A virtude da confiança nos tempos de confusão

A virtude da confiança nos tempos de confusão

 

Talvez a virtude mais necessária nos tempos de confusão seja a virtude sobrenatural da esperança, que eleva o nosso olhar para o Céu, no desejo de a obter. A esperança distancia-nos do ruído do mundo e, por assim dizer, verticaliza a nossa alma, comunicando-lhe um sentido do eterno que nos faz julgar do alto as coisas do mundo.

 

A forma mais perfeita de esperança é a confiança, ou confiança em Deus, que São Tomás define «spes roborata», «uma esperança fortificada por uma sólida convicção» (Summa Theologiæ, II-IIae, q. 129, art. 6 ad 3).     

 

A diferença entre esperança e confiança – afirma o Padre Thomas de Saint-Laurent (1879-1949) no seu famoso Livro da Confiança – não é de natureza, mas apenas de grau e de intensidade. «As luzes incertas da alva e aquelas deslumbrantes do sol ao meio-dia fazem parte do mesmo dia. Assim, a confiança e a esperança pertencem à mesma virtude: uma é apenas o pleno desenvolvimento da outra».

 

O Concílio de Trento ensina-nos que todos devemos depositar uma confiança inabalável em Deus (Canones et decretasessio VI, c. 13). Com esta virtude confiamos não só na omnipotência de Deus, mas no Seu amor por nós nas horas de confusão. A esperança, de facto, «não engana» (Rm 5, 5).       

 

Muitas almas pedem a graça da confiança a uma imagem venerada sob este título no Pontifício Seminário Romano. A história desta devoção está ligada à Serva de Deus Irmã Chiara Isabella Fornari, nascida em Roma, em 1697, clarissa e, mais tarde, Abadessa no Convento de São Francisco em Todi. Morreu a 9 de Dezembro de 1744, aos 47 anos de idade, em fama de santidade.

 

Teve graças místicas, visões e êxtases, entre os quais a participação na Paixão do Senhor.   

 

A Irmã Chiara Isabella Fornari tinha uma devoção especial por uma imagem oval representando a Virgem Maria com o Menino Jesus, que aponta para a sua Mãe com o braço esquerdo enquanto a abraça com o direito.

 

No Seminário Romano conserva-se um documento, escrito em pergaminho, em que se atribuem à Irmã Chiara Isabella estas palavras:

 

«A divina Senhora dignou-se conceder-me que cada alma que com confiança se apresentar a esta imagem, encontrará uma verdadeira contrição dos seus pecados com uma verdadeira dor e arrependimento e obterá do seu diviníssimo Filho um perdão geral de todos os pecados. Além disso, esta minha divina Senhora, com amor de verdadeira mãe, alegrou-se de me assegurar que a cada alma que olhar para esta sua Imagem lhe concederá uma particular ternura e devoção para com Ela»

 

(Mons. Roberto Masi, La Madonna della Fiducia, Tip. Sallustiana, Roma 1948, p. 29).     

 

O diretor espiritual da Irmã Claire era o padre jesuíta Giammaria Crivelli, da sede de Perugia do Santo Ofício, que também seguia outras duas místicas umbras: Santa Verónica Giuliani (1660-1727) e a clarissa capuchinha Irmã Maria Lanceata Morelli de Montecastrilli (1704-1762).

 

O Padre Crivelli foi curado de uma grave doença depois de rezar diante da imagem mariana e mandou fazer uma cópia, que levou consigo para o Colégio Romano dos Jesuítas, para onde se mudou.

 

O quadro permaneceu nas instalações do Colégio que, em 1774, após a supressão dos Jesuítas, foram ocupadas pelo Seminário Romano, fundado em 1565 em execução dos decretos do Concílio de Trento. Desde então, a história desta sagrada imagem tem estado ligada ao Seminário Romano.        

 

 

Quando, em 1837, eclodiu em Itália e nos Estados Pontifícios uma grave epidemia de cólera, os seminaristas, os superiores e os alunos do Seminário pediram a Nossa Senhora da Confiança, sob a forma de voto, protecção para si próprios e para os seus familiares mais próximos.

 

Todos foram poupados da doença e, para cumprir o voto, foi oferecida uma preciosa lâmpada, que ainda arde ininterruptamente diante da sagrada imagem.

 

No ano seguinte, duas coroas douradas foram solenemente impostas a Nossa Senhora da Confiança pelo Cardeal Carlo Odescalchi, Vigário-Geral de Gregório XVI. Tal aconteceu a 14 de Outubro de 1838, na residência de Verão do Seminário, a vila “La Pariola”, que tinha sido doada, em 1576, pelo Cardeal Ugo Boncompagni, futuro Papa Gregório XIII, à Companhia de Jesus como «casa para uso de veraneio».

 

A 20 de Outubro de 1863, a Pariola, da qual assumiu o nome o bairro de Parioli, que surgiu à sua volta, teve a honra de uma visita do Beato Pio IX, que concedeu perpetuamente a possibilidade de lucrar uma indulgência de 300 dias recitando a Ladainha Lauretana diante de Nossa Senhora da Confiança.

 

Em 1920, a vila foi comprada pelo Conde Ludovico Taverna, que em 1948 a cedeu aos Estados Unidos, que fizeram dela a residência do seu embaixador em Itália.

 

Na noite de 3 de Novembro de 1913, os jovens do Seminário Romano entraram no novo Palácio de Latrão. A Capela de Nossa Senhora de Confiança foi inaugurada, após um solene tríduo, a 6 de Janeiro de 1917, pelo Cardeal Oreste Giorgi, que também consagrou o novo altar.

 

Por ocasião da inauguração, foi cantado pela primeira vez o hino O Maria quant’è felice, composto pelo Maestro Raffaele Casimiri a partir de um texto do Padre Alfredo Ottaviani (o futuro Cardeal Prefeito do Santo Ofício). O Santo Padre Bento XV participou nas celebrações, indulgenciando a jaculatória Mater mea Fiducia mea.         

 

Durante a Primeira Guerra Mundial, o Seminário impetrou com um voto a salvação dos seus alunos, dos quais tinham sido alistados 111. Apenas um morreu, na véspera do armistício, e o voto, de acordo com a misteriosa vontade divina, foi cumprido, a 12 de Maio de 1920, com o adorno de uma preciosa auréola.  

 

A devoção a Nossa Senhora da Confiança foi estimulada por muitos santos Directores do Seminário Romano, tais como São Vicente Pallotti (1795-1850), o Servo de Deus Oreste Borgia (1840-1914) e o Servo de Deus Pier Carlo Landucci (1900-1986).

 

Mons. Landucci, Director Espiritual do Seminário de 1935 a 1942, é autor de textos de profunda espiritualidade, incluindo um livro sobre Maria Santíssima no Evangelho (Paoline, Roma 1954), que foi uma extraordinária homenagem a Nossa Senhora da Confiança, a cuja devoção tinha educado sete gerações de seminaristas.

 

Afirmava que todos os homens são chamados à santidade e se é pecado de desespero a falta de confiança na salvação da alma, falta contra a esperança também quem não visa a santidade heróica a que o Senhor certamente chama» (Formazione seminaristica moderna, Borla, Turim 1962, pp. 336-337). 

 

Na capela do Seminário Romano, o olhar materno de Nossa Senhora da Confiança ainda hoje infunde esperança e coragem a todos aqueles que não renunciam a procurar a santidade heróica que o Senhor exige de todos na escuridão do nosso tempo.   

 

FONTE: DIES IRAE / Roberto de Mattei