Homilia de hoje — Liturgia da Missa de 2ª-feira, 19/05/25

Homilia de hoje — Liturgia da Missa de 2ª-feira, 19/05/25

Amados irmãos em Cristo, hoje contemplamos um trecho belíssimo e denso do discurso de despedida de nosso Senhor. Palavras ditas na véspera de Sua entrega, não para semear medo, mas para plantar confiança. Palavras que ecoam no cenáculo, atravessam os séculos e chegam até nós, discípulos do tempo da Igreja: “O Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse.”

O Espírito Santo — que mistério! Não é um conceito, não é uma força impessoal, não é um sopro vago. É Pessoa, Amor Subsistente, é o laço eterno que une o Pai ao Filho. E Jesus promete que esse Amor será enviado. Não como visitante temporário, mas como morada permanente no coração de quem ama. O Espírito consola, ensina, anima, recorda — e isso, irmãos, tem implicações tremendas.

Vejam: Jesus não diz que o Espírito trará novas doutrinas, como se a revelação fosse incompleta. Pelo contrário: Ele virá recordar. Isso significa fazer presente, tornar atual, acender de novo no coração aquilo que já foi dito, mas que, pela poeira do tempo ou pelo cansaço da alma, muitas vezes esquecemos. O Espírito nos reconduz à memória viva de Cristo. Ele nos mantém conectados à Palavra viva. Ele é a ponte entre o que Jesus falou e o que a Igreja vive.

Mas há uma condição clara: “Quem me ama, guarda a minha palavra.” Não se trata de decorar versículos. Trata-se de viver enraizado no Evangelho, com docilidade e constância. O amor verdadeiro não se expressa em emoção passageira, mas em fidelidade concreta. O amor que acolhe a Palavra atrai a Trindade inteira: “Nós viremos e faremos nele a nossa morada.” Que grandiosidade! Deus habita em quem o ama. O cristão torna-se templo, sacrário vivo, lugar onde o céu toca a terra.

O Espírito nos ensina

No mundo de hoje, onde a memória é cada vez mais curta e o ruído das vozes confunde, precisamos suplicar a presença do Espírito. Sem Ele, a letra mata. Sem Ele, a doutrina vira peso. Mas com Ele, tudo ganha vida. O Evangelho se torna carne, a moral se transforma em liberdade, a oração em diálogo. É o Espírito que nos faz reconhecer Jesus nos pobres, nos doentes, nos abandonados. É Ele que ilumina as Escrituras, que sustenta nossa perseverança, que nos faz recordar quem somos: filhos no Filho.

E mais: o Espírito nos ensina. Ele não impõe — ensina. Isso significa que Ele respeita nosso tempo, nosso ritmo, nossas quedas. Mas não nos abandona. Vai educando o coração, vai refinando a consciência, vai purificando o desejo. O verdadeiro crescimento espiritual não se dá por esforço voluntarista, mas por docilidade ao Espírito que instrui no silêncio, corrige com firmeza e ama sem medida.

Portanto, irmãos, deixemos o Espírito agir. Ele nos ensinará tudo. Ele nos lembrará tudo. Mas para isso, precisamos amar. Precisamos guardar a Palavra. Precisamos parar de fugir da verdade e da cruz. O Espírito não é atalho. É caminho. Ele não simplifica a exigência do Evangelho, mas torna possível vivê-lo.

Peçamos hoje, com fé, o dom do Espírito. Que Ele nos faça recordar com a mente e com o coração. Que Ele nos ensine, não somente com ideias, mas com graça. E que nossa vida, marcada por amor operante e fé lúcida, se torne um sinal claro de que Cristo vive. Amém.