Carta ao Papa: Há um caos na Igreja, e o senhor é uma causa

Carta ao Papa: Há um caos na Igreja, e o senhor é uma causa

 

 

 

 

 

 

Carta ao Papa: Há um caos na Igreja, e o senhor é uma causa

 

 

Os críticos daqueles que tornaram públicas as suas objeções ao caos que este pontificado está a engendrar afirmam que só as “petições privadas” a um Papa rebelde é que são permitidas e que qualquer recurso à publicação é “escandaloso”.

 

 

Absurdo

Como o direito canónico reconhece, os fiéis “têm o direito e mesmo por vezes o dever, de manifestar aos sagrados Pastores a sua opinião acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja, e de a exporem aos restantes fiéis, salva a integridade da fé e dos costumes, a reverência devida aos Pastores…” Não há nenhuma exceção que isente os Papas das críticas públicas. Pelo contrário, ninguém está mais sujeito às necessidades e preocupações dos fiéis do que ele.

 

Além disso, este Papa demonstrou que é imune a súplicas privadas, e que nem sequer irá ter a cortesia de manifestar a sua receção. Francisco simplesmente ignorou as petições privadas de 800 mil fiéis, de 45 teólogos, dos quatro “cardeais dos dubia” e os 60 assinantes da Correctio filialis, para não mencionar numerosas outras petições privadas, todas elas implorando para reafirmar o ensinamento constante da Igreja sobre a inadmissibilidade de pessoas divorciadas “recasadas” aos sacramentos e o carácter sem exceção dos preceitos negativos da lei natural – ensinamentos que Francisco está evidentemente empenhado em subverter através de ambiguidades e piscadelas de olho e acenos de cabeça subministeriais.

 

 

 

A divulgação da carta

 

Agora, o teólogo talvez mais relevante até à data sentiu-se na obrigação de divulgar a sua própria súplica privada ao Papa que se recusa a responder. Sandro Magister publicou uma carta privada, enviada ao Papa no verão passado, por Thomas G. Weinandy, que foi nomeado membro da Comissão Teológica Internacional pelo próprio Papa Francisco. Ele foi também chefe do secretariado teológico da conferência episcopal dos EUA e ensinou em Oxford e na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. É portanto uma figura inequivocamente “convencional”[*].

 

Seguindo um sinal claro do Céu, aqui descrito, o Pe. Weinandy decidiu divulgar o conteúdo da sua carta ao Papa Francisco, onde lemos esta acusação a um Pontífice Romano assinada por um sujeito cuja lealdade ao ofício petrino é incontestável:

 

 

A carta do Pe. Weinandy

 

Sua Santidade, uma confusão crónica parece marcar o seu pontificado. A luz da fé, da esperança e do amor não está ausente, mas muitas vezes é obscurecida pela ambiguidade das suas palavras e ações. Isso promove entre os fiéis um crescente desconforto…

 

Em Amoris Laetitia, as suas indicações parecem às vezes intencionalmente ambíguas, convidando tanto a uma interpretação tradicional do ensinamento católico sobre o matrimónio e o divórcio, como também a uma interpretação que pode implicar uma mudança nesse ensinamento… Ensinar com uma tal falta de clareza aparentemente intencional incorre inevitavelmente no risco de pecar contra o Espírito Santo, o Espírito da verdade. O Espírito Santo é dado à Igreja, e particularmente a si mesmo, para dissipar o erro e não para promovê-lo.

 

[Sua Santidade] parece censurar e até mesmo zombar daqueles que interpretam o Capítulo 8 da Amoris Laetitia de acordo com a tradição da Igreja, como se fossem fariseus que atiram pedras e que encarnam um rigorismo vazio de misericórdia. Esse tipo de calúnia é estranho à natureza do ministério petrino… Esse comportamento dá a impressão de que os seus pontos de vista não podem sobreviver ao escrutínio teológico e, portanto, devem ser sustentados pelos argumentos ad hominem.

 

[M]uitas vezes a suas formas parecem menosprezar a importância da doutrina da Igreja. Uma e outra vez, retrata a doutrina como uma coisa morta e livresca, longe das preocupações pastorais da vida quotidiana. Os seus críticos foram acusados – utilizando as suas próprias palavras – de fazer da doutrina uma ideologia. Mas é precisamente a doutrina cristã… que liberta as pessoas das ideologias mundanas e assegura que eles estão efetivamente a pregar e a ensinar o Evangelho autêntico e vivo. Aqueles que desvalorizam as doutrinas da Igreja separam-se de Jesus, o autor da verdade… O que eles possuem, sendo que só isso podem possuir, é uma ideologia – que se conforma com o mundo do pecado e da morte.

 

Os fiéis católicos só podem estar desconcertados pela sua escolha de alguns bispos, homens que parecem não apenas abertos a quem tem opiniões contrárias à fé cristã, mas que até os apoiam e defendem. O que escandaliza os crentes e até alguns bispos não é apenas que designe tais homens para serem pastores da Igreja, mas que permaneça em silêncio perante o seu ensinamento e pratica pastoral… Como resultado, muitos dos fiéis que incorporam o sensus fidelium estão a perder confiança no seu Pastor Supremo.

 

[A] Igreja é um corpo, o corpo místico de Cristo, e o Senhor encarregou-lhe a si a missão de promover e fortalecer a sua unidade. Mas as suas ações e palavras muitas vezes parecem motivadas a fazer o contrário….

 

O senhor fala muitas vezes da necessidade de transparência dentro da Igreja. Encorajou frequentemente… todas as pessoas, especialmente os bispos, a falarem abertamente e sem medo do que o Papa possa pensar. Mas… o que muitos [bispos] aprenderam durante o seu pontificado não é que o senhor está aberto a críticas, mas que fica ressentido… Muitos temem que se falarem abertamente serão marginalizados ou pior.

 

Muitas vezes me perguntei: “Porque deixou Jesus tudo isto acontecer?” A única resposta que vem à mente é que Jesus quer manifestar quão fraca é a fé de muitos dentro da Igreja, mesmo entre muitos dos seus bispos. Ironicamente, o seu pontificado deu a liberdade e a confiança àqueles que detêm visões teológicas e pastorais prejudiciais para que viessem à luz e mostrassem a sua escuridão anteriormente escondida…

Quando um teólogo “convencional” com esta relevância autoriza a publicação de acusações tão graves contra um Romano Pontífice, isso deve afastar, pelo menos para o observador razoável, a alegação de que a oposição ao que o Papa Francisco diz e faz está confinada a uma parte marginal da Igreja de mentalidade “cismática”.

 

A intervenção de Weinandy, motivada por um sinal do céu, é nada menos que um marco na história da Igreja. Representa uma confirmação objetiva, se ainda fosse necessária, de que este pontificado representa um perigo claro e presente para a Fé e que os fiéis têm o dever de se opor às suas tendências absolutamente inéditas.

 

 

Desdobramentos

 

Imediatamente depois da publicação da carta, o Pe. Weinandy foi convidado a renunciar à sua atual posição como consultor para a Conferência de Bispos dos EUA [USCCB]. Ele assim o fez. Como o Catholic World Report, outra voz convencional de preocupação em relação a este pontificado, observou: “Ao fazer tal pedido, a USCCB, como parece, reforça precisamente o argumento de Weinandy sobre o medo e a falta de transparência.” Parece que, para o Papa Francisco, “misericórdia” significa a supressão imediata e implacável de qualquer relevante crítico ao seu assalto ao ensinamento dos seus predecessores, incluindo o próprio Papa que ele canonizou.

 

*O termo “convencional” foi traduzido de “mainstream”, que foi utilizado pelo autor deste artigo para exprimir a ideia de não associado a qualquer grupo ou tendência na Igreja.

 

A EDIÇÃO ORIGINAL DESTE TEXTO FOI PUBLICADA PELO FATIMA CENTER A 2 DE NOVEMBRO DE 2017. TRADUÇÃO: ODOGMADAFE.WORDPRESS.COM

 

A tradução integral da carta do Pe. ThomasWeinandy pode ser lida no blogue Fratres in Unum. Extraído de O dogma da fé.

 

 

 

 

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