco da nossa vida: rejeitar a visita do Senhor quando Ele passa por nós.
Hoje, somos convidados a refletir: como temos recebido a Palavra de Deus? Quando ela nos corrige, endurecemos o coração ou deixamos que ela nos transforme? Será que também não estamos acostumados demais com Jesus, a ponto de não mais nos surpreendermos com Ele?
Que a humildade abra nossos ouvidos e corações. Que não sejamos como os de Nazaré, que perderam a graça por orgulho. Mas que, ao contrário, acolhamos o Cristo que passa entre nós. Pois Ele ainda caminha. E ainda hoje, sua Palavra quer nos tocar, nos curar, nos salvar.